É apresentado como um "híbrido musical", no qual se juntam jazz, eletrónica e muito mais, este Maria João - OGRE electric, que hoje tem como núcleo duro, além da cantora que lhe dá o nome, João Farinha nos teclados e sintetizadores e André Nascimento nas "feitiçarias eletrónicas". Para a gravação do novo disco, Open Your Mouth (sai em setembro pela editora germânica The Orchard), foi também chamado o jovem baterista alemão Silvan Strauss, que segundo a Maria João "é um dos responsáveis" pela nova direção sonora do projeto, agora mais próximo dos territórios do hip hop.."Preciso de estar constantemente a desafiar-me", justifica a cantora em entrevista ao DN, na qual assume ser este, agora, o seu "projeto principal" enquanto artista - e também um dos mais duradouros, depois da longa colaboração com o pianista Mário Laginha. Iniciado há cerca de uma década, o Maria João - OGRE electric começou como um quinteto, mais próximo da formação clássica do jazz e foi evoluindo para o que é hoje, um verdadeiro laboratório sonoro, que salta fronteiras entre digital, analógico e estereótipos musicais, sempre com a voz de Maria João a guiar o caminho..Quem tenha ouvido apenas o primeiro disco do OGRE, em 2012, não reconheceria agora o recém-editado single Acute Angles como algo feito pelas mesmas pessoas, concorda? Este trabalho é como um terceiro capítulo do OGRE e nós tentamos sempre nunca nos repetirmos de álbum para álbum. De facto o primeiro trabalho deste projeto ainda era muito tateante, quase como uma manta de retalhos feita a partir das influências que cada um trouxe. O segundo já era mais coerente, mas ainda foi feito num formação de quinteto, em que o piano do Júlio Resende assumia um grande protagonismo e agora resolvemos baralhar tudo outra vez..Sente-se quase uma aproximação ao universo do hip hop? Sem dúvida e isso deve-se ao Silvan Strauss, um jovem baterista alemão que me convidou para fazer parte do projeto de final de curso dele e eu depois chamei para trabalhar connosco. Estou muito orgulhosa, por que os artistas têm a obrigação de se reinventar e é isso que fazemos neste disco..O que significa este projeto para si? É atualmente o meu principal projeto, que criei com o único objetivo de me desafiar..O que atrai na música eletrónica? É um mundo completamente novo para mim, um mundo inteiro com tudo ainda por explorar. É certo que já houve muita gente a fazê-lo antes, algumas bandas de jazz nórdico, nos anos 1990, e até a Björk ou os The Prodigy, que são referências, mas este constante desafio de avançar através do erro é fascinante para mim enquanto artista..Porque é que optou por ir lançando singles e só depois o disco? O disco era de facto para sair agora, mas devido a tudo o que aconteceu, a editora optou por ir lançando alguns singles e assim ir aguçando o apetite do público. Por mim lançava já tudo agora, porque sou muito impulsiva e frenética nesse aspeto, pelo que é melhor serem outros a tomar essas decisões mais estratégicas..Apesar de toda a liberdade inerente ao jazz, os fãs são um pouco puristas. Não teme que quem a conheceu em trabalhos anteriores, como a colaboração com Mário Laginha, possa estranhar um pouco esta nova sonoridade? Não faço ideia, mas é de facto uma realidade, esse purismo do jazz, que é ao mesmo tempo o estilo musical mais livre. Há uns tempos apresentei este projeto num festival em Génova, Itália, e vi realmente muita gente perplexa no público, enquanto o organizador que nos convidou, pelo contrário, estava deliciado. Percebo que possa haver quem não goste, mas não posso ficar sempre no mesmo sítio só para agradar aos outros..Foi a pioneira em Portugal dos concertos drive-in, com um espetáculo que deu na Fábrica de Braço de Prata, em Lisboa, como é que foi essa experiência? Foi muito desconcertante, porque cantei para ninguém, numa sala vazia, porque as pessoas estavam na rua, dentro dos carros. Só sabia que lá estavam porque apitavam e batiam palmas quando as músicas acabavam. Foi incrível, mas, repito, muito desconcertante.