Macron com Bono e Rihanna para inverter queda de popularidade

Presidente passa de 64% de aprovação para 54% - a maior descida de um líder na V República desde Jacques Chirac em 1995.
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Depois da conversa ontem com Bono sobre pobreza, amanhã Emmanuel Macron recebe Rihanna no Eliseu com a educação na agenda. Um início de semana pop para o presidente francês cujos encontros com o líder dos U2 e com a cantora de Barbados não chegam para fazer esquecer a sondagem de domingo que revelou uma queda de dez pontos percentuais na sua popularidade desde que chegou ao poder em maio - de 64% de aprovação para 54%.

Os resultados do barómetro Ifop para o Journal du Dimanche deixaram muitos jornais de todo o mundo a questionarem-se se terá chegado ao fim a lua-de-mel entre os franceses e o criador do En Marche! (entretanto transformado em La République en Marche! ou LREM), eleito em maio com 66% dos votos face à líder da Frente Nacional, Marine Le Pen. O ex-ministro da Economia - que ainda enquanto membro do governo do socialista François Hollande criara o partido de centro e que em junho confirmou a onda vencedora ao obter maioria absoluta nas legislativas - destacou-se nos primeiros meses pela capacidade de afirmação no cenário internacional. Fosse ao deixar um alerta a Vladimir Putin sobre a Síria no encontro com o presidente russo em Versalhes ou ao desafiar o americano Donald Trump no clima.

Foram sobretudo as reformas internas que ditaram a queda de popularidade de Macron nas últimas semanas. Um fenómeno que afetou quase todos os presidentes franceses desde a criação da V República em 1958, no mesmo ano em que o Ifop começou a publicar os seus barómetros.

Charles de Gaulle recuou cinco pontos no primeiro trimestre em 1966 (de 61% de aprovação para 56%), menos um ponto do que François Mitterrand em 1981. No segundo mandato, sete anos depois, o socialista perdeu cinco pontos em três meses, os mesmos que François Hollande caiu em 2012. Valéry Giscard d"Estaing começou o mandato em 1974 já abaixo dos 50% de popularidade, vendo esta cair ainda um ponto no primeiro trimestre. George Pompidou perdeu sete pontos em 1969. A maior queda pertence contudo a Jacques Chirac. Com uma popularidade de 59% em maio de 1995, três meses depois só 39% dos franceses aprovavam a sua atuação. A única exceção é Nicolas Sarkozy, cuja popularidade subiu de 65% para 66% em 2007.

A primeira grande brecha na imagem de perfeição da presidência Macron surgiu com a demissão, a 19 de julho, de Pierre de Villiers, o chefe de Estado-Maior das Forças Armadas francesas. Este saiu do cargo por discordar dos cortes no orçamento da Defesa - uma redução de 850 milhões de euros para 2017.

Os cortes também, mas desta vez nos apoios à habitação, voltaram a deixar no centro das críticas o governo liderado por Edouard Philippe, acusado de estar a agravar as desigualdades sociais. Uma crise agravada pelo anúncio do aumento da contribuição social generalizada, um imposto sobre o rendimento pago por todos os franceses, inclusive os pensionistas e desempregados, e pela intenção de abolir o imposto de solidariedade sobre a fortuna.

Além das primeiras medidas anunciadas pelo governo do LREM, também a estratégia de comunicação do presidente tem sido duramente criticada. Se muitos aplaudiram a ideia de Macron de chegar a pé, lentamente, à Pirâmide do Louvre, para um discurso diante de uma multidão vindo aplaudir o seu novo presidente no dia da vitória sobre Le Pen, a insistência do inquilino do Eliseu em encenar as suas aparições públicas começa a irritar os analistas. Primeiro desceu de um helicóptero até ao submarino nuclear Le Terrible, depois vestiu-se de aviador para uma visita à base aérea de Istres. "O nosso presidente disfarça-se", escrevia o semanário Challenges, enquanto as redes sociais se enchiam de imagens de Macron em uniforme ao lado de fotos de Tom Cruise no filme Top Gun.

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As notícias da ida de Rihanna ao Eliseu, depois de a cantora ter desafiado o presidente a agir a favor da educação no Twitter, não vieram melhorar esta ideia de uma presidência-espetáculo.

Criticado por não ter participado na conferência internacional sobre a sida que decorreu em Paris, o presidente tem ainda de lidar com as primeiras críticas vindas de dentro do LREM. Um grupo de 1200 ativistas recorreram ao tribunal para obter a anulação dos estatutos do partido. Os revoltosos consideram que estes limitam a influência das bases no processo de decisão.

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