Truss sucede a Boris e promete "plano ousado" para reduzir impostos

Truss venceu Rishi Sunak na votação interna do Partido Conservador. É apelidada de nova "Dama de Ferro", a alcunha pela qual era conhecida Margaret Thatcher, a primeira mulher a chefiar o governo britânico.
Publicado a
Atualizado a

Agora é oficial. Liz Truss, de 47 anos, foi eleita, esta segunda-feira, a nova líder do Partido Conservador e será nomeada a nova primeira-ministra do Governo britânico, sucedendo a Boris Johnson. Truss era chefe da diplomacia britânica, mas passou por vários cargos governamentais como subsecretária de Estado para a Infância e Educação, ministra do Ambiente, da Alimentação e dos Assuntos Rurais, ministra da Justiça e ministra do Comércio Internacional.​​​​

Dos 172.437 militantes, Liz Truss venceu com 81.326 dos votos (57%) e Rishi Sunak reuniu a preferência de 60.399 membros do Partido Conservador (43%), anunciou o presidente do Comité 1922, o conselho partidário responsável pelo processo eleitoral, Graham Brady.

Com este resultado, o Reino Unido vai ter pela terceira vez uma mulher a chefiar o Governo, depois de Margaret Thatcher e Theresa May.

Um resultado que já era esperado e que confirma a vantagem registada em várias sondagens publicadas desde julho.

"É uma honra ser eleita líder do partido", afirmou durante o seu discurso de vitória como líder do Partido Conservador e a sucessora de Boris Johnson no número 10 de Downing Street. Truss começou por agradecer a quem a acompanhou ao longo da campanha, tendo elogiado o seu adversário, Rishi Sunak, ex-ministro das Finanças.

Dirigiu depois uma palavra ao "amigo" Boris Johnson, que "conseguiu o Brexit", "esmagou Jeremy Corbyn, lançou a vacina e enfrentou Vladimir Putin". "Foi admirado de Kiev a Carlisle", destacou Truss.

"Obrigada por depositarem a vossa fé em mim para liderar o nosso grande Partido Conservador, o maior partido político da Terra", afirmou Truss, que prometeu reduzir os impostos, como já tinha anunciado durante a campanha.

"Vou apresentar um plano ousado para reduzir os impostos e fazer crescer a nossa economia", sublinhou Liz Truss, assegurando que estará "à altura dos problemas da crise energética", referindo-se, por exemplo, às questões relacionadas com "as faturas de energia das pessoas" e com o abastecimento de energia.

Além do crescimento económico, Truss pretende ainda apresentar resultados referentes ao Serviço Nacional de Saúde britânico.

Disse que quer cumprir com o que foi prometido aos eleitores ao sublinhar que os britânicos identificam-se com as convicções do partido "na liberdade, na capacidade de controlar a sua própria vida, nos impostos baixos, na responsabilidade pessoal." "Fiz campanha como conservadora e governarei como conservadora", assumiu.

A nova líder do Partido Conservador garantiu que irá "utilizar todos os fantásticos talentos do Partido Conservador" para formar o novo Governo, cuja composição deverá começar a ser anunciada esta terça-feira.

É amanhã que Boris Johnson irá informar a rainha Isabel II da demissão do cargo e a monarca indigitará Liz Truss e pedir-lhe-á que forme governo enquanto líder do partido com maioria parlamentar.

As audiências terão lugar no Castelo de Balmoral, no norte da Escócia, onde a rainha se encontra, rompendo com a tradição de acontecer no Palácio de Buckingham, tendo um porta-voz da monarca de 96 anos invocado problemas de mobilidade para evitar a viagem até Londres.

Mary Elizabeth Truss nasceu em 1975, em Leeds, é filha de um professor universitário de Matemática e de uma enfermeira, ambos do Partido Trabalhista. Estudou Filosofia, Política e Economia em Oxford, onde foi presidente dos Democratas Liberais da Universidade. Entrou na política em 1996, quando se tornou membro do Partido Conservador. É deputada desde 2010 pelo círculo eleitoral de South West Norfolk. É casada com o contabilista com Hugh O"Leary desde 2000 e tem duas filhas.

Em 2012, foi subsecretária de Estado para a Infância e Educação no governo de David Cameron e depois ministra do Ambiente, da Alimentação e dos Assuntos Rurais. No governo de Theresa May, tornou-se na primeira mulher no cargo de ministra da Justiça, passando depois a ser secretária do Tesouro. Em 2014 foi alvo de críticas e piadas pelo seu discurso nervoso quando considerou "uma desgraça" o facto de o Reino Unido importar dois terços do queijo que consumia.

Foi durante o governo de Boris Johnson que se tornou ministra do Comércio Internacional e secretária de Estado para as Mulheres e a Igualdade em 2019. Já este ano passou a chefe da diplomacia do Reino Unido e negociadora da Task Force Europa. É também conhecida por defender o livre mercado e o mínimo de intervenção estatal.

Liz Truss propõe um plano, apelidado "Trussonomics", para uma rotura com a política fiscal do governo para ajudar os britânicos com a crise do aumento de custo de vida e estimular a economia. Na sua campanha, prometeu algumas medidas como cancelar o aumento em 1,25% da taxa para a Segurança Social aplicado em abril e suspender temporariamente a taxa ambiental nas contas de energia.

A futura primeira-ministra vai enfrentar discussões com os 27 sobre o controverso protocolo para a Irlanda do Norte. Liz Truss defende que as trocas comerciais entre a Irlanda do Norte e o Reino Unido devem ser de "livre circulação" e que se deveria acabar com o papel do Tribunal de Justiça da UE "enquanto árbitro final dos diferendos entre nós".

Segundo o Financial Times, um antigo membro do governo garante que a ideia de Liz Truss "é dizer liberdade tantas vezes quanto possível e parecer como Margaret Thatcher tanto quanto possível" - tal como ela tem o hábito de usar fatos de uma só cor, de preferência azul ou vermelhos. Meios de comunicação estrangeiros já a apelidaram de a nova "Dama de Ferro", a alcunha pela qual era conhecida a primeira mulher a chefiar o governo britânico.

Em 2009 quase foi impedida de se candidatar ao parlamento por ter tido um caso extraconjugal com o deputado Mark Field, revelação que destruiu o casamento do mentor, 10 anos mais velho.

Nos últimos meses foram também descobertos vídeos embaraçosos de 1994, de quando era militante ativa dos Liberais Democratas e defendeu a abolição da monarquia, e o rival na corrida conservadora Rishi Sunak não deixou de lembrar que Truss fez campanha contra o 'Brexit' (processo de saída do Reino Unida da União Europeia) no referendo de 2016.

Mesmo no início da eleição para substituir Boris Johnson, a chefe da diplomacia britânica ficou em terceiro lugar nas rondas iniciais de votação e não era favorecida por analistas, militantes ou casas de apostas, que preferiam Penny Mordaunt ou Kemi Badenoch.

Quando se qualificou como finalista, em julho, ficou atrás de Sunak, o favorito dos deputados conservadores.

Mas ao longo dos últimos anos e semanas, Liz Truss soube reinventar-se à imagem da antiga primeira-ministra britânica Margaret Thatcher, assumindo-se como eurocética, militarista, defensora de impostos baixos e crítica de questões como os direitos dos transgéneros.

Com Lusa

Artigos Relacionados

No stories found.
Diário de Notícias
www.dn.pt