Maria Luís Brites: "A viragem ao populismo é muito preocupante"
Aos 84 anos ainda pensa publicar um livro de contos, à laia de biografia. Fez a proposta à editora não há muito tempo, logo depois de uma mastectomia. "Antes aos 84 do que aos 48", conclui, a escritora que lecionou durante 42 anos, que publicou vários livros didáticos para o ensino do inglês e alemão, a par de outros tantos de prosa e poesia. E que privou com toda a família de Álvaro Cunhal, amigo de infância do pai, o advogado Luís Brites. No seu último livro, "Avatares à solta", Maria Luís Brites conta como foi a infância e juventude em Pombal - onde voltou a morar, depois de reformada - a vila "onde toda a gente sabia que o pai da menina era do reviralho".
Foi próxima do PCP, a primeira mulher a candidatar-se pelo partido à Câmara de Pombal, nos anos 1990. Mas é aderente do Bloco de Esquerda desde a primeira hora, encabeçou listas às Câmaras de Pombal e Leiria. Não lhe perdoa "o caso Robles", mas é com o partido que ainda se identifica. Casada há mais de 20 anos com o pintor alemão José Maria Burforff, vive na aldeia do Escoural, na periferia de Pombal, entre as tintas das Ardenas, a pintura do companheiro, e os livros. Uma imensa biblioteca que herdou do pai, e antes do avô, o médico e professor que inspirou Fernando Namora, o aluno. Numa rara entrevista, fala do mundo e do país, orgulhosa do comportamento (positivamente desviante) que Portugal trilhou, escapando, por ora, à onda de populismo europeu. Nascida e criada durante o fascismo, aprendeu a resistir, até ao fim.
Quando aqui chegámos estava a escrever à mão. Usa pouco o computador?
Uso bastante. Estava habituada a coisas menos tecnológicas, embora eu tenha começado a processar texto muito cedo, ainda não havia internet. Tinha uma prima que estava a fazer um curso qualquer em Lisboa, e eu estava em São Pedro de Moel a escrever à máquina. E diz-me ela: se tu processasses textos, não fazes ideia de como era bom. Nessa altura um computador era uma pequena fortuna. Entretanto comprei um, de pequenas dimensões, que dava até para transportar. Vinha para Pombal com ele.
Estava onde, nessa altura?
Nessa altura eu ainda era professora efetiva do Liceu Nacional de Matosinhos, que agora se chama Escola Secundária Augusto Gomes, que é o nome de um pintor local.
E esteve lá muitos anos...
Estive muitos anos pelo norte. Mas a minha experiência profissional mais agradável, mais avançada, foi quando o dr. Vítor Crespo - que nessa altura era ministro da Educação e tinha sido meu colega no liceu D. João III em Coimbra - acedeu a um pedido meu (posso dizer que foi uma cunha!). Nessa altura estava efetiva, mas não ganhava nas férias. Já tinha feito o estágio há muito tempo, e se fosse homem tinha ficado logo efetiva. Mas como era mulher...fiquei agregada. Depois passei a auxiliar , já ganhava. Mas estive 12 anos sem ganhar. E então efetivei num Liceu dos Açores, o que não me convinha nada...tinha uma filha pequena, a vida no Porto. Dirigi-me a ele, que era amigo do então ministro da Educação, Veiga Simão.
Estamos a falar dos anos 1960, ainda?
Finais de 60, ou princípio de 70. Ele fez uma reforma do Ensino muito interessante, e fundaram-se então várias escolas. Uma delas foi a Escola Preparatória Dr. Leonardo Coimbra (Filho), onde fui a primeira diretora.
No Porto, portanto.
Era uma escola "fantasma", na Rua de Serralves, que só existia por decreto. Encontrei então uma quinta, cheia de poços descobertos, uma casa cheia de buracos, com acampamentos de ciganos lá dentro. O Ministério disponibilizou-me uma verba e eu nem esperei pela aprovação dos projetos, avencei logo. Lembro-me que pedi ao reitor do antigo Liceu Garcia da Horta que me disponibilizasse uma sala para ter uma reunião com os encarregados de educação, porque já havia alunos para aquela escola fantasma.
