Lisboetas querem cuidados de saúde e património na Colina
A frase, proferida por uma lisboeta durante a sessão de ontem na Assembleia Municipal de Lisboa (AML) referindo-se ao futuro daquele território do coração da capital, poderia bem resumir a tónica dos quatro debates temáticos que ontem foram recordados pelo parlamento da cidade. Agora, e já com a garantia de que a apreciação dos Pedidos de Informação Prévia (PIP) para reconverter quatro dos hospitais ali localizados ou em hotéis ou em prédios de habitação está suspensa, os deputados municipais vão preparar propostas baseadas na opinião dos cidadãos, a serem votadas no dia 25. Para já, o balanço é de que Lisboa está contra o projeto.
O encerramento dos hospitais de Santa Marta, São José, Santo António dos Capuchos, Miguel Bombarda e Desterro - os dois últimos já desativados - não pode deixar a população da Colina de Santana sem cuidados de saúde, a memória do território deve ser evocada num espaço museológico a criar, o património móvel e imóvel deve ser preservado, os projetos previstos não devem implicar a substituição dos atuais residentes por cidadãos mais abastados e em causa deve estar uma intervenção global em toda a área compreendida entre as avenidas Almirante Reis e da Liberdade. São estas as ideias que, desde dezembro e segundo os relatores que apresentaram as suas conclusões, têm vindo a ser defendidas pelos lisboetas nos debates promovidos, numa iniciativa alheia à câmara municipal, pela AML.
"Não acredito que em democracia haja uma política de factos consumados sistematicamente", sustentou, no discurso de encerramento, a presidente do parlamento da cidade, Helena Roseta, antes de lembrar que é da competência daquele órgão autárquico "tomar posição" sobre a vida da capital e "fiscalizar a ação da câmara municipal". A autarquia abrira em julho um período de discussão pública para debater os PIP para a reconversão dos complexos de São José, Santa Marta, Santo António dos Capuchos e Miguel Bombarda ou em hotéis ou em prédios de habitação, mas acabou por suspender a sua apreciação, com o vereador do Urbanismo, Manuel Salgado, a comunicar, em plena sessão temática de 4 de fevereiro, que era agora favorável a uma solução global. Mais tarde, a 28, defenderia num artigo de opinião publicado no Diário de Notícias, a constituição de um Gabinete de Apoio aos Bairros de Intervenção Prioritária.
A forma como o processo foi conduzido tem sido, de resto, uma das críticas mais vezes ouvidas, a par da aparente inevitabilidade do anunciado fecho das unidades de saúde, que deverão ser transferidas para o novo Hospital de Todos-os-Santos (Marvila), que nunca estará pronto antes de 2017. O debate continua no próximo dia 25.