Exogenus Therapeutics: "Atribuição dos 50 mil euros vai ajudar a aferir viabilidade do projeto"

Luísa Marques, fundadora e coordenadora de operações da Exogenus Therapeutics, uma das PME inovadoras selecionadas para receber fundos do Horizonte 2020, explica o percurso da empresa
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A Exogenus Therapeutics é um caso de sucesso. Mereceu o apoio do programa COHITEC, venceu o prémio da ANJE no ano passado e agora é uma das escolhidas como viáveis para receber fundos de desenvolvimento europeus, no âmbito do Horizonte 2020. Como veem este vosso percurso - em concreto a atribuição de 50 mil euros para desenvolvimento do projeto por Bruxelas?

O programa COHITEC foi instrumental no desenvolvimento deste projeto e a juntar os membros da equipa multidisciplinar que fundaram a empresa, tendo-nos ajudado a transferir a tecnologia desenvolvida no laboratório (resulta de investigação desenvolvida em colaboração entre Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra (CNC) onde dois dos fundadores, Joana Correia e Ricardo Neves eram investigadores, a Crioestaminal e o Biocant) para uma aplicação de mercado (tratamento de feridas crónicas). Mais, o apoio inicial do COHITEC abriu-nos as portas para os primeiros investidores (Caixa Capital e Change Partners), o que ajudou a tornar o projeto empresarial uma realidade.

O reconhecimento da Anje em 2015, com o Prémio Jovem Empreendedor foi importante numa altura em que estávamos a começar a dar os primeiros passos e cuja notoriedade ajudou no estabelecimento de parcerias estratégicas a nível nacional. A este evento, seguiu-se a concretização de uma ronda de capital semente com a Caixa Capital e a Change Partners, de mais 800 mil euros, que nos permitiu montar a equipa e laboratório, e continuar o desenvolvimento do produto.

Mas para uma empresa que tem por missão resolver um problema global (feridas crónicas) o reconhecimento internacional da Comissão Europeia por intermédio do SME Instrument Phase 1 do Horizonte 2020, um instrumento altamente competitivo, deixa-nos não só orgulhosos como mais confiantes pela validação que confere ao nosso projeto. A atribuição dos 50 mil euros vai-nos ajudar a aferir a viabilidade do nosso projeto, nomeadamente na melhor definição de alguns elementos do plano desenvolvimento clínico do produto e modelo de negócio, que nos permitirá submeter uma candidatura forte ao SME Intrument Phase 2 em 2017, para eventual financiamento do desenvolvimento clínico do produto.

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Como pode a Exogenus Therapeutics melhorar a vida de quem sofre com os efeitos de doenças como a diabetes?

Estima-se que existam cerca de 415 milhões de pessoas que sofram de diabetes a nível mundial e que esse número aumente em 50% até 2040, como resultado do aumento da incidência de fatores como a obesidade e o envelhecimento. Estes pacientes têm a circulação comprometida, o que causa o seu aparecimento e dificulta o processo natural de regeneração da pele. Aproximadamente 15% dos pacientes da diabetes será afetada por feridas do pé diabético. Estima-se que dos quase 60 milhões de feridas crónicas que existem no mundo, cerca de 25 milhões sejam do pé diabético.

Pacientes de feridas do pé diabético recorrem a tratamentos frequentes, sofrem de dor constante, e em casos extremos, o risco de infeção e infeção generalizada, pode levar a amputações de membros inferiores (14-24% das feridas do pé diabético resultam em amputação) ou mesmo à morte.

O custo é considerável para os sistemas nacionais de saúde, sendo que $673 mil milhões são gastos com a diabetes no mundo (cerca de até 12% dos orçamentos dos sistemas nacionais de saúde), e cerca de 20% dos recursos de saúde gastos com a diabetes são utilizados no tratamento de feridas do pé diabético.

Adicionalmente, o custo humano de viver com uma ferida é também considerável, uma vez que feridas que demoram muito tempo a sarar têm um impacto no bem-estar físico, psíquico e social dos pacientes bem como das suas famílias. Pacientes mais novos, sentem ainda o impacto negativo no trabalho e rendimento, uma vez que a mobilidade reduzida, tratamentos frequentes e hospitalização tem impacto na população ativa e sua produtividade. A prevalência de feridas crónicas do pé diabético (assim como as feridas crónicas venosas e de pressão) tem assim, um impacto económico relevante nos sistemas nacionais de saúde, pelo que soluções que promovam uma regeneração mais rápida da pele, poderão ter um impacto positivo na vida de milhões de pessoas e na economia.

Como surgiu a ideia de criar uma empresa nesta área? E foi difícil de concretizar?

A tecnologia que está na base do projeto empresarial resulta de investigação desenvolvida em colaboração entre Centro de Neurociências e Biologia Celular da Universidade de Coimbra (CNC) onde Joana Correia e Ricardo Neves eram investigadores, a Crioestaminal SA e o Biocant.

Este projeto empresarial resulta da vontade de um grupo de investigadores do Biocant de criar valor a partir da investigação científica desenvolvida. Em 2014, com o objetivo de transferir a tecnologia desenvolvida para aplicação à medicina regenerativa no contexto da biologia de células estaminais para o mercado, os dois investigadores do CNC, Joana Correia e Ricardo Neves, candidataram-se ao programa COHiTEC (programa de aceleração de comercialização de tecnologia da COTEC Portugal que visa apoiar a valorização do conhecimento produzido em instituições de R&D Portuguesas). Durante o COHiTEC formaram equipa com a gestora Luísa Marques, então estudante do MBA Executivo da Porto Business School, com quem desenvolveram o plano de negócios para uma aplicação da tecnologia desenvolvida.

No final do programa, o projeto foi selecionado pela COTEC para integrar o Programa ACT que consiste numa fase de apoio pós programa de formação, durante o qual a equipa conseguiu atrair capital semente através da Caixa Capital (100.000 euros). O projeto empresarial foi considerado um dos top-7 português em 2014, conforme anunciado no evento Caixa Empreender, o que impulsionou os seus membros a concretizar o projeto e a fundar a empresa.

Que conselho deixariam a outros jovens empreendedores que tenham projetos de startups?

Acreditar em si mesmos e lutar! Por mais adversidades que se passe no processo de empreendedorismo é crucial acreditar no que fazemos e fazer os outros acreditar também. Fazer um programa de aceleração para ajudar a definir a ideia. Quanto mais validações externas o projeto tiver, mais fácil será munirmo-nos da confiança para acreditar perante as adversidades, e mais robusto será o conceito, o produto e a ideia de negócio. Rodear-se de uma equipa forte, motivada e de confiança, pois os recursos são sempre limitados, e só pessoas verdadeiramente motivadas conseguem levar os projetos para a frente.

Sobre a Exogenus Therapeutics

A Exogenus Therapeutics (Exo-T) atua na área da biotecnologia e dedica-se ao desenvolvimento pré-clínico e clínico de terapias avançadas para tratamento de lesões da pele. Encontra-se presentemente a desenvolver o seu primeiro produto, Exo-Wound, para tratamento de feridas crónicas. Exo-T aspira a tornar-se uma empresa de referência internacional para a utilização de exosomas como veiculo de tratamento para tratamento de feridas.

Reconhecida em 2015 com a 17ª edição do Prémio Jovem Empreendedor da ANJE, único projeto português finalista do Prémio Everis 2016, levantou já 900 mil euros de capital semente da Caixa Capital e Change Partners.

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