Mãe condenada a 11 anos de prisão por mutilação genital
É a primeira pessoa condenada no Reino Unido por mutilação genital feminina. Uma mãe ugandesa foi condenada a 11 anos de prisão esta sexta-feira, por fazer o procedimento à filha de três anos.
"Vamos ser claros: a mutilação genital feminina é uma forma de abuso de crianças", disse a juíza Philippa Whipple à mulher, mãe de duas crianças. "É uma prática bárbara e um crime sério", acrescentou, segundo a Reuters.
A condenação surge mais de 30 anos depois desta prática, que involve a remoção parcial ou total dos órgãos sexuais externos femininos, ter sido criminalizada no Reino Unido. As autoridades e ativistas anti-mutilação genital feminina acreditam que envia uma forte mensagem de que estes casos seram levados à justiça. Este foi o quarto julgamento no Reino Unido desde que a prática foi proibida, em 1985, mas os dois anteriores terminaram sem condenações. A pena máxima é de 14 anos.
A juíza disse à mulher, cujo nome não pode ser revelado para proteger a identidade da vítima, que havia "pormenores particularmente doentios" no seu caso, incluindo o facto de a mutilação ter sido feita na casa da menina, onde ela se devia sentir segura. "Como mãe dela, você traiu a confiança que ela tinha em si como sua protetora", indicou a juíza, explicando que o impacto psicológico poderá ser "vitalício".
Estima-se que 137 mil mulheres e crianças em Inglaterra e no País de Gales tenham sido sujeitas a mutilação genital feminina, que atinge as comunidades de vários países, como Somália, Serra Leoa, Eritreia e Sudão.
Em todo o mundo, acredita-se que atinja 200 milhões de mulheres. O ritual, que é feito normalmente quando as vítimas são crianças e até aos 15 anos, é muitas vezes justificado por razões culturais ou religiosas, sobre o que é considerado um comportamento sexual correto, mas os ativistas dizem que o objetivo é controlar a sexualidade feminina. As mulheres que passaram por esta prática enfrentam, além dos sangramentos, problemas a urinar, infeções, infertilidade e o risco de complicações no partido, segundo a Organização Mundial de Saúde.
A 28 de agosto de 2017, a polícia lançou a investigação depois de os pais de uma menina a terem levado ao hospital. A menina estava a sangrar profusamente e os médicos encontraram três cortes nos seus genitais.
A mãe, de 37 anos, que nasceu no Uganda mas vive há vários anos no Reino Unido, contou que a filha se tinha aleijado sozinha, ao cair na cozinha do apartamento da família em Londres. Disse que ela tinha subido para a bancada para tentar chegar às bolachas e caiu "no metal" das portas dos armários e "cortou as partes privadas".
Mas a menina disse aos polícias que tinha sido agarrada e cortada por uma "bruxa". Quatro médicos, incluindo peritos em mutilação genital feminina, testemunharam que os cortes foram feitos por um objeto cortante e não eram resultado de uma queda.
A antiga assistente social não é de nenhum grupo étnico que costuma praticar a mutilação genital feminina, não tendo sido apresentado motivo algum no tribunal para ter recorrido a esta prática que é ilegal não apenas no Reino Unido, mas também no Uganda. Contudo, o júri ouviu como ela procurou ajuda de um "profeta" para "limpar" a filha, através de um contacto online na Nigéria.
A mulher foi ainda condenada a dois anos de prisão depois de admitir ter distribuído vídeos pornográficos, um a envolver crianças.
O pai da menina, de 47 anos e oriundo do Gana, foi ilibado de mutilação genital feminina, mas condenado a 11 meses de prisão por posse de pornografia. Uma sentença que já cumpriu.
O júri ouviu como a mulher recorreu a bruxaria numa tentativa de parar as investigações. A polícia encontrou línguas de vaca com pregos e arame à volta no seu congelador e 40 limas e outros frutos que continham pedaços de papel com o nome dos envolvidos no caso e mensagens como "congelo a vossa boca".
O ministro do Interior britânico, Sajid Javid, reagiu à sentença no Twitter: "Um lembrete bem-vindo, no Dia Internacional da Mulher, de que nunca iremos tolerar esta prática medieval bárbara."
Com Reuters