De puto do Ribatejo a carrasco da Holanda na Liga das Nações
De Benavente ao golo decisivo na Liga das Nações. Gonçalo Guedes nasceu na vila ribatejana a 29 de novembro de 1996, fez-se futebolista no Benfica, saiu para o Paris Saint-Germain e depois para o Valencia, começou a final four do novo torneio de seleções da UEFA no banco e foi uma das novidades do onze de Fernando Santos no jogo em que foi herói.
Em síntese, é esta a história do menino que sempre adorou futebol e que se habituou a jogar com os mais velhos. "Ele tinha 6 ou 7 anos e era o mais novo de todos. Esse grupo que costumava jogar tinha vários escalões etários, até aos 20 anos, e o meu irmão era o mais pequeno... a bola até era bem maior do que os pés dele!", contou ao DN o irmão João Maria Guedes, em dezembro de 2016.
Aos oito anos, mesmo sendo demasiado novo, integrou aos oito anos a equipa de infantis em que jogava o mano, dois anos mais velho. "Ele não podia jogar porque tinha menos dois anos do que os outros, por isso treinava e apenas jogava em particulares ou em torneios", recordou.
Porém, no final dessa época, chegou a oportunidade que lhe mudaria a carreira e a vida. "O meu pai [Rogério Guedes] era o delegado da nossa equipa e organizou um torneio para o qual convidou as escolas da Geração Benfica e no jogo contra eles o Gonçalo impressionou e foi logo convidado para ir para o Benfica", lembrou João Maria, que era guarda-redes e um ano depois também rumou à Luz.
Quem o levou para o Benfica foi a Helena Costa, que esteve nesse torneio e trabalhava para as águias: "Ele sobressaiu dos demais e no final do jogo fui logo falar com os pais e levámo-lo para as nossas escolas. Na altura, treinávamos nos Olivais e o Gonçalo integrou logo a equipa. No primeiro torneio que fez, em Lourel, ganhámos a final por 5-0 e ele marcou os cinco golos."
O miúdo de Benavente deixava a sua marca numa história construída em todos os escalões de formação do clube da Luz. "Foi um período que exigiu muito da nossa família. O meu pai levava-nos todos os dias aos treinos. Fazíamos o trajeto Benavente-Lisboa. Acabou por ser um investimento familiar que está agora a dar frutos com o meu irmão", assume João Maria, que vislumbrou em Gonçalo um futuro craque quando "começou a dar nas vistas e a jogar em escalões acima da idade dele", algo que se tornou natural ao longo da sua carreira nas camadas jovens dos encarnados.
"Ao contrário dos outros miúdos, o Gonçalo vinha de um meio rural e isso dava-lhe outro tipo de destreza que marcava o seu comportamento. Era preciso ter 20 olhos em cima dele. Recordo-me de que, num daqueles torneios que costumávamos fazer, as equipas almoçavam todas numa escola, e após uma refeição eles pediram--me para irem jogar às escondidas no pátio. Disse que sim, afinal estavam todos debaixo de olho. Quando chegou a hora de irmos embora, ninguém sabia onde estava o Gonçalo. Não podia estar longe... Fomos todos à procura dele e, de repente, vimos uma mancha vermelha no cimo de uma árvore bem alta... era o Gonçalo", recordou a atual comentadora da Sport TV. "Ele fazia birra porque não queria comer a fruta no final das refeições. Uma vez, andou um dia inteiro com uma pera na mão e os colegas obrigaram-no a comer porque senão não jogava", acrescentou.
Gonçalo Guedes marcou este domingo o seu primeiro golo oficial ao serviço de Portugal, depois de três em jogos particulares, ao inaugurar o marcador face à Holanda, na final da Liga das Nações, no Estádio do Dragão.
Aos 60 minutos, numa jogada entre dois jogadores made in Seixal, o avançado do Valência, que se estreou como internacional AA em 14 de novembro de 2015, na Rússia, faturou à entrada da área, depois de um passe de Bernardo Silva.
Gonçalo Guedes estreou-se a marcar por Portugal a 10 de novembro de 2017, em Viseu, frente à Arábia Saudita (3-0), e, a 7 de junho de 2018, bisou frente à Argélia (3-0), no Estádio da Luz, em Lisboa, em dois jogos de preparação para o Mundial 2018.
Em termos de finais, o jogador de 22 anos, que substituiu João Félix no onze, em relação à meia-final com a Suíça (3-1), é o segundo português a faturar, depois do herói Éder.
O atual jogador do Lokomotiv Moscovo marcou o golo mais importante da história do futebol português, aos 109 minutos, do prolongamento da final do Europeu de 2016, perante a anfitriã França (1-0), em pleno Estádio de Saint-Denis.
Na outra final, do Europeu de 2004, Portugal perdeu por 1-0 frente à Grécia, no Estádio da Luz, em Lisboa.
Gonçalo Guedes foi substituído aos 75 minutos, cedendo o lugar ao benfiquista Rafa.