Maioria dos portugueses concorda com eleições antecipadas

Decisão que o Presidente da República vai hoje formalizar tem o apoio de 59% dos inquiridos. Mas também se afirma que é "mau para o país" (54%).
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Marcelo Rebelo de Sousa vai hoje anunciar a dissolução da Assembleia da República e a convocação de eleições. De acordo com uma sondagem da Aximage para DN, JN e TSF, a maioria dos portugueses concorda com a decisão (59%), ainda que seja mau para o país antecipar as legislativas (54%). Quanto aos principais responsáveis pelo chumbo do Orçamento do Estado, e consequente crise política, dois terços dos inquiridos fazem mira aos três partidos à esquerda (somam 67%), com o PS a sofrer o impacto maior (28%).

O apoio maioritário ao uso da "bomba atómica" presidencial é comum aos diferentes segmentos em que se divide a amostra e, portanto, o país: não depende da geografia, do género, da idade, do rendimento ou do voto. É aliás a única questão, entre as várias que compõem este barómetro, em que existe essa sintonia. Condicionada ou não pelo ultimato do Presidente da República (deixou bem claro, antes da votação, que, sem Orçamento, convocaria eleições), a maioria aceita que esse é o único caminho (seriam mais de dois terços se não se tivesse em conta os que não têm opinião).

Isto não significa que os portugueses considerem o caminho virtuoso. Bem pelo contrário. Uma expressiva maioria (54%) entende que antecipar as legislativas é "mau para o país" (em particular para o eleitorado entre 50 e 64 anos). Mas há exceções, sobretudo quando se tem em conta como os inquiridos votaram em 2019: no caso do PSD, do PAN e do Chega, é maioritária a ideia de que "é bom para o país". Os mais negativos? Os eleitores dos partidos da geringonça e em particular do PS (75%).

Marcelo nunca poderia agradar a rodos, e ainda menos numa questão divisiva e numa altura de tão grande volatilidade política (os inquéritos iniciaram-se no dia seguinte ao chumbo do Orçamento e terminaram no domingo passado). Mas, no que diz respeito à sua gestão da crise política, o saldo é positivo: 42% dos portugueses dão-lhe nota positiva e apenas 26% optam pela avaliação negativa (27% refugiam-se numa resposta neutra).

A satisfação com a intervenção do Presidente é maioritária em quase todos os segmentos da população. A unanimidade só se quebra quando o que está em causa são as preferências partidárias: há maior condescendência por parte dos eleitores mais ao centro (PSD e PS); um saldo negativo nos que estão mais à esquerda (PCP e BE); e divisão ente os liberais.

Os portugueses não estão a castigar o Presidente da República. Ou, pelo menos, não o fizeram nos primeiros dias desta crise, uma vez que, como qualquer outra sondagem, esta também é o retrato de um momento que já ficou para trás. Mas também acreditam que haveria outras saídas. Mais de metade (53%) gostariam de ter visto o PS a negociar com o PSD um novo Orçamento do Estado, mostrando que não partilham dos fantasmas sobre o bloco central. Só 30% dizem "não" a um entendimento entre os dois maiores partidos.

Também no caso de um bloco central no Orçamento há maioria em todos os segmentos: seja nas regiões, no género, nos grupos etários ou nas classes sociais. É só quando a análise detalha as preferências partidárias que a divisão é um pouco maior: os eleitores de 2019 do PSD (58%) e do PS (53%) apoiariam claramente esse cenário; os eleitores mais à esquerda (sobretudo os comunistas), bem como os liberais são os únicos que o rejeitam.

A divisão é maior quando se pergunta se o governo deve ou não demitir-se. Marcelo Rebelo de Sousa disse que não o faria, mesmo num cenário de eleições antecipadas. E António Costa garantiu, no próprio dia em que lhe chumbaram o Orçamento, que também não apresentaria a demissão. Há um maior número de portugueses a concordar com Marcelo e Costa (44%), mas a vantagem é de apenas três pontos relativamente aos que acham preferível que o governo seja "despedido" (41%).

Nesta matéria, há uma cisão entre direita e esquerda. Os eleitores que, em 2019, escolheram PS, BE e CDU são os mais firmes na afirmação de que Costa deve manter-se, sem entraves, como primeiro-ministro (em particular os que votaram nos socialistas, com 71%). Ao contrário, os que há dois anos optaram por PSD, Chega e Iniciativa Liberal preferem a demissão (no caso dos sociais-democratas é o que defendem 60%).

FICHA TÉCNICA DA SONDAGEM

A sondagem foi realizada pela Aximage para o DN, TSF e JN, com o objetivo de avaliar a opinião dos portugueses sobre temas relacionados com atualidade política.

O trabalho de campo decorreu entre os dias 28 e 31 de outubro de 2021 e foram recolhidas 803 entrevistas entre maiores de 18 anos residentes em Portugal.

Foi feita uma amostragem por quotas, obtida através uma matriz cruzando sexo, idade e região (NUTSII), a partir do universo conhecido, reequilibrada por género, grupo etário e escolaridade.

Para uma amostra probabilística com 803 entrevistas, o desvio padrão máximo de uma proporção é 0,017 (ou seja, uma "margem de erro" - a 95% - de 3,46%).

Responsabilidade do estudo: Aximage Comunicação e Imagem Lda., sob a direção técnica de Ana Carla Basílio.

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