Meghan e Harry: os milhões do terramoto que chega hoje a Portugal

A polémica entrevista dos Duques de Sussex a Oprah Winfrey despertou o interesse em Portugal e vai ser exibida na SIC. Estes são os bastidores da compra e os milhões que a produção já gerou.
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Uma semana depois de Meghan Markle, de 39 anos, e do príncipe Harry, 36, terem dado a polémica entrevista que tem posto a casa real britânica a tremer devido a alegações de racismo, a recusa de ajuda psicológica diante de pensamentos suicidas e a ataques difamatórios, eis que a produção chega a Portugal. A entrevista de duas horas será exibida este domingo à noite, na SIC, às 23.15 horas, logo a seguir à estreia de um novo formato televisivo, o Hell"s Kitchen, com o chef Ljubomir Stanisic. Do outro lado da guerra televisiva está a TVI com Cristina Ferreira e o novo programa All Together Now, seguindo-se o confronto direto com o Big Brother Extra.

E se a tão falada entrevista conduzida por Oprah Winfrey antecipava grandes revelações sobre o processo de afastamento dos Duques de Sussex das funções seniores da família real, que ocorreu em janeiro de 2020 e foi reconfirmada em fevereiro de 2021, a chegada desta produção a Portugal não terá sido amor à primeira vista. Não se imaginavam à data, é certo, tantas e tão bombásticas revelações naquele que foi já considerado, por analistas da casa real britânica, um "ataque nuclear".

Ao que o DN apurou, a primeira grande entrevista do casal após ter-se mudado para o outro lado do Atlântico terá estado "a leilão em Portugal na última semana de fevereiro". Contudo, tendo em conta "as rígidas normas de programação" vindas de fora e o preço, não terá suscitado particular interesse juntos dos canais nacionais em sinal aberto.


O caso mudou esta semana de figura e a aquisição acabou por ser feita e anunciada esta quinta-feira, 11 de março, pela SIC. Os valores não são revelados ou confirmados, mas duas fontes conhecedoras dos processos de compras internacionais de direitos televisivos falam de um "valor base a rondar os 75 mil dólares" (63 mil euros) para um acordo que exige exibição "integral" e "em sinal aberto" e, muito provavelmente, "uma segunda transmissão" deste mesmo conteúdo.

E se é certo que produções desta natureza a leilão podem "triplicar o seu valor original" pelo conteúdo que comportam, também é verdade que o preço só disparará se houver disputa. Pelo que o DN pôde apurar junto de fontes das três estações, apenas a SIC, como se prova, confirma ter ido a jogo. RTP e TVI não o terão feito.

CitaçãocitacaoOs valores não são revelados, mas fontes conhecedoras dos processos de compras de direitos televisivos falam de um "valor base a rondar os 75 mil dólares" (63 mil euros) para um acordo de exibição "integral" e "em sinal aberto.


Em todo o caso, vários elementos revelam que um conteúdo desta natureza e desta importância "pode sempre rondar os 100 mil dólares", equiparando-o a uma cerimónia dos "Óscares - quando suscitavam extraordinário interesse em Portugal - ou a "um filme acabado de estrear". Porém, raramente estes produtos eram comprados à peça ou em leilão, pelo que vinham integrados "em pacotes com outros produtos televisivos ou de reserva de direitos de transmissão", refere quem conhece estes processos.


"Mesmo já conhecendo as polémicas da entrevista e ter isto excertos, vê-la na íntegra continua a ser relevante para o público", diz ao DN um antigo programador televisivo. "Haverá mais a saber e é interessante ver contextualizadas aquelas declarações", acrescenta. A mais polémica de todas coloca os duques a acusar um membro da família real de ter mostrado preocupação sobre o "quão escura" seria a pele de Archie, filho de Meghan e Harry. Tudo antes de o bebé nascer, em maio de 2019.

Uma alegação que levou a apresentadora Oprah Winfrey, de 67 anos, a esclarecer, a 8 de março, que nem a rainha Isabel II, nem o príncipe Filipe estavam em causa. No Reino Unido era, ao mesmo tempo, causada a primeira baixa. Tudo porque, no programa matutino da ITV, Good Morning Britain, o jornalista e apresentador Piers Morgan afirmou "não acreditar numa palavra" do que a duquesa dissera, acusando-a de ter feito um "massacre" à família real. Uma troca de palavras em estúdio, a saída antecipada do pivô e mais de 40 mil queixas contra o apresentador no regulador de media britânico, a ITV confirmava que "após conversações"com Morgan, "decidiu que era a altura de abandonar" o programa matinal que conduzia desde 2015, o que o canal "aceitou".

