Kuczynski à frente de Fujimori mas vitória só é certa sexta-feira
O voto dos peruanos no exterior vai decidir quem será o próximo presidente do país: o antigo diretor do banco central Pedro Pablo Kuczynski ou Keiko Fujimori, filha do antigo presidente Alberto Fujimori, que cumpre atualmente pena de prisão por violação de direitos humanos e fraude ao Estado.
Ao final do dia de ontem, quando se encontravam escrutinados praticamente todos os votos com exceção de algumas localidades remotas, Kuczynski recolhia 50,32% dos votos enquanto Fujimori tinha 49,68%, ou seja, apenas uma diferença de 1,05% a separar os dois candidatos que se enfrentaram na segunda volta das presidenciais realizadas no domingo.
Perante estes números, os 3,8% de peruanos residentes no estrangeiro com direito a voto vão revelar-se determinantes para a vitória quer de Kuczynski (também conhecido pelas iniciais do seu nome, PPK) quer de Fujimori. Conforme anunciou o responsável da comissão eleitoral peruano, a Oficina Nacional de Procesos Electorales (ONPE), Mariano Cucho, o sentido de voto dos 884 924 nacionais a residir no estrangeiro deverá ser conhecido no final da semana, com os resultados oficiais a serem divulgados na semana seguinte.
As atas das mesas de voto localizadas no estrangeiro começaram ontem a chegar ao Peru, mas as de países mais distantes só chegarão na sexta-feira ou até no sábado. No entanto, antes desta data já será conhecida a tendência de voto, permitindo determinar o nome do vencedor. Ainda segundo o responsável da ONPE, está afastada qualquer possibilidade de fraude eleitoral, tendo pedido prudência aos candidatos e seus apoiantes.
Para a segunda volta das presidenciais estavam inscritos 20,9 milhões de peruanos, tendo votado 17,2 milhões, ou seja, uma taxa de participação de 82,2%.
Durante a campanha, Fujimori surgiu em primeiro lugar nas sondagens, em especial na primeira volta. Esta tendência só conheceu uma alteração relevante pouco antes do voto de domingo. No entanto, emergiu nova tendência nas realizadas à boca das urnas, revelando um recuo para PPK, reduzindo a vantagem evidenciada nos dias que antecederam a votação. Por isso, logo no domingo à noite, o candidato da plataforma Peruanos por el Kambio afirmou perante apoiados reunidos na capital, Lima, que "ainda não ganhámos nada. É preciso esperar pelos resultados oficiais".
Kuczynski alertou ainda os apoiantes para permanecerem vigilantes, não permitindo o "roubo de votos nas mesas eleitorais", designadamente nas regiões rurais. É precisamente aí que se concentra parte importante do eleitorado fiel à filha do antigo presidente, que dirigiu o Peru entre julho de 1990 e novembro de 2000.
Numa primeira intervenção após o início da divulgação dos resultados eleitorais, Fujimori sublinhou que estes evidenciavam um "empate técnico" e pediu "paciência" aos seus apoiantes, mostrando-se convicta da possibilidade de vitória.
Uma das primeiras conclusões a retirar do voto de domingo é que os peruanos permanecem divididos sobre a herança política de Alberto Fujimori, defendida por sua filha, existindo uma forte corrente "antifujimorista" no país, notava ontem o analista Fernando Tuesta, citado no diário Géstion. Este analista sublinhava ainda que é nas regiões do Sul do Peru onde o "antifujimorismo" encontra maior expressão, tendo aqui PPK sido o mais votado. Por seu turno, o apoio a Fujimori possui uma maior dimensão nas regiões costeiras e no Norte do país.
A filha do antigo presidente já se apresentara nas presidenciais de 2011, quando foi derrotada pelo candidato de esquerda, Ollanta Humala, por 51,49% contra 48,51%.
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