Marcelo admite governo do PSD apoiado no Chega
Marcelo Rebelo de Sousa admitiu esta noite, entrevistado na SIC, que se for reeleito, não vetará um Governo à direita apoiado no Chega - como aconteceu há semanas nos Açores.
"Não vejo razão constitucional para não dar posse a um governo apoiado no Chega", afirmou o Presidente recandidato - que invocou, nomeadamente, o facto de se estar perante um partido legalizado no Tribunal Constitucional.
"O Presidente da República não pode discriminar o Chega", afirmou ainda.
Quanto à situação açoriana - uma geringonça de direita liderada pelo PSD e apoiada, também, no Chega (como no CDS, PPM e Iniciativa Liberal) - assegurou que não teve "intervenção". O processo, disse, foi conduzido pelo Representante da República no arquipélago, embaixador Pedro Catarino, e "constitucionalmente" a sua posição foi inatacável.
Marcelo admitiu, por outro lado, que não exigirá a um governo de direita acordos escritos, à imagem e semelhança do que fez quando António Costa ganhou as eleições em 2019. E, quase vestindo a pele de comentador político, antecipou que a direita só terá capacidade de governar quando tiver 45% dos votos ou mais.
Ainda quanto ao Chega, recusou-se a qualificar o seu líder mas constatou que "os partidos clássicos têm muita dificuldade em lidar com os partidos nos extremos do sistema", sendo esse um fenómeno com vários exemplos na Europa.
Recordou, por outro lado, ter feito vários alertas para o surgimento de "movimento inorgânicos mas também formações política anti sistémicas"
Quanto à formação de uma alternativa de direita em relação à atual maioria de esquerda, afirmou ser importante que exista, para "equilibrar o sistema", mas isso não aconteceu porque essa "alternativa de direita começou a esboroar-se quando houve uma divisão de estratégia entre o PSD e o CSD em 2016 e 2017".
"Não sou um Presidente de fação, não fui eleito para ser o Presidente da direita contra a esquerda nem para ser o Presidente que protege a esquerda contra a direita", afirmou ainda.
A questão do SEF foi um dos grandes temas da entrevista. Marcelo assumiu que a reforma profunda que pode ser feita é a de retirar ao SEF o controlo de fronteiras. Justificou ainda não ter tido uma palavra com a viúva de Ihor Homenyuk - o ucraniano morto em março nas instalações do SEF no aeroporto da Portela - porque "quando há um processo criminal não falo" para não "antecipar julgamentos".
Marcelo empenhou-se, quanto à sua reeleição, em fazer passar a mensagem de que não está de todo garantida. "As sondagens não mandam nos votos".
Também desmentiu, categoricamente, que tenha sido alguma vez o seu objetivo ser reeleito com os 70% que Mário Soares obteve na sua reeleição em 1991. "Tenho vários defeitos mas não sou burro nem louco", afirmou, recordando que Soares foi nessa altura apoiado por um PSD com 50% dos votos e um PS na casa dos 20% - "e além disso não havia pandemia".
Sobre o plano de vacinação covid-19, que se deverá iniciar em janeiro, o PR recandidato procurou empenhar-se em passar a mensagem de que será "um processo longo que pode ir até ao fim do ano".
E essa - acrescentou - é também "uma coisa que preocupa o primeiro-ministro" - ou seja, "não se criarem demasiadas expectativas" quanto a um processo rápido. Além do mais, "é muito claro que há vacinas atrasadas".
A TAP foi também um tema da entrevista - e aqui o candidato afirmou não ter recebido o plano de reestruturação aprovado pelo Governo (e enviado para a UE).
Mostrou-se no entanto conformado com a necessidade de uma reestruturação da empresa que implique despedimentos em massa: "Deve entender-se que isso deve pesar em termos de contributo financeiro num momento em que a pandemia fez juntar à situação anterior da TAP uma situação generalizada? Acho que sim. Tem de se fazer uma reestruturação e tem de se pagar o preço dessa reestruturação."
E o que não pode ser cenarizado é uma liquidação da empresa. No seu entender, a TAP tem de existir sobretudo "por uma razão muito simples: chama-se comunidades portuguesas".
O Novo Banco também passou pela conversa e aqui o PR admitiu que o Tribunal de Contas pode não estar completamente apetrechado para fazer a auditoria de que está incumbido. "O Tribunal de Contas tem limites numa matéria tão sofisticada", reconheceu