A encerrar a visita de Estado à Suíça, Marcelo Rebelo de Sousa criticou o anterior o governo de Passos Coelho por ter apresentado uma proposta para o sistema de ensino dual "discriminatório" que obrigava a escolhas "precoces". O Presidente considerou que o atual governo "não pode desperdiçar" a oferta do Presidente suíço, para a transmissão de know-how, sobre o sistema que permite combinar educação com saídas profissionais.."Aquilo a que assistimos aqui hoje não é o que estava previsto em Portugal", na proposta apresentada pelo anterior executivo "a escolha [de uma profissão] era muito mais cedo, era precoce", criticou, salientando que na Suíça são "jovens mais velhos que, numa fase ulterior, fazem essa escolha"..O ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, que acompanhou o Presidente nesta visita, esclareceu que "a decisão do atual governo" acabou com cursos vocacionais "para 12 anos de idade", mas "aproxima o modelo português do modelo suíço", uma vez que não acaba com o ensino vocacional e está aberto a "mais empresas portuguesas que queiram aderir a este sistema"..No sistema de ensino suíço, a partir dos 15 anos, os alunos podem aprender uma profissão no próprio local de trabalho, com aulas práticas, em ambiente profissional, quase diárias, por exemplo numa fábrica, como a que o Presidente visitou ontem, onde as aulas teóricas se resumem a uma vez por semana..De acordo com informações da Presidência, "70% dos suíços optam por esta via e apenas 20% seguem diretamente para a faculdade", permitindo à Suíça ter "profissionais altamente qualificados, assim como formar pessoas conforme as necessidades do mercado de trabalho"..Augusto Santos Silva salientou que o governo propõe "a partir de nove anos de escolaridade, comum para todos, a opção entre um ensino de natureza mais científica ou humanista ou um ensino de natureza mais vocacional ou profissional".."O que acontece na Suíça é que as empresas estão muito mais envolvidas no ensino vocacional do que em Portugal. Esse é um caminho que nós temos de fazer por aproximação", disse o governante, acrescentando que "é preciso trazer mais empresas para participarem mais intensamente nos cursos profissionais"..Durante a visita à fábrica de máquinas para a indústria panificadora, o presidente da confederação Suíça, Johann Schneider-Ammann, ofereceu-se para influenciar as empresas suíças, com filiais em Portugal, para contribuírem para a implementação do ensino vocacional. "Propus-me a contactar as empresas suíças com filiais em Portugal, que conhecem a filosofia do sistema de aprendizagem suíço, e eles podem replicar o conhecimento e a maneira de fazer nas filiais em Portugal. Porque não?", sugeriu o presidente suíço.."Ofereci ao Presidente de Portugal o meu envolvimento pessoal para ajudar nos contactos, para vermos o que podemos fazer. Isto tem de traduzir-se na prática e não apenas em teoria", disse Johann Schneider-Ammann..Marcelo considerou a proposta "muito útil, porque há muitas empresas suíças em Portugal, que podem encontrar uma forma de formação profissional para estudantes portugueses, que sigam essa via vocacional que é diferente da via clássica". O Presidente sente que o governo não pode agora "desperdiçar a oportunidade oferecida pela Suíça", sem, no entanto, "copiar modelos tal como eles são". Mas Marcelo acha que "se deve olhar para a experiência de países que estão uns passos à frente, em termos económicos e em termos sociais, para ver o que pode suceder na Europa e no mundo daqui por uns anos".