Em 2019, Kim Jong-un foi fotografado a cavalo no monte Paektu, local sagrado na mitologia da Coreia do Norte..Na véspera do décimo aniversário da morte de Kim Jong-il, o ditador apodado de "querido líder" pelo próprio regime, a agência noticiosa norte-coreana sentenciou: "A preciosa vida revolucionária do presidente Kim Jong -il é caracterizada pela marcha forçada de alta intensidade feita por ele em prol da prosperidade do país e do bem-estar do povo." A "marcha forçada" é uma expressão alternativa à "árdua marcha", eufemismo designado para o período nos anos 90 em que a fome terá matado milhões de pessoas..Já o jornal do regime, Rodong Sinmun, destacava que "a emoção da afinidade entre o presidente Kim Jong-il e o povo será imortal para a vitalidade das façanhas da sua liderança". Inesquecível continuará a ser enquanto, por exemplo, os cidadãos forem obrigados a cumprir um período de luto durante os dias à volta da data da morte. Até agora os norte-coreanos observam 10 dias de luto, mas neste ano o tempo foi aumentado em 24 horas. Segundo declarações de uma norte-coreana à Radio Free Asia, durante este período os cidadãos estão proibidos de beber álcool, de sorrir em público ou de participar em atividades de lazer; e no dia da morte é proibido fazer compras, uma prova de que o filho e sucessor de Jong-il mantém a sociedade controlada em todos os domínios..DestaquedestaqueJong-un foi apelidado de "homem-foguete numa missão suicida" por Trump. Seguiram-se três cimeiras entre ambos, mas sem quaisquer resultados..Quando esse controlo falha, o estado totalitário mostra os dentes. Foi o que aconteceu a sete pessoas por verem ou distribuírem vídeos da Coreia do Sul. Essas pessoas foram executadas entre 2012 e 2014, em cerimónias públicas. "As famílias dos executados eram normalmente obrigadas a assistir à execução", lê-se no relatório do Grupo de Trabalho para a Justiça de Transição. Esta ONG de Seul entrevistou quase 700 desertores desde 2015 para recolher testemunhos sobre a pena capital. Estas pessoas identificaram 23 execuções, entre as quais as referidas pelo crime de ver ou propagar a cultura sul-coreana..Depois de o desconhecido Kim Jong-un ter ascendido ao poder, registou-se um período de afirmação, na qual o jovem educado na Suíça fez purgas e emulou o estilo do avô e fundador de um regime assente no culto da personalidade, na militarização e numa adaptação do comunismo à cultura coreana, fosse pelo (quase) isolamento internacional, fosse pela ideia de autossuficiência..Em 2012 anunciou que queria um "estado economicamente forte" e procedeu a uma série de reformas que concederam alguma autonomia e estabeleceram várias zonas económicas especiais, uma cópia do que a vizinha China empreendeu. Também apostou na construção civil e até no turismo, com a construção de estâncias fora da capital. Mas manteve e ampliou a política da dinastia de fortalecer o armamento de um dos maiores exércitos do mundo, e com isso ameaçar o exterior para tentar obter ajudas e concessões..Kim Jong-un comunica com disparo de mísseis .Depois de testes nucleares que levaram a Rússia e a China a concordar com a aplicação de mais sanções, e de uma troca de ameaças com o presidente dos Estados Unidos, que o apelidou de "homem-foguete numa missão suicida", Kim Jong-un mostra-se recetivo a conversações. Em cima da mesa está a troca de sanções por armas e encontra-se três vezes com Donald Trump e duas com o presidente sul-coreano Moon Jae-in. Mas os encontros com Trump redundam numa mão cheia de nada e não muito depois surgiu a pandemia..Simbolicamente, o regime demoliu um edifício do gabinete de relações intercoreanas junto à fronteira. A fronteira com a China, o principal parceiro económico, esteve fechada quase sempre desde então e o ditador reconheceu que a situação, ao nível alimentar, está "tensa"..Kim Jong-un não gosta de K-pop. Um "cancro perverso".Kim Jong-un, que em 2018 recebeu grupos de k-pop, tendo estes atuado em Pyongyang, voltou a fechar a fronteira cultural. Em junho, endereçou uma mensagem ao congresso das mulheres socialistas na qual advertiu para protegerem os seus filhos da "ideologia, cultura e estilos de vida estrangeiros", porque estão são um "tumor maligno que ameaça a vida e o futuro dos descendentes"..Dúvidas.No final de 2011, os analistas e peritos em Coreia do Norte mostravam-se céticos quanto à sobrevivência política de Jong-un, então com 27 anos e sem qualquer experiência política ou militar..Purgas e execuções.A resposta foi dada de forma brutal. Segundo dados dos serviços secretos sul-coreanos terão sido eliminadas 340 pessoas nos primeiros cinco anos de poder. E não se esqueceu de quem o treinou: o poderoso tio Jang Song Thaek foi executado e o chefe militar Ri Yong Ho foi deposto. Em 2017 o seu meio-irmão Jong-nam, exilado em Hong Kong, foi envenenado mortalmente no aeroporto de Kuala Lumpur..Estilo.Marcou uma mudança em relação ao pai, visível em pequenas coisas como comparecer com a mulher em público ou delegar o poder noutras pessoas, como a irmã Kim Yo-jong..Armas nucleares.Kim Jong-un manteve a política de prioridade às forças armadas e ao programa nuclear. Pyongyang terá 60 bombas nucleares, capacidade para fazer mais, além de mísseis balísticos intercontinentais..Economia.Meses depois de se tornar no Kim III, comprometeu-se em tornar o país forte também ao nível económico. As melhorias sentidas, porém, perderam-se com o isolamento que ditou devido à ameaça da pandemia..cesar.avo@dn.pt