O Palácio de Buckingham garantiu que as alegações de racismo iriam ser "levadas muito a sério", investigadas internamente e que Meghan Markle, o príncipe Harry e Archie continuavam a ser membros "muito queridos" da família real. O príncipe William já só falaria no final desta semana, garantindo que a "família real não era racista". Mas as réplicas não pararam e agora a Commonwealth fala em divergências que estão emergir no seios desta associação de 54 países, a maioria ex-colónias britânicas, e da qual a rainha Isabel II tendo sido rosto e força motriz. O ex-primeiro-ministro australiano Malcolm Turnbull citou a a entrevista exibida na véspera do Dia da Commonwealth, como mais um motivo para o país romper os laços constitucionais com a monarquia britânica. "Após o fim do reinado da Rainha, é a hora de dizermos: "Quereremos mesmo ter quem quer que seja o chefe de Estado, o Rei ou Rainha do Reino Unido, automaticamente como nosso chefe de Estado?", disse à Australian Broadcasting Corp (ABC).

Recorde-se que, na entrevista em que o casal conta que espera uma menina, Meghan Markle revelou que teve pensamentos suicidas, que lhe foi negada ajuda profissional para não beliscar a imagem da família. O príncipe Harry declarou que o pai, o príncipe Carlos, deixou de lhe atender o telefone quando os Sussex decidiram afastar-se da família real e acusou a imprensa tabloide de ser "racista". Uma conversa bombástica em que os Windsor foram referidos como a "A Firma" que tem vindo "a perpetuar falsidades" sobre os duques, uma expressão que alude a um filme de ação judicial que retratrava uma organização fantasma, sob a capa de uma entidade jurídica, que escondia crime.

A BBC Two está a preparar um documentário explosivo de dois episódios de uma hora cada sobre a relação dos Sussex e dos Cambridge, Kate e William, com os media britânicos, comparando-os.


As contas ainda estão a ser feitas não só porque os direitos de transmissão da entrevista de Oprah Winfrey aos Duques de Sussex ainda está a ser comercializada com alguns países, como há margem para reexibições do mesmo formato. No entanto, os milhões de audiências e de euros são já impressionantes.
Num formato em que se explicou desde o início que Meghan Markle e o príncipe Harry não foram pagos para dar esta entrevista, estima-se que o canal norte-americano CBS terá entregue à Harpo, produtora de Oprah Winfrey, entre sete a nove milhões de dólares (5,8 a 7,5 milhões de euros) pela transmissão exclusiva. Um valor definido para cerca de duas horas de emissão em horário nobre e alguns excertos detalhados e cirurgicamente escolhidos para serem exibidos na manhã seguinte à transmissão da conversa única.
Mas o que faturou a estação? Segundo dados avançados pela imprensa norte-americana, a CBS teria exibido mais de 50 anúncios distribuídos antes, durante e no fim da entrevista a valerem cada um, segundo notaram as agências de meios, entre 250 a 350 mil dólares (172 e 272 mil euros). As contas foram feitas estimando um encaixe global de 20 milhões de dólares (16,7 milhões de euros) para a estação, ou seja, mais do dobro do que investiu.
Montantes que não foram confirmados pela CBS, que prefere trazer à luz outros números. O CEO do grupo para a área do entretenimento, George Cheeks, referiu que o conteúdo televisivo foi recordista em 2020-2021, tendo sido visto por 17,8 milhões de espectadores (quase duas vezes a população portuguesa), contagiando audiências para manhã seguinte, 8 de março, onde a entrevista acabou por ser minuciosamente analisada.

E como as contas não são apenas feitas na TV, fora dela a CBS conseguiu estar no primeiro lugar da appstore com a nova aplicação on demand. Um lastro que se estendeu à bolsa. Se na segunda, 8, as acções da ViacomCBS valorizaram 12%. Na sexta-feira, 12, mantendo a tendência e com a promessa de reexibição da entrevista, a subida estava nos 23%.

A estação britânica ITV pagou um milhão de libras (um milhão e 160 mil euros) pelos direitos de transmissão exclusiva da polémica entrevista logo no dia seguinte, a 8 de março. Porém, um auditório de 12,8 milhões (cerca de 1/5 da população britânica) redefiniu em alta contratos com anunciantes e entradas em novos formatos que iriam acompanhar, sob todos os pontos de vista, as réplicas deste terramoto real.

É exatamente nesse modelo que a Antena3 espanhola está apostada em investir. Programada para sábado, 13 de março, a transmissão da entrevista estava marcada para o início da noite, aproveitando a tarde para lançar o tema com os vários documentários já existentes sobre o casal.

Ao todo, a entrevista já foi vendida para mais de 70 territórios, da Austrália à Noruega, da África subsariana ao Canadá, países integrantes da Commonwealth e não só.

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