Lisbon Players querem continuar no Estrela Hall
Celia Williams, 51 anos, é inglesa e chegou a Portugal em 1981. Tinha morado com o marido músico no Brasil durante dois anos e, depois, em vez de voltarem a casa, decidiram experimentar este pequeno país onde também se falava português. Ficaram até hoje. Celia deu umas aulas de inglês mas procurou sempre continuar a sua carreira como atriz. "Quando descobri os Lisbon Players fiquei apaixonada, pelo grupo e por este lugar", recorda. De então para cá, tem participado em muitas das produções do grupo e, mesmo quando não está em cena, o mais provável é que esteja a trabalhar nos bastidores. "Os Lisbon Players são um grupo de teatro amador, o que significa que ninguém é pago. Fazemos isto porque gostamos."
Como ela, Cassandra Woolford, que é técnica contabilista e que encontrou ali o espaço para desenvolver a sua paixão pelo teatro - há seis anos que trabalha com a companhia não só como diretora financeira mas também como assistente de encenação. Ou Alexandra Bochman que é designer e que assina grande parte das cenografias dos espetáculos e ainda faz a assessoria de imprensa.
Mas esta dedicação pode não ser suficiente para salvar os Lisbon Players. O grupo, criado em 1947 e que desde então apresenta apenas espetáculos em língua inglesa, enfrenta, mais uma vez, a ameaça de ter que sair do seu espaço, o Estrela Hall. A sala de espetáculos, junto ao Jardim da Estrela, em Lisboa, está situada no chamado "quarteirão inglês", onde têm funcionado vários serviços historicamente ligados à comunidade britânica, e que, tal como vinha a ser anunciado há dois anos, se prepara para ser vendido pelo Governo Britânico a um privado por 3,5 milhões de euros. O contrato-promessa de compra e venda já foi assinado e a ordem de despejo poderá chegar a qualquer momento.
"Nós não queremos sair daqui", diz Celia Williams, falando em nome da associação que tem, atualmente, mais de 270 sócios que pagam 5 euros anuais de quota. Essa é uma das fontes de rendimento do grupo. A outra é a receita de bilheteira. "Não temos subsídios, nunca tivemos." É com esse dinheiro que produzem os espetáculos e mantêm o edifício, ainda no ano passado fizeram diversas obras - substituição do sistema elétrico e da régie, instalação de portas corta-fogo, remodelação da casa de banho do público e criação de uma casa de banho para os artistas. "Investimos muito neste espaço. Ainda não acreditamos que vamos sair."
Enquanto preparam uma petição para reunir os muitos apoios que têm recebido, continua a trabalhar. "É o que o podemos fazer. Trabalhar cada vez mais." Em 2015, tiveram seis produções que tiveram mais de 4600 espetadores. Além dos espetáculos e dos respetivos ensaios, ali há também workshops e lançamentos de livros. E faz questão de sublinhar: "Isto não é um clube de ingleses. Mais de metade dos nos nossos espetadores são portugueses." E também são cada vez mais os não ingleses que ali trabalham. "Este é o único sítio onde os atores podem fazer teatro em inglês e preparar-se, por exemplo, para concorrer a escolas no estrangeiro."
Foi o que aconteceu com Elizabeth Williams, 21 anos, a filha mais nova de Celia, que se estreou nos Lisbon Players com 11 anos e que depois ter estudado teatro em Londres está agora a começar a sua carreira como atriz. "Já nos apresentámos noutras salas, mas não é mesma coisa", acrescenta Elizabeth. Ali é a casa dos Lisbon Players. Há sofás, cadeiras antigas, uma estante com livros e filmes que os sócios podem levar emprestados. Nas paredes estão as memórias de outros espetáculos. Fotografias a preto e branco de She Stoops to Conquer (1948) ou Hay Fever (1972). Recortes de jornais destes tantos anos de história. Fotografias já a cores de Electra, Dracula, Cabaret, A Doll"s House ou Measures for Measures. O grupo não faz só autores ingleses, como se vê. Todos os anos, entre maio e junho, recebem propostas que depois são "muito discutidas" até serem aprovadas ou não. "Queremos ter peças de diferentes autores, de diferentes géneros, com muitos e poucos atores, é preciso encontrar um equilíbrio", explica Elizabeth. Esta semana, estreia Casement, um monólogo encenado por um dos mais antigos colaboradores do grupo, Jonathan Weightman, e que só vai estar em cena na sexta e no sábado. Em abril vão fazer Antígona, de Sófocles, e em junho apresentam O Misantropo, de Molière. "E este ano ainda queremos fazer Shakespeare. Nesta sala."