Liz Truss, a nova Dama de Ferro que se fala para suceder a Boris Johnson

Em cargos governamentais desde 2012, começou por ser ministra do Comércio Internacional no atual governo, subindo a chefe da diplomacia e ministra do Brexit.
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Usando equipamento de proteção que incluía um colete à prova de balas e um capacete, Liz Truss recriou em novembro, numa visita às tropas britânicas na Estónia, uma das mais icónicas fotografias de Margaret Thatcher. Tal como a antiga primeira-ministra conservadora em 1986, a chefe da diplomacia britânica foi fotografada em cima de um tanque. Desde então, aquela que é apontada como uma das possíveis sucessoras de Boris Johnson - a mãos com vários escândalos e uma perda de popularidade - juntou mais uma pasta ao seu portfólio: a de ministra do Brexit. Terá sido um presente envenenado do primeiro-ministro para evitar a concorrência?

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Segundo o Financial Times, um antigo membro do governo garante que a ideia de Liz Truss "é dizer liberdade tantas vezes quanto possível e parecer como Margaret Thatcher tanto quanto possível" - tal como ela tem o hábito de usar fatos de uma só cor, de preferência azul ou vermelhos. Meios de comunicação estrangeiros já a apelidaram de a nova "Dama de Ferro", a alcunha pela qual era conhecida a primeira mulher a chefiar o governo britânico. Depois dela, só outra mulher foi primeira-ministra no Reino Unido, a também conservadora Theresa May (2016-2019).

Uma sondagem no site dos conservadores revela que Liz Truss é a favorita entre os eleitores do seu partido para ser a próxima mulher a ocupar o número 10 de Downing Street, numa altura em que Boris Johnson enfrenta várias polémicas. Surge com 23% das intenções de voto, à frente do atual ministro das Finanças, Rishi Sunak (20%), que em agosto era o preferido entre os conservadores. Contudo, entre os eleitores em geral, Sunak parece ainda ser o favorito, com 43% dos inquiridos pela Redfield & Wilton Strategies para o MailOnline a dizer que seria melhor ou muito melhor primeiro-ministro do que Boris Johnson, frente a 23% que escolheram Liz Truss.

Filha de um professor universitário de Matemática e de uma enfermeira de esquerda (cresceu a gritar em manifestações "Maggie, Maggie, Maggie, out, out, out"), Elizabeth Truss nasceu em Leeds há 46 anos. É membro do Partido Conservador desde 1996, tendo antes passado pelos liberais-democratas quando estudava Filosofia, Política e Economia em Oxford. Em criança viveu na Escócia e no Canadá.

Foi eleita deputada (o pai recusou fazer campanha por ela) pela primeira vez em 2010 pelo círculo eleitoral de South West Norfolk. Isto depois de falhar as primeiras tentativas em 2001 e 2005. Os conservadores locais ainda tentaram acabar com a sua candidatura quando veio a público que tinha tido um caso extramatrimonial, mas não conseguiram. É casada desde 2000 com Hugh O"Leary e tem duas filhas, tendo o casamento sobrevivido ao escândalo.

Desde que entrou no Parlamento, ocupou vários cargos governamentais com os últimos três primeiros-ministros. Com David Cameron, em 2012, começou por ser subsecretária de Estado para a Infância e Educação, antes de se tornar ministra do Ambiente, da Alimentação e dos Assuntos Rurais - ficou conhecida por um discurso no congresso do partido, em 2014, que foi alvo de chacota durante anos, em que considerou "uma desgraça" o facto de o Reino Unido importar dois terços do queijo que consumia. O discurso revelou uma das suas fraquezas: fica nervosa a falar em público, sendo algo que tem procurado melhorar.

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No referendo sobre o Brexit de 2016, fez campanha contra a saída do Reino Unido da União Europeia, mas acabou por se tornar defensora da decisão dos britânicos. Com Theresa May, tornou-se na primeira mulher no cargo de ministra da Justiça, passando depois a ser secretária do Tesouro. A nível político, é conhecida por defender o livre mercado e o mínimo de intervenção estatal.

Apoiante da candidatura de Boris Johnson a líder dos conservadores e primeiro-ministro (chegou a pensar avançar ela própria, mas recuou), foi nomeada por este, em julho de 2019, ministra do Comércio Internacional - conseguiu acordos com o Japão e o Canadá, entre outros. Em setembro do mesmo ano, acumulou esse cargo com a pasta de secretária de Estado para as Mulheres e a Igualdade. Na remodelação ministerial de setembro deste ano, foi promovida a chefe da diplomacia do Reino Unido e, no dia 19 de dezembro, tornou-se negociadora da Task Force Europa, na prática ministra para o Brexit, após a demissão de Lord Frost em desacordo político com Boris Johnson.

Liz Truss tem assim nas mãos as discussões com os 27 sobre o controverso protocolo para a Irlanda do Norte, que na prática cria uma barreira no Mar da Irlanda entre este território e o resto do Reino Unido. "A posição britânica não mudou. Temos necessidade de as mercadorias circularem livremente entre a Grã-Bretanha e a Irlanda do Norte, de acabar com o papel do Tribunal de Justiça da UE enquanto árbitro final dos diferendos entre nós", escreveu Truss no Twitter. Alguns veem a sua nomeação como uma armadilha para a mulher que se estava a posicionar para poder suceder a Johnson.

O primeiro-ministro enfrenta vários problemas que têm afetado a sua popularidade, nomeadamente as polémicas em torno das festas de Natal que terão ocorrido em Downing Street quando havia restrições a tal por causa da pandemia de covid-19. Mas também por ter ido em defesa de um deputado conservador que era acusado de violar as leis de lobbying, antes de recuar, e de questões sobre quem pagou as obras milionárias que fez no seu apartamento oficial ou até as suas férias de verão. O descontentamento sente-se entre os deputados conservadores, alguns dos quais votaram contra a imposição de novas restrições à covid-19 (a lei só passou porque tinha apoio da oposição trabalhista), havendo já quem questione se não terá que enfrentar em breve uma moção de censura dentro do partido. O último revés foi a perda eleitoral num bastião conservador, para os liberais-democratas.

Margaret Thatcher: Foi a primeira mulher chefe do governo britânico. A conservadora, conhecida como a Dama de Ferro, esteve no poder entre 1979 e 1990, tendo sido primeira-ministra mais tempo do que qualquer um dos antecessores e sucessores no século XX. Thatcher morreu em 2013, antes de outra mulher chegar ao n.º 10 de Downing Street.

Theresa May: Só em 2016 outra mulher chegou a primeira-ministra britânica, após a demissão de David Cameron devido à derrota no referendo sobre o Brexit. Theresa May ficou no cargo até 2019, sendo afastada pelo próprio partido depois de não conseguir negociar a saída do Reino Unido da União Europeia.

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