Mamma Mia! Uma cidade dentro da cidade
É um detalhe em formato de batons, que ajuda a explicar a organização férrea de um musical em itinerância. Os batons que as atrizes usam em palco estão arrumados numa caixa pequena, com um espelho de luzes à frente. Cada uma das embalagens tem uma etiqueta com o nome da pessoa que o usa, tal como as roupas que usam durante o espetáculo. Ou as perucas. Ou os sapatos. Estamos nos camarins de Mamma Mia!, o musical nascido em Bristol, a partir da música dos suecos Abba e ambientado na Grécia. Estreou-se ontem no Campo Pequeno, em Lisboa.
As portas abriram-se à imprensa às 14.00, horas antes da estreia. O diretor residente, Mark Hilton, faz a viagem aos bastidores, começando na cozinha, transformada em camarim até dia 24. Meses antes dos espetáculos são feitas visitas técnicas. No dia D, "usamos o que podemos mas tentamos que esteja tudo à mão para que as pessoas saibam que onde está uma coisa, a outra estará perto", conta Hilton, também ator. Não é abuso falar de dia D. É o próprio diretor que assegura que o musical "é quase um procedimento militar". Funcionam como um relógio, a pensar nas quick changes, entre cenas.
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Mamma Mia! é a história de uma jovem de 20 anos que, prestes a casar-se, deseja conhecer o pai. Três candidatos aparecem na ilha grega onde Sophie vive com a mãe. Estreou em 1999 em Londres e é a peça há mais tempo em cartaz. "Penso que no final se resume à história, com que toda a gente se pode relacionar", justifica o diretor. Cerca de 60 milhões terão visto o musical.
Nunca houve falhas
A versão que chega a Lisboa é a que está em digressão desde 2013. Vieram do Luxemburgo e vão para Lausana, fazem oito espetáculos por semana, cerca de 42 semanas por ano. Hilton assegura que nunca houve falhas. Perante a incredulidade, concede: saltos altos partidos, fechos de correr que se estragam. Para isso, existe outra sala que funciona como oficina, onde estão caixas de plástico que guardam o que é preciso para repor joias, consertar um sapato, coser um botão, reparar uma peruca. Calcula que entre roupas e acessórios, cerca de duas mil peças "entram no palco todas as noites".
Foram precisos três dias para transformar a praça de touros em teatro. À promotora, a UAU, foi pedida mão-de-obra. "Contrarregras que estejam no palco para entregar o que é necessário quando é necessário, pessoas para engomar...", diz Rita Duarte, responsável pela comunicação. Há uma tábua instalada no camarim para esse efeito e máquinas de lavar roupa e secar. "Somos uma cidade dentro da cidade", diz Hilton. Habitada por 30 pessoas do elenco e outras 30 entre músicos, diretores, equipas criativas, guarda-roupa, luz e som.
"Não é uma viagem de finalistas"
Os atores chegaram na segunda--feira à noite a Lisboa. O ritmo é tão intenso quanto parece e o diretor musical, Carlton Edwards, não o esconde. "Eles são profissionais, isto não é uma viagem de finalistas." Niamh Perry, Sophie na peça (tem duas substitutas), admite que o ritmo é intenso. O segredo é "dormir, dormir, dormir, comer de forma saudável e fazer exercício sempre que podemos". A atriz tem 25 anos e conhecendo a sua história quase se podia dizer que a música dos suecos esteve sempre lá. Lembra-se de ouvir o disco Abba Gold com os pais. Aos 13 anos, viu pela primeira vez o musical, em Dublin, na Irlanda, onde vivia. "Tenho uma relação longa e emocional com os Abba."