Livro de José Brandão com impressões de 26 viajantes

O investigador José Brandão afirma que os viajantes estrangeiros que visitaram Portugal entre os séculos XVII e XIX, referem-se aos portugueses como "altivos, vaidosos e impostores".
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"Esta imagem só começa a diluir-se no princípio do século XX, pois até aí, em resumo, os viajantes que nos visitaram, referiram-se aos portugueses como vaidosos, impostores, altivos e arrogantes, hipócritas, vingativos, ignorantes, velhacos, traiçoeiros, desonestos, pedinchões, inconstantes, supersticiosos, fanfarrões, preguiçosos, mas também sensuais e ciumentos", disse.

José Brandão reuniu na obra "Este é o Reino de Portugal", os relatos de 26 viajantes ilustres que visitaram Portugal do século XVII ao XIX, e escreveram as suas impressões, entre eles, William Beckford, Carl Israel Ruders, Hans Christian Andersen, o príncipe Felix Lichnowsky, Marianne Baille e Maria Ratazzi.

O escritor espanhol Miguel Unamuno é o único viajante referenciado no século XX, e que afirmou que os portugueses são um "povo suicida".

Os estrangeiros "descobrem Portugal, essencialmente depois do terramoto de 1755, logo não encontrando o país nas melhores condições socioeconómicas" e "queixam-se de tudo, esquecendo o que certamente sofreram noutros países por onde andaram ou até nos seus próprios", disse o autor.

José Brandão afirma na sua obra que "chegar a Portugal era uma façanha absolutamente corajosa", mas no final do século XVIII foi fértil o interesse de viajantes" e já no século XIX com o desenvolvimento das políticas de Fontes Pereira de Melo, o comboio, as estradas e as pontes facilitaram a viagem, mas "alguns deles nem saíram de Lisboa e dos seus arredores".

Em 1866, o escritor Hans Christian Andersen, por exemplo, além de Lisboa, deslocou-se a Sintra, Setúbal e Arrábida e refere-se a Portugal como o "paraíso terreal".

A obra de José Brandão segue uma linha cronológica sendo cada período antecedido de uma contextualização político socioeconómica.

"Quando saiam de Espanha e chegavam a Portugal, todos os viajantes ao longo dos tempos sentiam que viam um mundo novo", disse.

Entre esses viajantes que começam a fazer o "grand tour, incluindo Portugal", no século XIX, "o grupo mais numeroso é o dos autores procedentes das ilhas britânicas".

Em declarações á Lusa José Brandão afirmou que dos 26 viajantes estudados os que mais o impressionaram foi Maria Ratazzi, que escreveu "Portugal de Relance", por "ser arguta e não se ter ficado apenas por Lisboa", e J.B.F. Carrère "pela frontalidade, e por não ter papas na língua".

Carrère visitou Portugal em 1796 e aconselhou "o conhecedor de belas-artes, o físico, o simples curioso [e] o filósofo" a não visitarem Lisboa pois não iam encontram nada "com que satisfazer a sua curiosidade ou descobrir objetos dignos do seu interesse".

Ratazzi, que Bordalo Pinheiro caricaturou no "Álbum de Glórias", esteve em Portugal em 1880 e refere-se aos portugueses como "indolentes", "belos e bem feitos, mas prejudicam muito estas qualidades pelo excesso de vaidade" e em todo o país, "excetuando no Porto e nas [regiões] montanhosas, o 'farniente' é a suprema lei".

José Brandão, 65 anos, publicou vários artigos entre 1983 e 1995 na imprensa, e é autor dos livros "Sidónio -- Contribuição para a história do presidencialismo", "Carbonário -- O Exército secreto", e "Portugal trágico -- o regicídio", entre outros.

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