Matthew destrói Haiti e obriga a adiar eleições presidenciais
Um furacão Matthew já bem mais calmo assolou ontem mais dois estados norte-americanos, depois de causar quatro mortos na Florida, no sudeste do país, e 877 no Haiti. Esta calamidade natural levou a mais um adiamento das eleições presidenciais haitianas, inicialmente agendadas para hoje e ainda sem nova data marcada.
Com ventos abaixo dos 135 quilómetros por hora, o que o transformou num furacão de categoria 1, a mais baixa da escala Saffir-Simpson, o Matthew chegou à Carolina do Sul e Georgia. Os avisos do Centro Nacional norte-americano de Furacões apontavam como o principal perigo chuvas torrenciais e o aumento do nível do mar e ondas altas, que poderiam inundar zonas na costa da Carolina do Sul.
As autoridades deste estado deram ordem de retirada a milhares de pessoas, alojando-as em locais como escolas primárias e ginásios.
Pelo menos quatro mortes na Florida foram atribuídas ao Matthew, que deixou ainda sem eletricidade 1,5 milhões de lares no sudeste dos Estados Unidos. As ruas em Jackson Beach, na Florida, estavam cheias de pedaços de madeira, incluindo o que restava de um pontão histórico, que flutuavam em cerca de 15 centímetros de água. Em Charleston, na Carolina do Sul, as ruas estavam também alagadas, com a água a esconder os pneus dos carros.
Mas este cenário está bem longe da destruição causada pelo Matthew no Haiti, onde o mais recente balanço aponta para 877 mortos. Este número deverá ser mais elevado, devido à falta de informação sobre as zonas mais remotas do país. Segundo trabalhadores humanitários que estão no Haiti, ouvidos pela BBC, partes do sul do país "estão completamente destruídas".
Este furacão chegou ao Haiti na terça-feira com ventos de cerca de 233 quilómetros por hora e chuvas torrenciais. Cerca de 61 mil pessoas foram alojadas em abrigos, depois de o mar ter avançado sobre vilas costeiras. A organização Médicos Sem Fronteiras transferiu inúmeras de pessoas de helicóptero para evitar um aumento de casos de cólera, mas avisou que poderá haver um surto desta doença, que não existia no país até à chegada dos capacetes azuis das Nações Unidas em 2010, após o sismo.
A ONU já anunciou a criação de um fundo de emergência de 5 milhões de dólares (cerca de 4,4 milhões de euros) para cobrir as necessidades mais urgentes do Haiti, enquanto foi dada também à UNICEF uma linha de crédito de 8 milhões de dólares (cerca de 7,1 milhões de euros) para fazer face à epidemia de cólera.
A passagem do Matthew pelo Haiti teve também consequências políticas, com o adiamento das presidenciais marcadas para hoje. Uma alteração que não é inédita.
A primeira volta destas presidenciais teve lugar a 25 de janeiro de 2015, com a oposição e grupos de direitos humanos a denunciarem a existência de fraude eleitoral. Mesmo assim, a segunda volta foi marcada para 27 de dezembro, mas acabou adiada para janeiro deste ano.
O que nunca veio a acontecer, levando a protestos. A 7 de fevereiro, o presidente Michel Martelly terminou o mandato sem o seu sucessor estar escolhido. O então líder do Senado, Jocelerme Privert, assumiu, interinamente, a presidência do país. E novas eleições foram marcadas para 24 de abril. Que também não se realizaram.
A 15 de junho, depois de terminados os 120 dias de mandato interino de Privert, a ONU apelou à marcação de nova ida às urnas, tendo-se acabado por escolher o dia de hoje. Quarta-feira, a comissão eleitoral poderá anunciar a próxima data.
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