É um dos nomes em ascensão em Hollywood no guarda-roupa. Luís Sequeira, luso-canadiano, está de novo em alta com o trabalho sublime feito em Nightmare Alley - Beco das Almas Perdidas, de Guillermo Del Toro, film-noir potencialmente na corrida para os Óscares. Uma história sobre almas em perdição numa América dividida entre a pobreza e um glamour muito próprio. Sequeira veste gente como Rooney Mara, Bradley Cooper, Cate Blanchett ou Willem Dafoe e falou desde Los Angeles ao DN numa videochamada onde mostrou um português perfeito. E avisa que está desejoso de fazer cinema português..Qual o desafio desta vez que Guillermo Del Toro lhe propôs para Nightmare Alley? Trata-se de algo muito diferente de A Forma da Água. Este passa-se nos anos 1930 e tem um conceito completamente diferente. O Guillermo queria contar com uma história com uma acentuada noção de realidade mas com uma sensação de desenho de produção. Ele falou-me muito que este filme tem dois mundos, ambos com uma paleta específica. No começo tudo é muito velho e sujo, depois tudo é novo e dentro das tendências da moda. Tive de fazer uma imensa pesquisa, vi imensas fotografias da época para criar o mood de cada personagem..Em A Forma da Água foi nomeado para o Óscar. Voltar a estas andanças dos prémios é algo que sente possível? Da outra vez não estava à espera. Desta vez, vamos ver. Foi um ano muito forte com guarda-roupas espetaculares! Mas o meu trabalho não está pensado para os prémios, quero é sempre fazer o melhor que posso. Não quero estar aqui a dizer que quero ganhar um Óscar, mas tudo o que vier é fantástico..Num filme desta escala como lida com a questão dos prazos para a entrega do vestuário que desenha? Há muito stress? Stress? Zero!! Claro que estou a brincar! O que faço é muito stressante. Em última instância isto é arte mas também é negócio. Enfim, todos nós temos os nossos prazos para cumprir, é como se fosse uma cruz para carregar. No meu caso, tento sempre ver previamente o que é preciso. Planear com antecedência ajuda muito..As suas origens portuguesas são notórias na sua criação? Nasci no Canadá e para mim Portugal era apenas o local onde ia de férias visitar a minha avó numa aldeia perto de Albergaria. Seja como for, as memórias são fantásticas. Claro que eram outros tempos, eu era um menino. Bem, já estou a falar como um velho. De Portugal retenho os tecidos, a cor, o sol e a matéria da antiguidade. Já agora, a minha mãe era modista... Lembro-me que tinha uma arca antiga de tecidos cheios de cor. Tirei fotografias dessa arca para um dia poder usar. Aliás, uso tudo o que vejo no meu trabalho..Com o Del Toro já existe uma forma de trabalho com uma química própria? Temos reuniões curtas e na maior parte do tempo estou a trabalhar com a minha equipa. Claro que depois mostro-lhe os desenhos feitos. Trabalhamos juntos desde 2012 e já conheço bem a sua estética, sei sempre bem o que ele quer..Trabalhar no cinema português pode ser uma hipótese num futuro próximo? Como costumo dizer: é só chamarem! Estou pronto! Há dez, quinze anos também já andava a tentar encontrar trabalho no cinema português. O problema é que achei um meio muito fechado, não me abriram nem uma portinha e eu sempre tive vontade..dnot@dn.pt