Em 2019, Kim Jong-un foi fotografado a cavalo no monte Paektu, local sagrado na mitologia da Coreia do Norte..Na véspera do décimo aniversário da morte de Kim Jong-il, o ditador apodado de "querido líder" pelo próprio regime, a agência noticiosa norte-coreana sentenciou: "A preciosa vida revolucionária do presidente Kim Jong -il é caracterizada pela marcha forçada de alta intensidade feita por ele em prol da prosperidade do país e do bem-estar do povo." A "marcha forçada" é uma expressão alternativa à "árdua marcha", eufemismo designado para o período nos anos 90 em que a fome terá matado milhões de pessoas..Já o jornal do regime, Rodong Sinmun, destacava que "a emoção da afinidade entre o presidente Kim Jong-il e o povo será imortal para a vitalidade das façanhas da sua liderança". Inesquecível continuará a ser enquanto, por exemplo, os cidadãos forem obrigados a cumprir um período de luto durante os dias à volta da data da morte. Até agora os norte-coreanos observam 10 dias de luto, mas neste ano o tempo foi aumentado em 24 horas. Segundo declarações de uma norte-coreana à Radio Free Asia, durante este período os cidadãos estão proibidos de beber álcool, de sorrir em público ou de participar em atividades de lazer; e no dia da morte é proibido fazer compras, uma prova de que o filho e sucessor de Jong-il mantém a sociedade controlada em todos os domínios..DestaquedestaqueJong-un foi apelidado de "homem-foguete numa missão suicida" por Trump. Seguiram-se três cimeiras entre ambos, mas sem quaisquer resultados..Quando esse controlo falha, o estado totalitário mostra os dentes. Foi o que aconteceu a sete pessoas por verem ou distribuírem vídeos da Coreia do Sul. Essas pessoas foram executadas entre 2012 e 2014, em cerimónias públicas. "As famílias dos executados eram normalmente obrigadas a assistir à execução", lê-se no relatório do Grupo de Trabalho para a Justiça de Transição. Esta ONG de Seul entrevistou quase 700 desertores desde 2015 para recolher testemunhos sobre a pena capital. Estas pessoas identificaram 23 execuções, entre as quais as referidas pelo crime de ver ou propagar a cultura sul-coreana..Depois de o desconhecido Kim Jong-un ter ascendido ao poder, registou-se um período de afirmação, na qual o jovem educado na Suíça fez purgas e emulou o estilo do avô e fundador de um regime assente no culto da personalidade, na militarização e numa adaptação do comunismo à cultura coreana, fosse pelo (quase) isolamento internacional, fosse pela ideia de autossuficiência..Em 2012 anunciou que queria um "estado economicamente forte" e procedeu a uma série de reformas que concederam alguma autonomia e estabeleceram várias zonas económicas especiais, uma cópia do que a vizinha China empreendeu. Também apostou na construção civil e até no turismo, com a construção de estâncias fora da capital. Mas manteve e ampliou a política da dinastia de fortalecer o armamento de um dos maiores exércitos do mundo, e com isso ameaçar o exterior para tentar obter ajudas e concessões..Kim Jong-un comunica com disparo de mísseis .Depois de testes nucleares que levaram a Rússia e a China a concordar com a aplicação de mais sanções, e de uma troca de ameaças com o presidente dos Estados Unidos, que o apelidou de "homem-foguete numa missão suicida", Kim Jong-un mostra-se recetivo a conversações. Em cima da mesa está a troca de sanções por armas e encontra-se três vezes com Donald Trump e duas com o presidente sul-coreano Moon Jae-in. Mas os encontros com Trump redundam numa mão cheia de nada e não muito depois surgiu a pandemia..Simbolicamente, o regime demoliu um edifício do gabinete de relações intercoreanas junto à fronteira. A fronteira com a China, o principal parceiro económico, esteve fechada quase sempre desde então e o ditador reconheceu que a situação, ao nível alimentar, está "tensa"..Kim Jong-un não gosta de K-pop. Um "cancro perverso".Kim Jong-un, que em 2018 recebeu grupos de k-pop, tendo estes atuado em Pyongyang, voltou a fechar a fronteira cultural. Em junho, endereçou uma mensagem ao congresso das mulheres socialistas na qual advertiu para protegerem os seus filhos da "ideologia, cultura e estilos de vida estrangeiros", porque estão são um "tumor maligno que ameaça a vida e o futuro dos descendentes"..Dúvidas.No final de 2011, os analistas e peritos em Coreia do Norte mostravam-se céticos quanto à sobrevivência política de Jong-un, então com 27 anos e sem qualquer experiência política ou militar..Purgas e execuções.A resposta foi dada de forma brutal. Segundo dados dos serviços secretos sul-coreanos terão sido eliminadas 340 pessoas nos primeiros cinco anos de poder. E não se esqueceu de quem o treinou: o poderoso tio Jang Song Thaek foi executado e o chefe militar Ri Yong Ho foi deposto. Em 2017 o seu meio-irmão Jong-nam, exilado em Hong Kong, foi envenenado mortalmente no aeroporto de Kuala Lumpur..Estilo.Marcou uma mudança em relação ao pai, visível em pequenas coisas como comparecer com a mulher em público ou delegar o poder noutras pessoas, como a irmã Kim Yo-jong..Armas nucleares.Kim Jong-un manteve a política de prioridade às forças armadas e ao programa nuclear. Pyongyang terá 60 bombas nucleares, capacidade para fazer mais, além de mísseis balísticos intercontinentais..Economia.Meses depois de se tornar no Kim III, comprometeu-se em tornar o país forte também ao nível económico. As melhorias sentidas, porém, perderam-se com o isolamento que ditou devido à ameaça da pandemia..cesar.avo@dn.pt