Médico falso choca ao realizar várias cirurgias com sucesso

Jovem fingiu ter formação em medicina e trabalhou num hospital público, onde foi promovido a superintendente
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Um médico falso realizou nove cirurgias num hospital em Kapsabet, no condado de Nandi, no Quénia, e para surpresa dos responsáveis do ministério da Saúde queniano, que investigaram o caso, oito das cirurgias foram bem-sucedidas.

Ronald Melly, de 28 anos, é o homem que está a deixar o Quénia de boca aberta, pela proeza das suas ações. Nos últimos meses, este falso médico realizou várias cirurgias e partos e grande parte deles com sucesso.

A única paciente que morreu nas mãos de Melly era uma mulher grávida que sofria de complicações graves e, ainda assim, o falso médico e a sua equipa conseguiram salvar a criança, conforme um relatório produzido pelo ministério da Saúde.

Segundo o jornal local Daily Nation, o falso médico chegou a ser promovido em outubro a superintendente do hospital distrital de Nandi, em Meteitei, antes de ser descoberta a fraude.

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O jovem foi detido este mês e a polícia acredita que ele conseguiu chegar tão longe porque está "bem relacionado". As autoridades disseram que Melly não terminou a formação na Universidade de Nairobi, apesar de ter dito que o fez em 2014, mas ainda assim conseguiu começar a trabalhar como médico num hospital público em abril.

Segundo as normas, as universidades devem mandar uma lista dos recém-formados para o ministério da Saúde, que depois os coloca em hospitais do país.

O caso apenas foi descoberto pois alguns médicos colegas de Melly sentiram que o jovem não estava "devidamente preparado" para exercer a profissão e fizeram denúncias anónimas. Alguns deles argumentaram ainda que não tinham visto Melly "nas aulas enquanto estavam na universidade".

Quando confrontado pela polícia, o médico falso não conseguiu dizer o nome de nenhum colega, nem de nenhuma disciplina do curso de medicina.

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O caso está a ter grandes repercussões no país pois levou muitos a questionarem a capacidade de supervisão do governo. O governador do condado de Nandi, Cleophas Lagat, afirmou que o hospital do distrito apenas recebia os médicos mandados pelo ministério da Saúde, enquanto no ministério os responsáveis detetaram uma série de documentos falsos e outros tantos perdidos.

Melly apresentou um certificado de conclusão do estágio, e logo da formação, assinado por Joel Marwa, chefe dos serviços médicos do Hospital Adventista Kendu.

Questionado pelo ministério, Marwa afirmou que escreveu um certificado sim, mas em que dizia que Ronald Melly devia "repetir o estágio pois não estava qualificado para avançar" porque faltava várias vezes ao estágio.

"Uma semana antes do fim do estágio, o escritório onde ficam guardadas as cartas timbradas foi invadido e suspeitámos que Melly e outros roubaram-nas e escreveram a si próprios certificados de conclusão", afirmou Marwa.

"É inacreditável como ele conseguiu fazer tudo isto", disse ao Daily Nation a responsável pelo departamento de garantia de qualidade e normas do ministério da saúde. "O mais estranho é que não conseguimos encontrar o primeiro certificado que ele nos mandou e que começou todo este processo", continuou Pacifica Onyancha.

A família de Melly disse que não sabia o que o jovem andava a fazer, pois achavam que ele trabalhava num escritório. "Já que ele está tão empenhado em ser médico, o governo que pague a sua formação", sugeriu o tio do jovem.

Entretanto, alguns dos pacientes atendidos por Melly têm vindo a público. Beatrice Telwa, de 51 anos, contou que foi operada ao útero pelo médico falso no mês passado e que o jovem parecia mais preocupado com o dinheiro do que com o seu estado. O médico exigiu 12 mil xelins, o equivalente a 110 euros, pela cirurgia e a família da paciente viu-se obrigada a vender alguns dos animais que cria para pagar.

"A pior parte é que Melly costumava ir à enfermaria exigir o resto do pagamento e não perguntava como eu estava", contou a Beatrice Telwa ao All Africa. Ainda assim, a mulher tem dificuldades em acreditar que Melly não era médico porque ele era muito respeitado na zona.

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As autoridades de saúde dizem que Melly muitas vezes cobrava mais do que o preço das operações e não registava os pagamentos nas contas do hospital.

Na sequência da descoberta desta fraude, o governo regional de Nandi vai realizar uma auditoria aos 800 trabalhadores de saúde do condado.

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