"As tunisinas são exemplo para as mulheres árabes"
Como se sente por ser uma das laureadas do Prémio Norte-Sul do Conselho da Europa?
Estou orgulhosa porque represento o meu país, a Tunísia. A Tunísia merece este prémio. Obrigada ao vós, ao vosso país e ao Centro Norte-Sul por esta confiança.
Uma das razões da sua distinção é pelo seu trabalho por uma transição pacífica na Tunísia, o único país onde a Primavera Árabe vingou. Como se encontra a situação no seu país?
A situação agora é muito normal, é muito boa, também. Ultrapassou os problemas e agora estamos focados no futuro para realizar os objetivos da revolução e, sobretudo, os objetivos económicos. Temos apenas um desafio, que é o desafio económico, para melhorar a situação do nosso país.
Outro dos motivos para a sua distinção é o seu trabalho pelos direitos das mulheres. Que trabalho é este? Como vê a situação das mulheres no seu país?
A situação das mulheres no nosso país não tem comparação, não há comparação entre a mulher tunisina e a mulher árabe ou a mulher africana. As mulheres tunisinas representam um exemplo para as mulheres árabes. Adquirimos muitos direitos, sobretudo a poligamia, que existe nos países árabes, e que é proibida na Tunísia desde 1956. A mulher está nos papéis principais da vida política e da sociedade civil, um terço dos membros da Assembleia Geral são mulheres, existem ministras e embaixadoras, como a senhora Saloua Bahri [a embaixadora da Tunísia em Portugal], há mulheres nas Forças Armadas, a mulher tunisina impôs-se em todas as áreas.
Qual é o seu trabalho nesta área dos direitos das mulheres?
O meu trabalho diz respeito à mulher rural, sobretudo a mulher rural que tem necessidade de apoio para melhorar a sua vida, principalmente a nível económico. Trabalho sobre a participação da mulher na vida política, porque a mulher tunisina pode fazer melhor, apesar de participar na vida política, social, cultural e desportiva ela pode fazer melhor. Ela tem capacidades enormes.
O seu marido, Mohamed Brahmi, foi assassinado em 2013 por um grupo radical islamita. Isso moldou a forma como vê o terrorismo e grupos como o Estado Islâmico?
O assassínio do meu marido, apesar de ter tocado a minha família e os meus sentimentos, é um crime que tocou todo o país porque ele era um membro da Assembleia Geral. Ele não foi morto porque era Mohamed Brahmi ou porque era meu marido, ele foi morto porque tinha opiniões e ele militava contra esse grupo terrorista, foi por isso que ele foi assassinado. A minha opinião no que diz respeito a grupos como o Daesh é a mesma, eles são criminosos, antes de 2013 e depois de 2013. Mas agora a situação mudou para melhor na Tunísia. Estes incidentes, apesar de me tocarem sempre, pertencem ao passado. Pro-curamos um futuro melhor para a Tunísia e para os nossos filhos e para os jovens da Tunísia. É outro desafio: lutar pelo país e, ao mesmo tempo, lutar contra os grupos terroristas.
Como está a situação da luta contra o terrorismo na Tunísia?
Está quase a tornar-se uma coisa do passado, os ministérios do Interior e da Defesa têm tido um sucesso enorme. Existiram muitos incidentes, mas estamos perto de uma vitória contra o terrorismo.
Com a morte do seu marido resolveu candidatar-se ao lugar dele no Parlamento. Porquê?
Porque era um desafio para mim, ele deixou o seu lugar, é tudo.
Já se arrependeu dessa decisão?
Nunca.
Quais são os seus desejos para o futuro da Tunísia?
É o meu país, espero o melhor para o meu país, espero a vitória, porque um dos objetivos do governo, e do povo também, é o desafio económico. Há problemas que já foram resolvidos, mas temos, sobretudo, o desafio económico, no qual espero que a Europa ajude os tunisinos.