Madrid evita falar da CIA e passa a bola a líder catalão

Porta-voz da Generalitat desafia a que digam que atentado das Ramblas poderia ter sido evitado. Ministro de Rajoy diz que governo não comenta questões operacionais e policiais
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O governo de Mariano Rajoy recusou ontem comentar o suposto aviso da CIA sobre um potencial atentado em Barcelona, escudando-se em "questões operacionais" e no segredo de Justiça imposto pelo juiz que está à frente do processo relativo aos ataques das Ramblas e Cambrils de dia 17. Mas exigiu que o presidente da Generalitat desse explicações sobre este assunto.

"O que o senhor Puigdemont tem de fazer é explicar porque negou e o conselheiro do Interior disse que sim, mas isso é o que tem de explicar o presidente Puigdemont. E já existem umas iniciativas parlamentares para isso", afirmou ontem o porta-voz do governo Íñigo Méndez de Vigo.

Na quinta-feira, a Generalitat admitiu que, a 25 de maio, os Mossos d"Esquadra receberam um aviso sobre um potencial atentado terrorista nas Ramblas de Barcelona no verão, mas negou que este tenha vindo da CIA ou de outro serviço de informação dos Estados Unidos, conforme tinha sido avançado pelo El Periódico de Catalunya.

No mesmo esclarecimento, o conselheiro do Interior da Generalitat, Joaquim Forn, referiu que o alerta que receberam, e "que tinha muito pouca credibilidade", foi transmitido a Madrid e que o Estado "não lhe deu credibilidade".

Ontem, questionado sobre esta polémica, o porta-voz do governo de Rajoy insistiu que o executivo "não entra em questões operacionais e policiais", preferindo valorizar a colaboração entre os diferentes corpos de polícia do Estado na luta contra o terrorismo. "Não é aconselhável manter debates públicos sobre ações policiais e o cenário político para o fazer é o pacto antijihadista", declarou. Para justificar ainda mais o silêncio do governo, Méndez de Vigo lembrou que o juiz da Audiencia Nacional que tem o processo dos atentados da Catalunha, "decretou o segredo de Justiça".

Méndez de Vigo foi menos parco em palavras sobre o referendo sobre a independência da Catalunha. "Quero tranquilizar todos os catalães que querem continuar a ser catalães, espanhóis e europeus", disse, acrescentando: "E vão continuar a sê-lo, porque a 1 de outubro não haverá referendo".

Demasiado genérico

O conselheiro e porta-voz da Generalitat, Jordi Turull, falou ontem de manhã numa "campanha de desprestígio" contra os Mossos d"Esquadra por causa do alegado alerta enviado pela CIA. "Se alguém quer insinuar que este atentado poderia ter sido evitado que o digam, que tenham a coragem de o dizer", afirmou.

Sobre as explicações dadas na quinta-feira pelo conselheiro do Interior, Joaquim Forn, e pelo major dos Mossos d"Esquadra, Josep Lluís Trapero, Turull disse que foram "muito claras" e ironizou sobre supostos contactos diretos entre a CIA e a polícia da Catalunha. "Os mesmos que não nos deixam entrar na Europol dizem que temos todos os dias contactos com a CIA. É inaudito", sublinhou.

O antigo secretário de Segurança Francisco Martínez - que durante quatro anos teve sob sua alçada a Polícia Nacional, a Guardia Civil e o Centro de Inteligência contra o Terrorismo - afirmou ontem ao El Nacional.cat que os dados recebidos dos dos serviços secretos estrangeiros nem sempre "são suficientemente precisos" e que o alerta da CIA publicado pelo El Periódico, que alertava para um possível atentado nas Ramblas, era "demasiado genérico". Além do mais, acrescenta o deputado do PP, a suposta nota afirma que estava a passar uma informação "sem fundamento e de autenticidade desconhecida".

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