A ideia de poder haver uma simples cápsula para tratar o coronavírus tem sido um objetivo desde o início da pandemia e o anúncio desta sexta-feira da farmacêutica MSD (que nos EUA se chama Merck) foi saudado como um grande passo em direção a esse objetivo.."Com estes resultados convincentes, estamos otimistas de que o molnupiravir pode tornar-se um medicamento importante como parte do esforço global para combater a pandemia", disse Robert Davis, CEO e presidente da empresa, em comunicado..Peter Horby, professor de doenças infecciosas emergentes da Universidade de Oxford, considerou à Agência France Presse (AFP) que os resultados provisórios são "muito encorajadores". E acrescentou: "Um antiviral oral seguro, acessível e eficaz seria um grande avanço na luta contra a Covid.".Mas os especialistas também alertam que gostariam de ver os dados completos relativos aos ensaios clínicos da MSD e enfatizaram que, se eventualmente aprovado, o medicamento deve ser um complemento para as vacinas altamente eficazes, e não um substituto..Num ensaio clínico de estágio final, a MSD e seu parceiro Ridgeback Therapeutics avaliaram dados de 775 pacientes - cerca de metade dos quais recebeu o medicamento ao longo de cinco dias, enquanto o outro recebeu um placebo..Todos os pacientes tinham Covid-19 confirmado em laboratório, com sintomas que se desenvolveram no espaço de cinco dias após serem distribuídos pelos respetivos grupos..Dos doentes que receberam molnupiravir, apenas 7,3 % estavam hospitalizados ao 29.º dia após a infeção, em comparação com 14,1 por cento daqueles que receberam placebo - uma redução do risco relativo de cerca de 50 por cento..Também houve oito mortes no grupo do placebo, enquanto nenhuma morte foi registada entre os doentes que receberam o medicamento. A MSD anunciou também que a eficácia do molnupiravir resistia às variantes mais preocupantes, incluindo a Delta, e que o medicamento tem um bom perfil de segurança..A MSD disse que planeia enviar um pedido de Autorização de Uso de Emergência (EUA) à FDA, entidade reguladora norte-americana, o mais rápido possível, com base nos dados obtidos, assim como a outros reguladores em todo o mundo..A reação da comunidade médica foi favorável, embora com cautelas. "Este não é um substituto para a vacinação. Não é uma cura milagrosa, mas uma ferramenta complementar", afirmou Peter Hotez, diretor do Texas Children's Hospital..Hotez também alertou que, se o medicamento for usado de forma descuidada, a população pode acabar por desenvolver resistência ao medicamento. "Se for usado indiscriminadamente, pode ser um problema com os medicamentos antivirais"..Os especialistas realçam ainda que seria crucial administrar o medicamento precocemente e, uma vez que nem sempre está claro quem está em risco de desenvolver doenças graves, teria maior impacto se fosse barato o suficiente para ser distribuído amplamente..O molnupiravir pertence a uma classe de medicamentos antivirais chamados de "inibidores da polimerase", que atuam tendo por alvo uma enzima de que os vírus precisam para copiar o seu material genético e introduzindo aí mutações que os tornam incapazes de se replicar..Espera-se por isso que estes medicamentos sejam mais à prova de diferentes variantes do que os tratamentos com anticorpos monoclonais, que têm como alvo uma proteína de superfície do vírus que está em evolução contínua..O fármaco da MSD foi inicialmente desenvolvido como um inibidor do vírus influenza e do vírus sincicial respiratório, duas outras infeções respiratórias agudas importantes. "Se for comprovado que é muito seguro e eficaz, então pode ser usado amplamente, independentemente do diagnóstico, para tratar e prevenir infeções respiratórias múltiplas", disse Daria Hazuda, diretor científico da MSD.