Medo, cultura e religião impedem idosos de fazer queixa
"À margem de um seminário subordinado ao tema "Violência Doméstica nos Idosos" - organizado pelo Conselho Local de Acção Social do Porto, com o apoio da Câmara do Porto e da Fundação Porto Social e em parceria com a Universidade Lusófona do Porto - Alcina Manuela de Oliveira Martins alertou que, apesar de não haver estatísticas, os números da violência sobre idosos "são altíssimos". Questionada sobre o motivo pelo qual essa estatística não existe, a vice-reitora da Universidade Lusófona do Porto explicou que "hoje em dia, a violência doméstica é um crime que esta geração já assume como tal e vai queixar-se ao Instituto de Medicina Legal ou à PSP e os números aparecem".
"Os idosos não. Alguns deles nem sabem que isto é violência doméstica e, se falarmos da faixa etária dos 70 anos, as pessoas por norma não têm mais do que a quarta classe e de literacia muito restrita, pelo que se deixam assustar", disse. Segundo Alcina Manuela de Oliveira Martins, "o medo, cultura, formação e religião são alguns dos factores que condicionam a ausência de queixa", sendo também as questões económicas uma influência para que os idosos não denunciem estas situações. "Na escola devemos falar da violência doméstica, explicar o que é e explicar às crianças que temos que respeitar os mais velhos, que temos que os amar", disse, defendendo a necessidade da criação de uma associação para apoiar os idosos nesta temática.
Segundo a especialista, "a intenção é que haja um grupo de pessoas que dinamizem, consigam chegar à população mais idosa, mais iletrada para perceber que fazendo queixa, havendo um acompanhamento é possível ajudar para que esta sociedade não seja violenta". "É preciso ter cuidado porque violência gera sempre violência e - a não ser por casos patológicos - ninguém é violento por acaso. Portanto, às vezes, alguns dos idosos estão a sofrer consequências daquilo que foram no passado. Ninguém nasce violento portanto ninguém tem direito a morrer violentado", declarou. Num painel do seminário sobre o circuito da vítima, o subcomissário da PSP Marco Almeida anunciou que sexta-feira a Santa Casa da Misericórdia e a PSP do Porto vão assinar um protocolo, no âmbito do programa "Chave de Afetos", devido às situações de isolamento dos idosos. O subcomissário alertou ainda para a importância de comunicar todas as situações de violência à polícia para que elas fiquem registadas, já que este tipo de crimes - mais de metade - costumam ser por repetição e se ficar registado as entidades têm o histórico.