Lula e FHC preparam a sucessão de Michel Temer

Como a solução para a crise passa pela eleição indireta, cúpulas de PT e PSDB procuram o nome que gere menos resistências nos partidos. Entretanto, um assessor do Planalto foi preso.
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Os dois mais populares presidentes do Brasil desde a redemocratização de 1985 procuram canais de diálogo para resolver a crise gerada pela delação dos donos da empresa JBS. Fernando Henrique Cardoso (PSDB), chefe de Estado de 1995 a 2002, e Lula da Silva (PT), inquilino do Palácio do Planalto entre 2003 e 2010, estão dispostos a encontrar uma solução para o vácuo que a queda do governo de Michel Temer (PMDB), cada vez mais provável, provocará.

Como o cenário de eleições diretas parece distante, deverão ser os 594 congressistas a eleger o sucessor de Temer - e, nesse caso, as principais forças políticas estão decididas a escolher o nome mais consensual possível até para não deixar que o poder judicial tome as rédeas do processo.

"A escolha tem de ser pela política, o poder judicial, por mais legítimo que seja, não apresentará uma saída para o Brasil, o Ministério Público também não, quem acaba uma guerra é a diplomacia, não são os militares", disse o governador da Bahia, Rui Costa (PT), ao jornal O Estado de S. Paulo depois de uma reunião das cúpulas do PT, com Lula da Silva, Dilma Rousseff, governadores e senadores do partido.

Costa admitiu que, paralelamente, tem discutido o assunto com o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, porque, apesar de pertencer ao concorrente PSDB, os dois têm "interesses comuns, sem tensões, nem desgastes". E acrescentou que FHC, como é conhecido Fernando Henrique Cardoso no Brasil, será muito bem-vindo às negociações. FHC e Lula aproximaram-se em fevereiro no velório de Marisa Letícia, a mulher do ex-sindicalista, e combinaram encontrar-se caso sentissem necessidade.

E como, face à Constituição e à celeridade que o processo da provável substituição de Temer impõe, o cenário de eleições diretas está para já distante, caberá aos partidos no Congresso Nacional encontrar uma solução. O PSDB, liderado pelo senador Tasso Jereissati após o afastamento de Aécio Neves, outra baixa das delações da JBS, definiu um perfil pós-Temer: alguém filiado a um partido e sem envolvimento na Lava-Jato.

Por não ter partido, Carmen Lúcia, presidente do Supremo Tribunal, não perfaz essas condições. Por ser citado na Lava-Jato, Rodrigo Maia (DEM), presidente da Câmara dos Deputados, também não. Sobram o tecnicamente elogiado ministro das Finanças Henrique Meirelles (PSD), tolerado tanto por FHC como por Lula da Silva, de quem foi presidente do Banco Central; e Nelson Jobim, que é militante do PMDB de Temer mas fez parte dos governos liderados pelo PSDB, como ministro da Justiça, e PT, como ministro da Defesa, além de ter sido juiz do Supremo Tribunal.

Em paralelo às movimentações políticas, a polícia prendeu ontem dois ex-governadores do Distrito Federal, José Roberto Arruda (PR) e Agnelo Queiroz (PT), numa operação que investiga fraudes na construção do Estádio Mané Garrincha, em Brasília, para o Mundial de Futebol de 2014 - custou 1,575 mil milhões de reais quando o valor inicial previsto era de 600 milhões. No entanto, foi a detenção nessa operação de um ex-vice-governador, Tadeu Filipelli, que chamou mais a atenção: Filipelli é atualmente assessor da Presidência da República e dividia gabinete com Rodrigo Rocha Loures, o braço direito de Temer filmado a receber uma mala com 500 mil reais entregue por Joesley Batista. Loures, aliás, entregou essa mala ontem à polícia federal para investigação.

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