Uma biografia do príncipe Filipe, duque de Edimburgo, acaba de ser posta à venda no Reino Unido. Ingrid Seward, autora já com vasto currículo de livros sobre a família real britânica, optou pelo título Prince Philip Revealed: A Man of His Century..Certamente que a biografia destaca, além das peripécias do longuíssimo casamento com Isabel II, a origem aristocrática de Filipe, nascido em 1921 na ilha grega de Corfu e pertencente tanto à família real helénica como à dinamarquesa. Ainda criança, teve de abandonar o país natal, na sequência da deposição do seu tio, o rei Constantino I. Com ligações familiares à Grã-Bretanha, acabou por se alistar na Marinha do país depois de ter vivido e estudado na Alemanhae na França. Durante a Segunda Guerra Mundial, já naturalizado britânico, participou no esforço de guerra dos Aliados tanto no Mediterrâneo contra os nazis como no Pacífico contra o império japonês, e entre as várias batalhas em que esteve envolvido destacam-se a de Creta e a de Okinawa. Em 1947 casou-se com a princesa Isabel, herdeira do trono, e em 1952, quando a mulher se tornou rainha, passou a ser o monarca consorte e, passados 68 anos, é o mais duradouro da história britânica..Além de ter sido pai de Carlos (que aos 71 anos espera ainda pelo trono), Ana, André e Eduardo, os quatro filhos de Isabel II, calcula-se que Filipe, até anunciar a sua retirada oficial, aos 96 anos, tenha estado por si só, em representação da rainha, nuns bons milhares de ocasiões, não só no Reino Unido como mundo fora, Portugal incluído (depois de uma primeira vez em 1957 com a rainha, em 1973 veio celebrar os 600 anos de aliança). O casamento obrigou-o também a trocar a Igreja Ortodoxa, na qual foi batizado, pelo anglicanismo e a assumir como nome de família Mountbatten, o dos seus avós maternos.."No que diz respeito ao príncipe Filipe, acho que é incrível ele já ter 99 anos. Na minha opinião, tem sido um marido exemplar e leal à rainha, o que não deve ter sido sempre fácil, dado ser ela o centro das atenções. Teve várias responsabilidades a seu cargo. Por exemplo, foi comandante honorário dos regimentos das Forças Armadas e o patron de várias organizações. Sendo um defensor dos valores saudáveis e das atividades ao ar livre para a geração jovem, a sua obra magna foi a fundação do Duke of Edinburgh Award, um programa de aquisição de competências com vista ao cumprimento de uma série de provas com três níveis de dificuldade, que também existe em Portugal sobre a denominação de Prémio D. Infante Henrique", afirma Mark Crathorne, inglês que vive em Portugal desde 1989 e é atualmente vice-presidente da The British Historical Society of Portugal..Quando se casaram, Isabel tinha 21 anos e Filipe 26, e já se conheciam há algum tempo, pois são primos, ambos descendentes da rainha Vitória de Inglaterra. Os biógrafos costumam destacar tanto a personalidade forte do príncipe grego como, apesar de algumas hesitações e dúvidas sobre o papel a desempenhar, a sua forte ligação com a princesa que se tornou rainha ainda muito jovem..Marinheiro, cavaleiro, aviador, Filipe sempre foi um homem de ação, nem sempre confortável com o apagamento que a sua condição de marido da monarca obrigava. E pouco a pouco a sua descontração em certas situações oficiais e semioficiais foi ganhando fama como acumulação gafes, a ponto de a BBC, talvez a segunda instituição mais respeitada do país depois da própria família real, ter chegado a elencar as melhores: "É mesmo uma mulher?", perguntou a uma queniana que lhe tinha oferecido um pequeno presente; e um dia na Escócia questionou um instrutor de condução sobre "como é que conseguia afastar os alunos da bebedeira o tempo suficiente para fazerem o exame"; nas ilhas Caimão perguntou a um milionário local se não "descendia de piratas"; e que dizer do modo desastrado como afirmou a um jovem britânico de 13 anos que sonhava ser astronauta que era "demasiado gordo para tal"?.João Magueijo, cientista português que ensina Física Teórica no Imperial College em Londres, mostra-se pouco tolerante com esse lado menos politicamente correto do duque de Edimburgo; "Ouvi primeiro falar do marido da rainha pelas suas famosas gafes racistas, que no fundo apenas vocalizam aquilo que muitos ingleses pensam mas não dizem. Há quem lhes ache graça, pena depois revelar total falta de poder de encaixe com o humor recíproco, como naquela vez em que a grande comediante Mandy Knight, estando a rainha-mãe no hospital com algo entalado na garganta, sugeriu num stand-up comedy que era devido 'a um pentelho de um corgi [cão real]'. De repente reparei que entre uma audiência maioritariamente de bifes, eu era o único que se estava a rir. O humor tem destas coisas. Se calhar o príncipe Filipe achava graça, não sei.".Uma das novidades contidas na recente biografia seria a incompreensão do marido de Isabel II pela decisão do seu neto Harry e da mulher, a atriz americana Meghan Markle, de desistirem do estatuto real e preferirem viver nos Estados Unidos. Quem o tem contado são os tabloides britânicos, que tiveram acesso às páginas escritas por Seward, também autora de William and Harry: Brothers in Arms, livro dedicado aos filhos de Carlos, príncipe de Gales, e da falecida princesa Diana..Talvez o príncipe Filipe, que tanto teve de apagar da sua personalidade para ser o marido da rainha, não perceba como é que o neto, sexto na linha de sucessão, vira costas aos deveres reais. Estar ao lado da rainha (há quem diga atrás) tem sido a sua missão principal ao longo de sete décadas. Que pensará ela das gafes do marido?