Laser revela milhares de ruínas dos maias

Cientistas usaram uma tecnologia de feixes de laser conhecida como Lidar, através da qual mapearam florestas inacessíveis no norte da Guatemala que permitiu desvendar ruínas da civilização
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Em 2016, um grupo de cientistas recorreu a feixes de laser para mapear florestas inacessíveis no norte da Guatemala, de forma a desvendar o local onde outrora existiu uma povoação maia. Segundo o jornal Washington Post, os resultados do estudo foram anunciados em fevereiro e publicados esta semana na revista Science, e a respetiva análise inclui uma dúzia de parcelas que ocupam uma área de cerca de 830 metros quadrados, ou seja, oito vezes a área da cidade de Lisboa.

"Olá a todos: já perceberam que os investigadores acabaram de utilizar lasers para encontrarem cerca de 60 mil novas ruínas na Guatemala? Isto é território SAGRADO", escreveu a arqueóloga Sarah Parcak no Twitter, logo em fevereiro quando foram anunciadas as descobertas.

Parcak costuma recorrer a dados de satélites para observar remotamente o Egito e outros lugares. "A escala de informação que agora conseguimos recolher não tem precedentes", disse, ao mesmo tempo em que acrescenta que a pesquisa vai "sustentar teorias de longa data sobre a antiga sociedade maia".

No total foram identificadas 61 480 estruturas antigas, sendo que grande partes delas foram descobertas recentemente. "A grande maioria das estruturas são plataformas de alvenaria em ruína do quotidiano dos maias, que deveriam viver em casas construídas com mastros e palha [sob essas plataformas]", disse o arqueólogo Thomas Garrison, um dos autores do estudo, ao jornal Público.

De acordo com outra das autoras do estudo, Mary Jane Acuña, que também dirige um projeto arqueológico vocacionado para o estudo da cidade guatemalteca de El Tintal​​​​​, este estudo mostra "a exploração e a manipulação" do império Maia na geografia envolvente, tanto que a agricultura da civilização sustentou grandes populações, em troca de alianças na região.

As estruturas identificadas ocupam uma área de 60 milhas (cerca de 97 quilómetros) de caminhos, estradas e canais que ligaram cidades, milharais, habitações com pequenas e grandes dimensões e fortificações defensivas que sugerem a ocorrência de ataques ao Império Maia a partir da América Central.

Anteriormente, os arqueólogos argumentavam a existência de pequenas cidades desconectadas que delimitavam as terras baixas da antiga civilização.

Através da Pacunam (Fundação Património Cultural e Natural Maia), com sede na Guatemala, os cientistas conduziram uma pesquisa expansiva e massiva através de uma técnica de deteção e variação de luz e mapearam locais arqueológicos, nomeadamente cidades do antigo Império Maia como Tikal e Uaxactun.

Para o efeito, os investigadores recorreram a uma tecnologia denominada Lidar, que consiste no lançamento de lasers que penetram na vegetação e fazem ricochete assim que atingem superfícies duras. Foram lançados 15 feixes de laser por cada metro quadrado, o que permitiu mostrar as ruínas da civilização que ocupam uma área de 36 700 metros quadrados, dando aos autores uma estimativa de terem sido construídas perto de 2,7 milhões de estruturas com capacidade para acolher sete a 11 milhões de pessoas durante a era clássica da civilização (cerca de 100 pessoas por quilómetro quadrado), entre os anos 650 e 800, em linha com estimativas de outras populações maia.

Esta é uma tecnologia que começou por servir para mapear as ruas de Fallujah, no Iraque, e que agora evolui como ferramenta da arqueologia, que permite descobrir o que se esconde debaixo do solo.

"[A Lidar] tem-nos mostrado o que os arqueólogos já suspeitavam há algum tempo: os maias eram mestres da paisagem. Afinal, construíram um mundo que lhes permitiu prosperar cerca de dois mil anos. Parece que muitas das suas práticas, sobretudo as agrícolas, eram mais sustentáveis no passado do que são hoje", disse Thomas Garrison.

Por outro lado, de acordo com o arqueólogo Arlen Chase, da Universidade de Nevada, nos EUA, a civilização maia era mais complexa do que se pensava. Juntamente com a sua mulher, Diane Chase, descreveu terrenos agrícolas elaborados na cidade maia de Caracol, no Belize.

"Ninguém iria acreditar que descobrimos socalcos. A mudança de paradigma que previmos que podia vir a acontecer está de facto a acontecer", disse Arien.

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