Médico defende que Fernando Mendes ganha em continuar a ser tratado na prisão
O grave problema oncológico que afeta o ex-líder da Juventude Leonina Fernando Mendes foi descoberto num exame efetuado em maio deste ano pelos serviços prisionais. Foram os resultados dessas análises que levaram os médicos da Direção-geral de Reinserção e Serviços Prisionais a levar este arguido no processo do ataque à Academia do Sporting em Alcochete - a 15 de maio do ano passado - de urgência ao Hospital dos Capuchos onde foi confirmada a gravidade da sua situação clínica e inclusivamente marcados quatro dias de tratamentos, o último dos quais será esta sexta-feira, dia 28.
Uma rápida resposta que permite a um dos clínicos da DGRSP defender que o facto de estar detido não impede Fernando Mendes de ter os melhores cuidados de saúde, o que poderia não acontecer se estivesse em liberdade e não fosse ao médico. Tese que quase surge como resposta ao pedido da procuradora Cândida Vilar, a qual requereu a 24 de maio a saída em liberdade de Mendes devido ao problema de saúde para poder receber melhores tratamentos no Serviço Nacional de Saúde.
Num relatório que está junto ao processo, e que o DN consultou, um dos clínicos do quadro da direção-geral explica que o antigo líder da Juve Leo - e um dos 44 acusados na investigação aos acontecimento de maio de 2018, sendo um dos 36 que está em prisão preventiva - não apresentava queixas quando deu entrada no Hospital Prisional S. João de Deus, em Caxias, e que tinha sido internado por lhe ter sido detetada uma "anemia por esclarecer".
Foi depois submetido a várias análises cujos resultados colocaram a hipótese de ter um problema oncológico grave e aí a sua ida de urgência à "consulta de hematologia do Hospital dos Capuchos, onde compareceu a 6 de maio (18 dias após o internamento neste hospital), tendo efetuado biópsia da medula óssea", explica o médico que assina o documento. E foi o resultado desse exame que confirmou a doença de Fernando Mendes e que levou mesmo a Juve Leo a fazer um apelo na rede social Facebook a alertar para o facto de o antigo líder necessitar de um transplante de medula óssea e a pedir para que os adeptos fizessem testes para saber se podiam ser dadores.
No documento o - o juiz de instrução criminal do Barreiro Carlos Delca pediu também ao Hospital dos Capuchos um relatório idêntico que ainda não foi entregue -, o clínico cita uma parte do acórdão de Cândida Vilar para elogiar os serviços prisionais.
"[...]"não posso deixar de informar a Digna Magistrada que ao referir douto despacho que "é urgente providenciar pelo tratamento do arguido em unidade hospitalar do Serviço Nacional de Saúde, alegando que os internamentos prolongados e a assistência médica de que necessita, se não compadecem com o quadro clínico mais reduzido e que não seja especializado em determinado tipo de tratamentos, o que acontece no hospital prisional onde o arguido se encontra", que o Fernando Adrião Augusto Barata [Fernando Mendes] tem feito e fará todos os tratamentos e exames necessários à sua situação clínica, deslocando-se sempre que necessário ao Hospital do Serviço Nacional de saúde enquanto aqui estiver detido".
Diz mesmo que os "serviços clínicos da Direção Geral de Reinserção e Serviços Prisionais e em particular o seu Hospital Prisional dão, em muitos casos, uma resposta mais célere aos seus utentes que o referido Serviço Nacional de Saúde; a prová-lo está este caso clínico, no qual o diagnóstico foi precocemente efetuado em contexto prisional em poucas semanas".
E conclui com a possibilidade de o arguido poder ter enfrentado problemas caso estivesse em liberdade e quisesse fazer análises: "Provavelmente, se o Fernando Barata estivesse em liberdade não teria efetuado exames visto não apresentar qualquer queixa ou sintoma e se precisasse, ainda hoje estaria à espera de consulta do Médico de Família que provavelmente seria efetuada tarde de mais."
O magistrado - que agendou para a próxima terça-feira o primeiro dia da fase de instrução do processo, início já adiado por duas vezes - pediu agora ao Ministério Público para se pronunciar.
Enquanto isto, Fernando Mendes continua detido preventivamente e a aguardar uma decisão sobre se continua a cumprir a medida de coação de prisão preventiva que lhe foi decretada a 8 de junho de 2018. A advogada do antigo responsável pela principal claque do Sporting, Sandra Cristina Martins, requereu no passado dia 14 a ida para casa do seu cliente. No documento que entregou no tribunal alega que doença é grave, "que pode ser acompanhada, mas não curada" e que Mendes necessita de "alimentação rica e regular e um espaço arejado e higienizado - condições que o hospital prisão não tem mas que ele tem na habitação".
A menos de uma semana da data marcada para o início, pela terceira vez, da fase de instrução (dia 2 de junho), o juiz do tribunal do Barreiro Carlos Delca decidiu autorizar a alteração da situação de dois detidos: João Quaresma Gomes e Miguel Ferrão. Desde esta quinta-feira os dois vão passar da situação de detidos preventivamente na prisão para ficarem detidos em casa com pulseira eletrónica. Junta-se assim a Celso Cordeiro que passou para prisão domiciliária no início de maio.
Os argumentos apresentados para a decisão - no primeiro caso pedido pelo advogado, no segundo pelo Ministério Público - são os mesmos: já não há perigo de perturbação da ordem e tranquilidade pública, nem de continuação da atividade criminosa.
Assim, neste momento dos 38 acusados pelos crimes de ameaça agravada, ofensa à atividade física qualificada, sequestro (classificado pela acusação como terrorismo), danos com violência, detenção de arma proibida e de introdução em lugar vedado ao público, três passaram a cumprir a medida de coação de obrigação de permanência em casa com vigilância eletrónica. Há ainda alguns arguidos acusados de crimes de tráfico de droga.
A acusação envolveu ainda o antigo presidente do Sporting Bruno de Carvalho, Nuno Mendes (o atual líder da Juve Leo mais conhecido como Mustafá) e Bruno Leandro como autores morais dos seguintes crimes ameaça agravada (40); ofensa à integridade física qualificada (19); sequestro, com a classificação de terrorismo (38); detenção de arma proibida agravada (um).
Deste trio Mustafá foi, entretanto, colocado em prisão preventiva pelo Tribunal da Relação de Lisboa. Há ainda dois arguidos que aguardam em liberdade a marcação do julgamento.