Manuel da Costa, o sub-21 português que joga o Mundial por Marrocos

A carreira do central, marcada por vários episódios polémicos, tem sido um autêntico carrossel
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Tem um nome tipicamente português, mas joga na seleção marroquina e na próxima quarta-feira poderá ter pela frente Cristiano Ronaldo e companhia no jogo da segunda jornada do Grupo B do Campeonato do Mundo.

Manuel da Costa, 32 anos, filho de pai português e mãe marroquina, tem ainda nacionalidade francesa, pois nasceu em Nancy e por lá se manteve, jogando pelo clube mais representativo da cidade até aos 20 anos, quando se transferiu para o PSV Eindhoven.

Foi em 2005/06 que se estreou pela equipa principal do Nancy e foi no final dessa época que a estrutura da FPF reparou nele, como conta ao DN Edgar Borges, que na altura treinava os sub-20. "O professor Rui Caçador pediu-me para analisar dois vídeos do Manuel da Costa, que tinham sido enviados pelo pai dele e avisou-me que tínhamos de decidir rapidamente uma eventual convocação para o Torneio de Toulon, que se iria realizar poucos dias depois. Gostei do que vi, era um central forte e agressivo, do género do Bruno Alves", revela.

"Tratámos das questões legais muito rapidamente e passados dois dias ele já estava em condições de ser convocado. Juntou-se ao grupo já em Toulon e jogou logo no primeiro encontro, com a República Checa", acrescenta. Edgar Borges ficou espantado com a postura do jovem defesa de 20 anos. "Tinha uma forma de jogar muito autoritária e tive de lhe pedir para que tivesse mais cuidado com as entradas sobre os adversários. Isto em francês, pois ele quase não falava português. E tinha uma postura de alguém que parecia "querer mandar naquilo tudo"! Era um rapaz sempre de cara muito fechada e penso que poderia ter sido mais humilde, pois tinha acabado de chegar a um grupo novo. Mas, atenção, sempre foi educado e nunca foi indisciplinado", refere.

Edgar Borges esperava que Manuel da Costa tivesse chegado mais longe na carreira. "Era um dos centrais a quem perspetivávamos um futuro mais risonho, mas no futebol há diversos fatores que influenciam a carreira de um jogador, como as oportunidades concedidas ou a falta delas, as lesões, os castigos... Posso estar enganado, mas penso que ele foi muito prejudicado pelo seu feitio e pelo seu comportamento pouco sociável. De qualquer forma, ainda foi internacional sub-21 e jogou na equipa B de Portugal, para além de ter sido chamado para a Seleção A [por Luiz Felipe Scolari], embora não se tenha estreado", sublinha.

"Não pensei mais em Portugal. Scolari convocou-me e acreditava muito em mim, mas depois nunca mais me chamaram", referiu Manuel da Costa, em entrevista, em 2014 ,ao site "Almarssadpro".

Foi Marrocos que acabou por aproveitar o facto de o central nunca ter representado nem França nem Portugal na seleção A. Em 2014, foi chamado pela primeira vez e não hesitou em responder afirmativamente, negando que tivesse recusado uma convocatória no passado. "Joguei nas seleções jovens de Portugal e foram momentos importantes da minha vida, mas neste momento só penso em ajudar Marrocos. Os jornais escreveram que eu recusei Marrocos no passado, mas é mentira, nunca tinha sido contactado oficialmente, ao contrário do que sucedeu agora. Tive uma conversa com o selecionador e aceitei de imediato, pois Marrocos é o país da minha mãe e sinto-me orgulhoso por representar as suas cores", garantiu, na mesma entrevista ao "Almarssadpro".

Entretanto, representou os marroquinos no CAN 2017 e foi um dos 23 convocados pelo Hervé Renard para este Campeonato do Mundo. Embora os centrais titulares sejam Benatia e Saïss, Manuel da Costa estreou-se já na prova, entrando aos 82 minutos do jogo com o Irão, a tempo ainda de assistir dentro de campo ao infeliz autogolo de Bouhaddoz que deu a vitória à seleção treinada pelo português Carlos Queiroz.

Muitos episódios polémicos
Depois da época de estreia no Nancy, Manuel da Costa transferiu-se para os holandeses do PSV Eindhoven, onde não foi muito utilizado, mas sempre se sagrou bicampeão. Seguiu-se a Fiorentina, onde não cumpriu um único minuto em jogos oficiais na temporada de 2007/08. Foi então emprestado à Sampdoria e mais uma vez não convenceu, totalizando apenas quatro partidas em 2008/09.

Depois mudou-se para o West Ham, onde realizou 26 desafios em duas temporadas. Fora dos relvados, uma rapariga de 20 anos acusou-o de abuso sexual. Segundo esta, tudo se passou numa discoteca, com o jogador a colocar a mão no seu peito sem autorização, isto para além de a ter agredido. Em tribunal, Manuel da Costa defendeu que foi a mulher a aproximar-se, ele levantou-se para falar e tocou-o acidentalmente no peito, ao que esta lhe deu um estalo, com o futebolista a dar-lhe o mesmo troco. O juiz inocentou-o da acusação de abuso sexual, mas obrigou-o a pagar 1250 libras pela agressão (1419 euros ao câmbio atual).

Entretanto, depois de uma passagem razoável pelo Lokomotiv Moscovo, em 2012/13 teve a sua única experiência num clube português ao serviço do Nacional, onde cumpriu 20 jogos, emprestado pelos russos. Foi titular até março, mas a experiência terminou de forma abrupta: num jogo com o Rio Ave, depois de ter visto o amarelo, pontapeou a bola para longe e foi expulso por Bruno Paixão. Após a partida, foi confrontado por alguns colegas e terá agredido um deles, Candeias. Foi alvo de um processo disciplinar do Nacional e poucas semanas depois rescindiu o contrato. Durante o período de suspensão, foi apanhado a conduzir sob o efeito de álcool, tendo pagado 350 euros de multa e ficado inibido de conduzir durante três meses.

Depois do Nacional, seguiu-se o Sivasspor, já desvinculado do Lokomotiv Moscovo. Teve duas temporadas de sucesso na Turquia e depois mudou-se para os gregos do Olympiacos, onde viveu possivelmente as duas melhores épocas da carreira. Foi bicampeão e titular indiscutível quando as lesões não o obrigaram a parar. Em 2017/18, regressou à Turquia, para representar o Basaksehir, tendo jogado em 16 jogos e defrontado o Sp. Braga na Liga Europa.

Agora, Manuel da Costa prepara-se para reencontrar o passado, quando apanhar pela frente alguns jogadores dos quais já foi colega com as cores de Portugal. Como João Moutinho e Manuel Fernandes, por exemplo, que faziam parte, com ele, da seleção sub-21 portuguesa que disputou o Europeu daquela categoria em 2007.

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