Há malabaristas, equilibristas, palhaços e músicos. Variedade não falta à sexta edição do Chapéus na Rua, festival de circo e de artes de rua que decorre entre sexta-feira e domingo na freguesia de Arroios, em Lisboa. E, apesar do nome do evento, na rua mesmo só haverá os espetáculos previstos para o Campo Mártires da Pátria, já que boa parte deles acontece no Mercado de Arroios e no Mercado de Culturas. "Roubaram-nos a rua", lamenta Rita Sarzedas, da Corrente d'Artes, que organiza este evento, o qual, em anos sem pandemia, se desenrolava ao ar livre e sem restrições.."Quando digo que perdemos a rua é porque perdemos a liberdade de qualquer pessoa poder entrar livremente sem ter de ter uma reserva", explica a diretora executiva da associação, nostálgica dos tempos em que os espetáculos decorriam noutras zonas da cidade. "Uma das coisas que nós mais gostávamos de trabalhar no largo do Intendente era que nós podíamos oferecer a cultura às personagens do Intendente e quem conhece o Intendente sabe... Estamos a falar de prostituição, toxicodependência, sem-abrigos, que todos os anos estavam sentados na fila da frente a ver os espetáculos, ajudavam-nos a pôr as cadeiras... e neste momentos nós não podemos oferecer-lhes a eles cultura, porque a partir do momento em que metemos uma porta as pessoas deixam de entrar, diz, admitindo ainda muitas dificuldades na preparação do festival, com as "regras a mudar de 15 em 15 dias". "É trabalhar num grande vazio, estivemos a trabalhar todos estes meses sem saber o que é que iria acontecer", diz..Chegados ao dia, o festival de busking vai mesmo acontecer. "Somos um festival a chapéu. Isso quer dizer que a nossa bilheteira é democrática, permitindo a cada pessoa que, consoante o seu gosto pelo espetáculo e as suas possibilidades financeiras, pague o que é justo pelo espetáculo", explica Rita Sarzedas. Um conceito que, por cá, ainda não entrou bem na cabeça do espetador. "Em Portugal, infelizmente, a arte de rua ainda está conotada como arte pobre e as pessoas acabam por doar uma gorjeta e não doar realmente o valor do bilhete", lamenta. "Aquilo que nós tentamos é apelar a uma doação consciente. Ou seja, de uma pessoa que tem o salário mínimo não esperamos que pague 20 euros por um espetáculo; mas se calhar de uma que ganhe dois mil nós esperamos que sim. E é esse apelo a essa doação consciente que nós fazemos", afirma..Até porque, garante, qualidade é algo que não falta a estes artistas de rua. "Nós já trouxemos artistas que já trabalharam no Cirque du Soleil. Simplesmente o Cirque du Soleil tem toda a sua fama e nós aqui ainda estamos a criar esse trabalho", alerta..Variedade de artistas.Este ano, a abertura do festival, esta sexta-feira, está por conta da União Palhaças em Portugal (UPP), mas pelos três espaços do Chapéus na Rua vão passar João Farinha, que mistura malabarismo e equilibrismo, Witumtum, que aposta na música e no malabarismo, os equilibristas venezuelanos Zaperoco Circus, a música de Marta de Carvalho, o freak show dos Fric A Frac, a palhaça Tânia Safaneta, os chilenos Los Pepes e Catarina Mota, num total de nove espetáculos.."Tentamos trazer uma grande variedade. Este ano tivemos especial preocupação em trazer artistas residentes em Portugal. Não foi por dificuldades de orçamento de trazer pessoas de fora, foi essencialmente para apoiar quem está em Portugal", afirma Rita Sarzedas, realçando as dificuldades que os artistas, nomeadamente os que atuam de rua, enfrentaram e continuam a enfrentar com a pandemia. "Tem sido complicado, mas é preciso continuar a forçar e não desistir... É preciso continuar a inventar trabalho, arranjar soluções para os problemas que encontramos devido a toda esta pandemia que estamos a viver", vinca..A iniciativa Circo nos Mercados - que leva artistas a atuar nos mercados de Arroios e 31 de janeiro - é outro projeto com o qual a Corrente d'Artes pretende apoiar estes artistas. O plano é levar este projeto a outros mercados de Lisboa, área metropolitana e até país. "É talvez o meu projeto preferido, pelo impacto que tem no espaço", diz Rita Sarzedas..sofia.fonseca@dn.pt
