Marchas Populares começaram em 1932 no Parque Mayer e hoje estão de volta à Avenida
Desde quando é que existem as Marchas Populares de Lisboa?
O primeiro concurso de marchas realizou-se na noite de 12 de junho de 1932, organizado por José Leitão de Barros, no cinema Capitólio, no Parque Mayer. Nesta "marcha" dos ranchos participaram os bairros de Campo de Ourique, Bairro Alto e Alto do Pina, que foram os primeiros, segundo e terceiro classificados, respetivamente. De acordo com o académico Daniel Melo, da Universidade Nova de Lisboa, "a marcha vencedora apresentou-se com o traje "à moda do Minho", a seguinte com vestes de tricana de Leiria e de camponeses estremenhos, e a última com indumentárias regionais do Douro e Estremadura". Curiosamente, a adesão a esta iniciativa levou à sua repetição quinze dias depois, na véspera do São Pedro, na qual participaram mais três bairros - Madragoa, Alfama e Alcântara - que se juntaram às três iniciais. Neste segundo evento, a vitória coube à Madragoa, seguida de Alfama e do Alto do Pina. As marchas voltaram em 1934, já integradas nas Festas da Cidade e organizadas pela Câmara de Lisboa, com 12 concorrentes e com uma grande adesão popular.
Houve marchas todos os anos desde 1932, com exceção destes dois anos de pandemia?
Não. De acordo com o trabalho académico de Daniel Melo sobre as Marchas Populares de Lisboa, nos 42 anos de vigência do Estado Novo só se realizaram 18 edições. "Após as edições oficiais inaugurais, as marchas são interrompidas durante os tempos conturbados da guerra civil espanhola e da Segunda Guerra Mundial (exceto em 1940). No imediato pós-guerra, persiste o vazio (nova exceção para 1947), o que se pode associar ao ambiente de crise social e do regime. Nos anos de 1950, as marchas impor-se-ão gradualmente, sendo disso sinal premonitório a assistência de Salazar à passagem do desfile pelo Teatro Nacional D. Maria II, aquando da edição de 1950." Na década de 1960, apesar da Guerra Colonial, realizaram-se sem interrupções entre 1963 e 1970. Segue-se um novo hiato, com as marchas a regressarem à rua entre 1981 e 1983, sendo que o regresso definitivo deu-se em 1988, tendo o desfile e concurso das Marchas Populares de Lisboa só voltado a ser interrompido nos últimos dois anos devido à pandemia.
Quem é o campeão de vitórias das marchas?
Olhando para o palmarés de cada bairro entre 1932 e 2019, Alfama, é de longe, a marcha com mais vitórias no seu palmarés: 20. Este bairro conta ainda com 14 segundos e três terceiros lugares. No pódio de vitórias, segue-se Marvila (seis vitórias) e o Alto do Pina (quatro). Na últimas dez edições, ou seja, desde 2010, a vitória calhou sempre a Alfama (seis vitórias) ou ao Alto do Pina (quatro vitórias), a marcha campeã da última edição.
Qual foi a classificação das Marchas Populares de Lisboa em 2019, o último ano em que se realizaram?
A Marcha do Alto do Pina foi a vencedora do último concurso, seguida de Alfama e Penha de França. Nos lugares de desclassificação para o concurso seguinte, que se realiza este ano, ficaram as marchas da Graça (18.º lugar), Beato (19.º) e Parque das Nações (20.º). No que diz respeito às classificações especiais, o Alto do Pina recebeu os prémios de coreografia, figurino (em ex aequo com Alfama e São Vicente), letra (em ex aequo com o Bairro Alto), musicalidade, composição original e desfile na Avenida da Liberdade. O prémio de cenografia foi atribuído às marchas de São Vicente e Carnide.
Que marchas vão desfilar na noite de domingo na Avenida da Liberdade?
O desfile começa às 21.45 horas com a convidada deste ano, a Marcha Popular Vale do Açor, seguindo-se a estreia da Marcha Infantil das Escolas de Lisboa. Ainda extraconcurso apresentam-se a Marcha Infantil "Voz do Operário", que já participa há 34 anos, a Marcha dos Mercados e a Marcha da Santa Casa, composta por seniores. A concurso irão apresentar-se 20 marchas, pela seguinte ordem: Mouraria, Castelo, Carnide, Bela Flor-Campolide, Bairro Alto, Bairro da Boavista, Penha de França, Lumiar, Belém, Baixa, Madragoa, Campo de Ourique, Alcântara, Alfama, Ajuda, Marvila, Bica, São Vicente, Olivais e Alto do Pina.
Qual é o tema da Grande Marcha de Lisboa deste ano?
O tema das Festas de Lisboa deste ano recupera o previsto para 2020, a celebração dos 100 anos do nascimento de Amália Rodrigues, e que serve também de mote ao concurso das marchas. Tradição com várias décadas, o concurso Grande Marcha de Lisboa escolhe uma composição a ser apresentada e interpretada por todos os participantes das Marchas Populares, quer nas exibições do Altice Arena quer no desfile da Avenida da Liberdade. A composição "Amália é Lisboa", com letra de Joaquim Pires Isqueiro e música de José Reza, venceu o concurso de 2020 mas a pandemia impediu que fosse então interpretada. Este ano será, finalmente, cantada por todas as marchas, que também apresentarão as suas próprias composições.
Como é que as marchas são classificadas e por quem?
O concurso das marchas tem dois júris, um que classifica a Grande Marcha de Lisboa e outro que faz a apreciação das Marchas Populares de Lisboa. No concurso deste ano, o júri da Grande Marcha de Lisboa é composto por Rita Guerra (apreciação na generalidade), Carlos Mendes (apreciação da letra) e Renato Júnior (apreciação da música e representante da Sociedade Portuguesa de Autores). Já o júri das Marchas Populares é presidido por Pedro Santos Franco, que estará acompanhado por Henrique Feist (apreciação da coreografia), José Costa Reis (apreciação da cenografia), Maria Luiz (apreciação do figurino), Mário Rainho (apreciação da letra), Jorge Fernando (apreciação da música), Filipa Pais (apreciação global) e Sofia Bicho (representante da EGEAC). O primeiro momento de avaliação aconteceu nos dias 3, 4 e 5 de junho, quando as marchas a concurso se apresentaram no Altice Arena, e a avaliação final será feita na noite de dia 12 com o desfile na Avenida da Liberdade. Os resultados deverão ser conhecidos entre a madrugada e o início da manhã de segunda-feira.