Maria Butina, a espia russa que caçava ursos e apoiava a NRA

Detida no domingo, a russa de 29 anos foi acusada na terça-feira de conspiração e espionagem ao serviço de um país estrangeiro.
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Quando em agosto de 2016, Maria Butina se mudou para os Estados Unidos com um visto de estudante, o FBI já há alguns anos seguia os passos da jovem russa. Segundo o The Washington Post, os serviços secretos americanos decidiram então não a confrontar nem interrogar, preferindo seguir a pista das suas ligações à NRA, o poderoso lóbi das armas americano.

Nessa altura, Butina já tinha conhecido Donald Trump Jr, o filho mais velho e homónimo do presidente americano, numa convenção da NRA e chegou a participar num dos bailes de posse do republicano em novembro de 2016. Mais tarde, terá tentado arranjar um encontro entre Trump e um alto responsável do governo russo durante um pequeno-almoço de oração que organizou em Moscovo.

Em 2017, como aluna da Universidade Americana em Washington, Butina começou a contactar grupos de esquerda para fazer lóbi a favor das armas e procurou entrevistar ativistas dos direitos cívicos em Washington DC sobre cibervulnerabilidade, tudo, dizia, no âmbito de um projeto para o curso.

No domingo passado, alertados para o facto de Butina, de 29 anos, se estar a preparar para deixar Washington e mudar-se para o Dacota do Sul, o FBI decidiu agir. Seria muito mais difícil monitorizar os passos da russa fora da capital federal portanto os agentes detiveram-na. E na terça-feira, foi acusada de espionagem ao serviço de um país estrangeiro.

Criada na Sibéria entre ursos e lobos

Em 2015, a ruiva Butina contou numa entrevista a um programa de rádio conservador que cresceu nas florestas da Sibéria, onde o pai a teria ensinado, a ela e à irmã, a caçar ursos e lobos. Na mesma altura, a russa contou ter começado a trabalhar por conta própria numa cadeia de mobiliário antes de se mudar para Moscovo. Na capital russa, entrou no sector das relações públicas e fundou um grupo chamado Direito a Usar Armas, que defendia uma lei das armas menos restritiva.

O seu projeto atraiu um apoiante poderoso: o senador Alexander Torshin, do partido do presidente Vladimir Putin e mais tarde diretor adjunto do Banco Central da Rússia. Torshin tinha fortes ligações à NRA e a grupos cristãos conservadores que conhecera num pequeno-almoço de oração que organizava anualmente em Moscovo.

Foi como assistente de Torshin que Butina se aproximou da NRA, tornando-se amiga de David Keene, que presidiu ao lóbi das armas americano entre 2011 e 2013.

Foi num desses pequenos-almoços de oração que conheceu Paul Erickson, um republicano do Dacota do Sul influente junto do partido. Os dois terão começado uma relação romântica, como a própria confessou no Senado numa audiência em abril.

Foi a sua ligação à NRA e a relação com Erickson que deram a Butina acesso à alta política americana. Conheceu o governador Scott Walker, candidato às primárias republicanas para as presidenciais de 2016 e tinha acesso às zonas VIP de eventos como o CPAC, para recolha de fundos. "Olá, sou russa!", gostava de se apresentar aos poderosos. E quando Walker desistiu da corrida, virou a sua atenção para Trump.

Em 2010, outra jovem russa ruiva foram notícia nos EUA após ser expulsa por espionagem. Tratava-se de Anna Chapman que entretanto voltou à Rússia onde tem sido modelo, apresentadora de TV e consultora. Antes disso, Chapman conseguira a cidadania britânica através do casamento. Confessando-se culpada, Chapman fez parte, com outros russos, de uma troca de prisioneiros entre EUA e Rússia, a primeira desde a Guerra Fria, em Viena, numa mega operação.

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