Porque apesar de a escola ainda não existir já havia alunos?
Sim, já havia. E os jornais tinham feito um artigo muito maldoso contra mim e contra o espaço, denunciando que "até ciganos havia". E os pais estavam alvoraçados.
Era já a sua atração pelas minorias?
Talvez. Mas a reunião foi muito bem sucedida e aconteceram coisas espantosas. O diretor da empresa de gás prometeu arranjar aquecedores para todas as salas, o dono da fábrica de alumínios deu o material para a cantina, e Câmara disponibilizou uma verba para fazer arruamentos e uma fossa. Era assim naquela altura...
Quer dizer que tratou de tudo, desde o chão ao telhado?
De tudo.
E essa foi a sua experiência mais intensa, no ensino?
Foi. Porque consegui coisas que hoje se estão a fazer como novidade. Lá na escola havia, por exemplo, uma horta pedagógica; um infantário para os filhos dos empregados e das estagiárias. Conseguiu-se um órgão para as aulas de música, e tínhamos uma grande coleção de discos, para os alunos aprenderem. E como eles eram um bocado dados ao murro e ao soco como todos os alunos daquela idade, resolvi - juntamente com os professores de educação física - comprar uns sacos de box, para descarregarem as energias.
Nessa altura estava ainda no início da carreira, cheia de vontade de fazer coisas novas?
Não, eu já tinha estado uns anos no Liceu Carolina Michaelis. E aí aprendi tudo aquilo que não se devia fazer.
Como é foi parar ao Porto?
Era assim, como os meus colegas que ainda hoje são colocados pelo país fora. Mas no dia 28 de setembro de 1959 recebi uma guia de viagem para o Porto, que eu não conhecia... Já tinha feito o estágio. Licenciei-me em Coimbra, em filologia germânica. E depois da licenciatura fiz um exame de admissão ao estágio, no então Liceu D. João III. Só havia dois liceus desses, com acesso ao estágio, um em Coimbra e outro em Lisboa. E havia só duas vagas por ano para cada grupo. Podem imaginar o que isso significava....no antigo regime a fatia mais magra era para o ensino. Por isso hoje Portugal ainda sofre de uma deseducação.
À conta desses anos?
Sim, Portugal não tem ideias. Submete-se. Reparem nisto: eu já estou cá por acaso...e não há maneira de avançarmos.
Quantos anos tem agora?
84. Estava a dirigir a tal escola preparatória quando aconteceu a Revolução de Abril. E então tive que tomar o meu lugar, porque ali estava em comissão de serviço.
E foi para onde?
Para o liceu de Vila Nova de Famalicão.
Vamos recuar um bocadinho, ao tempo da sua infância em Pombal. Já nasceu aqui?
Não. Nasci em Coimbra, na Sé Nova. O meu pai dizia "tu és do Estado", porque eu nasci na maternidade pública, em frente ao Jardim Botânico.
Numa altura em que a maior parte das crianças nascia em casa...
Exatamente.
Já estava um passo à frente do seu tempo.
Ainda bem que nasci lá, porque foi um parto complicado. Se a minha mãe não estivesse na maternidade tinha "batido a bota".
Nessa altura os seus pais moravam em Coimbra?
Sim. O meu pai casou com a minha mãe quando ainda era quintanista de Direito. E os meus avós paternos viviam também em Coimbra. Eram gente de esquerda, já, mal vistos pelos situacionistas. Então o meu pai aceitou um lugar de administrador do concelho na Marinha Grande. Nessa altura o Álvaro Cunhal cortou relações com ele.
Eram amigos?
De infância. E o Álvaro cortou relações com o meu pai por ter aceitado um lugar do Estado.
O seu pai era um militante comunista, de facto?
Era-o de forma muito assumida no seu comportamento, mas nunca registada. Aliás, num conjunto de desenhos oferecidos pelo Álvaro Cunhal, que ainda guardo, o meu pai escreveu: "por amor a ti e à tua mãe, não segui os caminhos do amigo Álvaro".