Há malabaristas, equilibristas, palhaços e músicos. Variedade não falta à sexta edição do Chapéus na Rua, festival de circo e de artes de rua que decorre entre sexta-feira e domingo na freguesia de Arroios, em Lisboa. E, apesar do nome do evento, na rua mesmo só haverá os espetáculos previstos para o Campo Mártires da Pátria, já que boa parte deles acontece no Mercado de Arroios e no Mercado de Culturas. "Roubaram-nos a rua", lamenta Rita Sarzedas, da Corrente d'Artes, que organiza este evento, o qual, em anos sem pandemia, se desenrolava ao ar livre e sem restrições.."Quando digo que perdemos a rua é porque perdemos a liberdade de qualquer pessoa poder entrar livremente sem ter de ter uma reserva", explica a diretora executiva da associação, nostálgica dos tempos em que os espetáculos decorriam noutras zonas da cidade. "Uma das coisas que nós mais gostávamos de trabalhar no largo do Intendente era que nós podíamos oferecer a cultura às personagens do Intendente e quem conhece o Intendente sabe... Estamos a falar de prostituição, toxicodependência, sem-abrigos, que todos os anos estavam sentados na fila da frente a ver os espetáculos, ajudavam-nos a pôr as cadeiras... e neste momentos nós não podemos oferecer-lhes a eles cultura, porque a partir do momento em que metemos uma porta as pessoas deixam de entrar, diz, admitindo ainda muitas dificuldades na preparação do festival, com as "regras a mudar de 15 em 15 dias". "É trabalhar num grande vazio, estivemos a trabalhar todos estes meses sem saber o que é que iria acontecer", diz..Chegados ao dia, o festival de busking vai mesmo acontecer. "Somos um festival a chapéu. Isso quer dizer que a nossa bilheteira é democrática, permitindo a cada pessoa que, consoante o seu gosto pelo espetáculo e as suas possibilidades financeiras, pague o que é justo pelo espetáculo", explica Rita Sarzedas. Um conceito que, por cá, ainda não entrou bem na cabeça do espetador. "Em Portugal, infelizmente, a arte de rua ainda está conotada como arte pobre e as pessoas acabam por doar uma gorjeta e não doar realmente o valor do bilhete", lamenta. "Aquilo que nós tentamos é apelar a uma doação consciente. Ou seja, de uma pessoa que tem o salário mínimo não esperamos que pague 20 euros por um espetáculo; mas se calhar de uma que ganhe dois mil nós esperamos que sim. E é esse apelo a essa doação consciente que nós fazemos", afirma..Até porque, garante, qualidade é algo que não falta a estes artistas de rua. "Nós já trouxemos artistas que já trabalharam no Cirque du Soleil. Simplesmente o Cirque du Soleil tem toda a sua fama e nós aqui ainda estamos a criar esse trabalho", alerta..Variedade de artistas.Este ano, a abertura do festival, esta sexta-feira, está por conta da União Palhaças em Portugal (UPP), mas pelos três espaços do Chapéus na Rua vão passar João Farinha, que mistura malabarismo e equilibrismo, Witumtum, que aposta na música e no malabarismo, os equilibristas venezuelanos Zaperoco Circus, a música de Marta de Carvalho, o freak show dos Fric A Frac, a palhaça Tânia Safaneta, os chilenos Los Pepes e Catarina Mota, num total de nove espetáculos.."Tentamos trazer uma grande variedade. Este ano tivemos especial preocupação em trazer artistas residentes em Portugal. Não foi por dificuldades de orçamento de trazer pessoas de fora, foi essencialmente para apoiar quem está em Portugal", afirma Rita Sarzedas, realçando as dificuldades que os artistas, nomeadamente os que atuam de rua, enfrentaram e continuam a enfrentar com a pandemia. "Tem sido complicado, mas é preciso continuar a forçar e não desistir... É preciso continuar a inventar trabalho, arranjar soluções para os problemas que encontramos devido a toda esta pandemia que estamos a viver", vinca..A iniciativa Circo nos Mercados - que leva artistas a atuar nos mercados de Arroios e 31 de janeiro - é outro projeto com o qual a Corrente d'Artes pretende apoiar estes artistas. O plano é levar este projeto a outros mercados de Lisboa, área metropolitana e até país. "É talvez o meu projeto preferido, pelo impacto que tem no espaço", diz Rita Sarzedas..sofia.fonseca@dn.pt