Maria de Belém começa a preparar a derrota

Candidata aproveitou ontem o caso das subvenções vitalícias, que a atingiu em cheio, para começar a justificar o mau resultado que todas as sondagens lhe antecipam
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"Isto pode prejudicar a minha candidatura", admitiu Maria de Belém, quando entrava num almoço com apoiantes na cervejaria lisboeta Trindade - iniciativa onde a mobilização voltou a falhar (algumas dezenas de lugares ficaram vazios). O Tribunal Constitucional chumbou há dias uma lei que diminuía essas subvenções, numa ação de verificação da constitucionalidade que nasceu da iniciativa de vários deputados, entre os quais a candidata.

Dizendo que vive num país onde há pessoas que "vivem situações muito difíceis" ou mesmo "dramáticas", Maria de Belém acrescentou que isso pode levar a que fiquem "aborrecidas" e "frustradas" com prerrogativas a que os políticos têm direito, como as subvenções vitalícias.

Mais tarde, num encontro com jovens na Embaixada - um centro comercial no Príncipe Real -, explicou por antecipação um eventual aumento da abstenção: por um lado "a junção entre atos eleitorais [legislativas e presidenciais] teve efeitos de desmobilização", pois "as pessoas atualmente dão mais importância ao primeiro-ministro do que ao Presidente da República". Algo que acumula com o facto de haver "uma desistência das pessoas para tentar reformar a política".

Por outro lado, a cobertura mediática caracterizou-se por sublinhar "não os factos em si mas sim a sua interpretação" e por "um tipo de perguntas" que lhe "condicionou um discurso". "Preferia ter discutido programas, tentei que isso acontecesse, mas sem muito sucesso", afirmou, queixando-se também do clima de "guerrilha" da campanha, algo que no seu entender afasta, por exemplo, os jovens da votação. "Tudo isto afasta [eleitores]", disse - mas não sem uma reprimenda a quem decidir abster-se: "Quem desiste de comparecer perde um bocado a legitimidade para se queixar."

Mesmo assim, em relação às subvenções, a candidata disse que, em nome da "coerência", não prescinde de um dia eventualmente requerer o seu benefício. "Eu podia dizer que renunciava a tudo, que isto é imoral e mais não sei quê. Mas isso é o caminho fácil. O que não aceito é que se use esta questão para cavalgar benefícios eleitorais", acrescentou. Atacou ainda Nóvoa por defender o fim das subvenções vitalícias para os ex-presidentes da República e Marisa Matias por "ofensas à separação de poderes e à Constituição" quando criticou a decisão do TC sobre as subvenções vitalícias (antes dela, Manuel Alegre diria que a campanha da candidata do BE estava com estes argumentos "salazarentos" a "atacar os políticos, a política e por isso a democracia").

O dia acabou de forma desastrosa. Quarenta minutos após a hora marcada (21.00) não estavam mais de 50 apoiantes no auditório da FIL da Junqueira escolhido para realizar o comício. A lotação rondava 330 lugares. A candidata entrou na sala quase às 22.00 e se estivessem cem apoiantes era muito.

Diário de Notícias
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