A Maria Luís chegou a conhecê-lo?
Perfeitamente.
Quer dizer que ele cortou relações com o seu pai mas retomou-as, mais tarde?
Sim, ele depois teve uma vida e uma amizade de grande ligação ao meu pai. E conheci muito bem a irmã, Maria Eugénia e o marido, bem como os pais dele, que eu visitava quando ia a Lisboa.
Nessa altura, em criança, tinha consciência do país onde vivia?
Acho que sim, que sempre tive.
Mas naquela época foi criada "como uma princesa" - dizia-se - numa família abastada e conceituada socialmente.
É verdade. Naquele tempo eu tinha cuidados de saúde que mais ninguém tinha; fui das primeiras crianças a levar a vacina BCG, que veio de propósito para mim, porque o meu avô (Geraldino da Silva Baltazar Brites) era médico e professor na faculdade de Medicina da Universidade de Coimbra. Depois tive acesso a muitas coisas que mais ninguém tinha, galochas para andar na rua...deixava-as na escola, à entrada, e as colegas pediam à professora para irem à casa de banho, só para irem experimentar as minhas galochas.
Foi na escola que se apercebeu das diferenças, então?
Sim. Aquilo revoltava-me muito. Eu era filha única - por causa da guerra os meus pais optaram por não ter mais filhos.
Na juventude foi das primeiras mulheres da sua terra, na sua geração, a prosseguir estudos superiores. Sentiu essa diferença também, na altura?
Mais do que das primeiras, fui das poucas que foram. Na altura o objetivo das famílias com filhas mulheres era que arranjassem um bom partido. Mas a questão era mais grave: nas famílias dos agricultores as filhas nem sequer iam à escola. Os rapazes iam por causa da tropa. É por isso que encontro ainda muitas mulheres da minha idade que não sabem ler nem escrever. Aqui, em Pombal, muitas famílias da pequena burguesia mandavam os filhos para o Externato Marquês de Pombal. Fazia-se lá até ao 7º ano. Mas depois apanhei aquela reforma que era só até ao 5º, e foi essa mudança que me levou para Coimbra, para o liceu D. João III.
Mas nesse tempo provavelmente ainda havia o Liceu D. Maria, só para mulheres. Foi por vontade sua que não foi para lá?
Foi o meu pai que me indicou para onde ir. Ele era pelo ensino misto.
Era um progressista?
Era, de facto. Nem sei como é que ele nunca foi denunciado à PIDE. Ou então foi e não tiveram coragem de o prender.
Mas ainda assim ele sentiu na pele os anos da ditadura. Lembra-se disso?
A certa altura ele quis concorrer para a magistratura. Fez os exames, ficou muito bem classificado, mas vinha uma nota da PIDE/DGS a indicar que só poderia ir para o Ultramar. E o meu pai desistiu. Foi quando começou a advogar.
Mas quando foi para o Liceu já sabia o que queria ser na vida, ou foi o seu pai - apesar de tão avançado - que decidiu?
Aqui há uns preconceitos da época, muito engraçados. Ao princípio eu dizia que queria ser médica. Mas a minha mãe - preconceituosa como todas as mulheres burguesas do seu tempo, recusava a ideia de que a filha pudesse ver homens nús...então decidi-me pelo Direito. Mas ela dizia que nem pensar, que o meu pai não precisava de quem o apoiasse. Um dia o meu pai chegou a casa e disse-me: "matriculei-te em Germânicas". Eu nem sequer sabia o que era.
Mas aceitou...
Ele achava que saber línguas, depois da guerra, ia dar pano para mangas. Eu nunca tive opção de escolha.
Quando chegou à faculdade apaixonou-se pelo curso? Nunca se desencantou?
Não, porque tive muito bons professores. Éramos poucos e isso facilitava. Eu fui inaugurar a faculdade de Letras, em 1951.
Como era Coimbra nessa altura?
