Madeleine Albright teme regresso do fascismo e alerta para o perigo Trump

O ensaio<em> Fascismo - Um Alerta</em>, de Madeleine Albright, a ex-secretária de Estado de Bill Clinton, chega às livrarias daqui a duas semanas. Com um prefácio de Jaime Gama, é um livro em que o autoritarismo de Trump não é esquecido.
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À primeira vista, Madeleine Albright não deixa antever o quanto a antiga secretária de Estado da administração Clinton é uma muito boa contadora de histórias, situação que o leitor de Fascismo - Um Alerta poderá confirmar aquando da edição do seu ensaio em português pela editora Clube do Autor. Em que pega no personagem principal da ideologia fascista, Hitler, bem como na secundária, Mussolini, e nos leva a conhecer em capítulos muito coesos dois dos principais inspiradores de regimes que se pensava terem sido extintos da face da Terra a meio do século XX.

A extinção total do fascismo não aconteceu, receia Albright, que afirma que no seu país está no Governo um dos representantes do autoritarismo mais inesperado: Donald Trump. Por essa razão, coloca no título o acrescento Um Alerta e considera importante a sua leitura para se perceberem certos sinais da política atual, até porque deu-se a coincidência de ter publicado este livro num tempo em que as ondas de choque da governação norte-americana colocam sérias dúvidas sobre o fim de uma ideologia que o desfecho da II Guerra Mundial parecia ter eliminado. "Trump é o primeiro presidente antidemocrático da história moderna dos EUA", afirma.

A edição portuguesa, que sai a 3 de outubro, conta com um prefácio de Jaime Gama, alguém que compreende bem estes fenómenos da história e que no seu comentário inicial refere que "a obra agora editada em português, não é, estou certo, e como a própria autora sublinha, o manifesto radical de alguém à procura de espaço público na fraturada sociedade dos Estados Unidos do tempo presente. É, antes, o apelo responsável de quem não desistiu de ver uma comunidade internacional assente em equilíbrios e uns Estados Unidos norteados por valores genuinamente democráticos".

A palavra fascismo está abundantemente espalhada pelas páginas, bem como uma outra: autoritarismo. E neste último campo a lista de protagonistas políticos que estuda é longa: Putin, Kim Jong-un, Chávez, Franco, Órban... Salva-se Salazar, que apenas tem direito a umas sete linhas.

O ponto de partida do livro é a recordação da sua chegada à América enquanto refugiada da Checoslováquia, continuando com o confronto de opiniões com os universitários a quem dá aulas estudantes na Georgetown University School of Foreign Service, intervalando fascinantes biografias de políticos em que o início democrático dos seus mandatos enveredam posteriormente por práticas políticas duras.

Para Madeleine Albright, o fascismo representa atualmente uma ameaça mais forte à paz e à justiça do que em qualquer outro momento desde o final da Segunda Guerra Mundial. No seu novo livro, Albright faz uma chamada de atenção face à sua experiência e na identificação de vários sinais de alerta: o impulso para a democracia que percorreu o mundo após a queda do Muro de Berlim retrocedeu.

Segundo a ex-secretária de Estado, as pessoas devem estar conscientes do assalto aos valores democráticos que tem ganho força em muitos países e que está também a dividir a América. Considera que os Estados Unidos, que têm liderado o mundo livre, são hoje governados por um presidente que exacerba as divisões e despreza as instituições democráticas; em muitos países, fatores económicos, tecnológicos e culturais estão a enfraquecer o centro político e a dar força aos extremistas de direita e de esquerda (com Vladimir Putin e Kim Jong-un a utilizarem muitas das táticas usadas pelos fascistas nas décadas de 1920 e 1930, por exemplo). Os sinais, refere, chegam de diferentes geografias e são alarmistas.

Na biografia que o a editora Clube do Autor disponibiliza, refere-se que a autora nasceu em 1937, em Praga, na antiga Checoslováquia, e é de origem judia. Foi educada na religião católica pelos pais, convertidos ao catolicismo para tentarem escapar à perseguição nazi. Teve de fugir duas vezes da sua cidade natal, a primeira na sequência da ocupação nazi, em 1939, a segunda após a tomada de poder pelos comunistas, em 1948. Nessa altura, a família emigrou para os Estados Unidos, onde Madeleine estudou. Em 1957 recebeu a cidadania norte-americana. Foi a primeira mulher a desempenhar o cargo de secretário de Estado dos Estados Unidos da América, de 1997 a 2001. Em 2012, recebeu a medalha da Liberdade, a mais alta distinção civil dos EUA, pelo seu contributo à democracia e à paz a nível internacional.

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