Era muito diferente. Hoje está tomada pela estupidez da praxe. Mas no meu tempo as raparigas não podiam andar de capa e batina nem usar fitas nem grelo.
E como é que encarou isso?
Achei que era uma descriminação. E lutei, em vários grupos, para que isso acontecesse.
Se bem percebo não é contra o espírito académico, mas é contra a praxe?
Sou contra a praxe idiota. Porque a praxe deveria ser para receber bem os caloiros e não para os humilhar. Não para fazer como fizeram à minha filha, há 30 anos, que a meteram num caixote do lixo.
Nesse seu tempo de estudante em Coimbra as questões políticas já entravam na sua vida?
Entravam. Mas era tudo muito em segredo. Nunca sabíamos se havia um bufo entre os colegas. Juntávamo-nos em casa de um colega para ouvir as óperas de Wagner, e ele foi denunciado.
Falava de política com o seu pai?
Lia mais do que falava.
Quando é que se envolveu assumidamente na política?
Logo que foi possível. Eu tenho uma raivazinha ao PCP, porque nas reuniões que havia com a nossa chefe de grupo, eu perguntava "porquê", "para quê" e depois recebi a indicação de que gostavam muito da minha presença mas era melhor passar de militante a simpatizante. Mandei tudo à fava.
Mas muitos anos depois disso, já na década de 1990, acabou por ser candidata do PCP à Câmara de Pombal. Como é que aconteceu essa reaproximação?
Fui apanhada à falsa fé....mas foi bom, porque foi um espaço de discussão que se abriu.
Mas foi uma experiência efémera. Acabou por fazer parte da fundação do Bloco de Esquerda.
Eu estive sempre à esquerda. Fui sempre oposição. Foi no BE que encontrei mais o meu espaço. E apesar da idade julgo que ainda fiz muita coisa.
Quando apareceu o BE sentiu que era com aquele grupo que se identificava?
À data era.
E hoje?
Ainda. Embora lhes faça às vezes umas críticas. Há uma coisa que me está atravessada, que foi o caso Robles. Essa não lhes perdoo. E digo isso porque eu fui candidata pelo Bloco logo nas primeiras eleições em que o partido se apresentou, para o parlamento Europeu.
Mas ainda mantém ligação ativa com o partido?
Não sou às reuniões porque já não conduzo. Mas continua a ser o meu partido. Agora nas últimas já não fiz nada porque parece que já não se pode escrever nas paredes. Mas nas anteriores fiz por aí muitos murais. Alguns deles o Zé Maria (Bustorff) fotografou.
Sente que há um retrocesso, a esse nível também?
Agora também se tem que integrar Portugal na Europa. Pensando isoladamente ia dizer que sim. Mas olhando para a confusão total que vai pelo mundo, aqui acho que não. A viragem ao populismo, que vai pela europa é muito preocupante. O nacionalismo idiota e patrioteiro pertenceu ao antigo regime. Não pode ser. Ainda esta manhã ouvi na BBC que um quarto da europa está virada para o populismo. É um perigo.
Nunca pensou voltar a assistir a isto?
Não. E então o meu marido, que é alemão, órfão de pai na II Guerra Mundial...ainda menos.
Por enquanto Portugal ainda escapa a essa onda. Parece-lhe que vamos consegui-lo por muito tempo?
Acho que Portugal até pode ser um exemplo para outros países.
Isso deixa-a feliz?
Aliviada, só. E de vez em quando tenho um pensamento muito egoísta: isso já não é para mim.
Quando é que descobriu o gosto por escrever, que a viria a tornar escritora? Foi durante os anos em que ensinou?
Eu comecei a escrever desde garota. Como escrevia muito bem as minhas redações eram sempre colocadas em público no colégio.
Começou pela poesia...
Sim, publiquei um pequeno livro, "A Cigarra do Mar", publicado em 1967. Depois publiquei um livro de contos, que está esgotado, e que gostava de ver reeditado. Acrescentava-lhe mais alguns que tenho aí. Quando o publiquei era Maria Luís Medeiros, porque usava o apelido do meu ex-marido.
Na altura o divórcio não era ainda muito comum...
Nada. E houve gente que levou muito a mal. Mas os meus pais sempre me apoiaram. E até gostaram.
Foi um ato de liberdade?
Foi um ato de contrição.
Começou a escrever mais depois de se aposentar?
Ainda estava no ativo quando publiquei Um Triângulo no Litoral. O resto é que foi depois de me aposentar.
Alguns deles levaram-na a conhecer de perto uma realidade que a surpreendeu, como a pesquisa que fez para o livro "Na Terra da Meia vaca"...
Isso é um estudo semântico - holístico, como se diz agora - do concelho de Pombal durante o século XX. Fiz uma trilogia. Como o primeiro foi tão bem recebido, resolvi fazer mais dois. Eu não conhecia aquela realidade, que vai do [rio] Arunca até ao mar.
O que é que descobriu, durante esse trabalho?
Foi fascinante. O oeste não tem nada a ver com a parte serrana. Aconteceram-me coisas surreais: eu chegava a um local, com a minha carrinha amarela, e as pessoas fugiam para dentro de casa. Podia ter feito mais e melhor se tivesse mais cooperação.
Por parte das autarquias?
Não, essas colaboraram. Da população. É um livro que explica as alcunhas das pessoas, e há quem não as aceite...e tome como ofensa. Fui também à origem de grande parte da população, entre judeus e muçulmanos.
Houve uma outra experiência que antecedeu o livro, um programa na Rádio Clube de Pombal, que fazia nas freguesias. Foi aí a sua verdadeira descoberta de como vivia a população?
Nessa altura já não. A minha ideia mesmo era mesmo "apertar" com a população. Espremer. Para que as pessoas dissessem ao microfone da rádio aquilo que lhes fazia falta. Fiz até um programa em que chamei as igrejas todas.
As comissões ou os padres?
Os padres, mesmo.
Como é que lhe podemos chamar: agnóstica ou ateia?
De certa maneira sou crente. Na vida.
Quando falámos ao telefone disse-me que tinha enviado a uma editora uma proposta de publicação de um novo livro. É a sua biografia?
Não é bem. É um conjunto de livros pequenos que eu gostava de juntar, e descobri isso agora, quando comecei a fazer o inventário da minha biblioteca. Um é sobre os trilhos da droga, e outro sobre a vida na província. Podia ser Pombal. Enviei ao todo quatro novelas, com temas muito diferentes. Há também um estudo sobre a figura da Brites de Almeida.
A padeira de Aljubarrota?
Sim. Ela era muito mais do que isso. E choca com a Leonor Teles. Chama-se "A mulher da pá, uma rainha má, e o que mais adiante se verá". Depois há ainda outro, que é "a você, tu, ou outra qualquer", à guisa de biografia, sim.
É um livro de memórias?
É, de certa forma. Embora a autora se chame "Veneranda dos Remédios".
O que é a vida de lhe deu de melhor?
Tudo. Com todos os seus altos e baixos. Já tive horas de grande sofrimento, outras mais agradáveis. Esta última partida foi desagradável. Fiz uma mastectomia. Ser podada, como a vinha, é muito chato...Mas ainda bem que foi aos 84 que aos 48. Procura ser otimista, faço esse esforço.
O que é que ainda lhe falta fazer?
Às vezes não sei. Gostava de viver enquanto for útil e não me tornar um peso para ninguém. Não há nada em particular que queira muito fazer.
Deixou de escrever para os jornais. Porquê?
Porque não me aceitaram. Tentei voltar, mandei artigos, mas não me pediram mais.
Como é que passa os dias. Aqui em casa?
Sim. Construi-a há 20 anos e é aqui que passamos o tempo.
Descobriu o amor na sua vida já muito tarde? Com o pintor José Maria Bustorff?
Não é amor. É solidariedade. Somos bons companheiros, embora opostos. Temos em comum a política.
A resistência?
É isso.