Juventude, ideias e "algum dinheiro". A receita para o sucesso da Iniciativa Liberal
"E eu que disse que nunca haveria de ser membro de um partido...aqui estou, quase a ser presidente". João Cotrim Figueiredo fez o seu primeiro discurso na III Convenção da Iniciativa Liberal (IL), em Pombal, quando a manhã já dava as últimas. Os cerca de 230 inscritos começaram os trabalhos com quase uma hora de atraso, num contraste com a urgência que o partido demonstra ter para chegar a todo o lado, para abarcar (quase) todas as áreas, sobretudo aquelas que "não podem ficar exclusivamente nas mãos da esquerda". Estava a referir-se ao Ambiente, por exemplo. "Por muito trabalho que dê, a Iniciativa Liberal não pode estar de fora do debate sobre o Ambiente", considera o novo presidente.
Enquanto se dizia muito orgulhoso da sua Lista L ("é a comissão executiva que eu quis ter"), Cotrim Figueiredo sublinhou a necessidade do partido falar "para novos públicos e adotar certas causas". E é por isso que elege a juventude como público principal. "É chocante que hoje não haja nenhum partido que tenha escolhido a juventude como alvo. Deve ser caso único na história do marketing político. Não escolher a juventude como alvo é bizarro. E nós temos essa capacidade, as nossas mensagens são todas elas úteis e relevantes para a juventude. E esse é um espaço desocupado. Os jovens gravitam mais à volta de causas do que partidos".
No auditório da Biblioteca Municipal de Pombal a moldura fazia quase jus a esse desejo: muitos jovens, entre os 20 e os 30 anos, vindos dos centros urbanos, a maioria de Lisboa, estudante de Direito ou Ciência Política. Num intervalo nos trabalhos, um grupo de raparigas ilustra bem a amostra: Ana Madalena, 25 anos, é a mais velha. Integra o conselho nacional do partido e está pronta para os desafios todos que o líder lançar. Ela, que até começou no PAN, percebeu que eram as ideias liberais que a seduziam.
A seu lado, Maria Castelo Branco, também ela de Lisboa, igualmente estudante de Ciência Política, mas cinco anos mais nova, acredita que o futuro é ali, na Iniciativa Liberal. Cedo se interessou por política e pôs em prática a vontade de intervir na sociedade, através da política. Como outros que por ali circulavam, começou no CDS, através da Juventude Popular. "Mas ao fim de um ano percebi que não era ali que eu pertencia, e que a IL me preenchia muito mais, que só com estas ideias liberais o país pode avançar".
Na sala a média de idades oscila entre os jovens e os jovens-adultos. Quase não há idosos, ao contrário do que se verifica na maioria dos partidos. Ouve-se aqui e ali sotaque brasileiro. Mas há descendentes de todos os quadrantes da emigração e da imigração. É o caso de Polina Popovyach, 21 anos, membro do conselho nacional. Veio da Ucrânia com os pais quando tinha apenas sete anos, é estudante de Direito, e interessou-se pelo partido durante o processo de recolha de assinaturas. Diz ao DN que sempre se interessou por política, mas que nunca nenhum outro partido em Portugal lhe enchera as medidas.
"Muitos dos que aqui estão sentados são empresários", confirma, ao microfone, Mário da Costa Dias, um dos primeiros a usar da palavra na convenção. "Acho que o socialismo já teve todo o tempo para mostrar o seu resultado e é o que se vê. Se tivesse que produzir efeitos, já teria produzido", conclui, entre aplausos dos liberais.
Na moção amplamente sufragada na convenção, Cotrim Figueiredo aponta baterias também ao "inverno demográfico e envelhecimento da população". Mais um tema que também está na agenda do comum dos partidos. Depois, há o resto, que nunca será bem explicado pelo líder, mas que todos ali parecem saber do que se trata: o liberalismo e as ideias liberais. "Por muito difíceis que pareçam as posições liberais, é preciso transformá-las em apelativas, mas que sejam sólidas. E manter o que funcionou tão bem, até aqui: A nossa capacidade de comunicação e a nossa irreverência". De resto, quando este domingo entrou no auditório municipal de Pombal, o que João Cotrim Figueiredo sentiu "foi alegria". Para bem dos pecados da IL, pois que "não é possível ser criativo sem alegria, sem energia".
O líder está certo de que "há enormes desafios por todo o lado e por isso temos de ter organização". A IL deverá a partir de agora organizar-se por dois núcleos: parlamento e partido, sendo que continua a ter "um único centro de gravidade, o liberalismo".
O novo presidente considera que "Portugal está há demasiado tempo enredado nesta teia, neste marasmo socialista. Só há uma maneira de o quebrar: é lutar, e lutar, e lutar". Ainda assim, sabe que este "é um combate que não é fácil" e que "não terá só sucessos, terá alguns retrocessos. Não faz mal, faz parte. Todos vocês estão convocados para esse combate", disse. Porque, afinal, não há aqui ilusões: a eleição do deputado nas legislativas de outubro podem ter sido "a parte fácil".
"O que é se faz a seguir com isto? E agora?", perguntava à plateia João Cotrim Figueiredo, antecipando a resposta: "Não sei se vocês já alguma vez pensaram bem o que é uma moção de estratégia. O destino é um Portugal mais liberal. Mas para chegar ao destino é preciso perceber porque é que é importante. Fazer política só por fazer é errado. Nós fazemos porque queremos mudar a vida das pessoas e perceber, em termos liberais, qual é a parte da vida das pessoas que queremos mudar".
E é nesse momento que o líder se centra no que é um liberal. "Um liberal olha para um indivíduo e tenta entendê-lo na sua complexidade. Na sua liberdade. Se não formos livres não podemos ser felizes". Ao falar num chavão da esquerda, a IL acredita que pode captar aí algum eleitorado. É essa a convicção de um punhado de militantes que partilha cigarros e café num bar próximo da convenção.
Lá dentro, Cotrim não vai tão longe. "Temos uma base crescente de membros e apoiantes. Temos algum dinheiro. Meios para fazer algumas coisas. E [agora] muito mais responsabilidade. O trabalho é muito mais exigente. Temos mais escrutínio - o reverso da medalha do lado mediático. Se estamos na piscina dos grandes temos que saber nadar a crawl".
E nesse mar de medidas para mudar o país estão "impostos mais baixos e mais justos, liberdade de escolha na educação e na saúde, mas também na segurança social. Temos que desenvolver a ideia e não podemos demorar muito tempo".
"Quem é este? Quem é aquele? Hoje é a pergunta que mais me fazem e eu não sei responder. Isto cresceu!". Rodrigo Saraiva, assessor parlamentar do partido, caracterizava assim o crescimento desde as eleições. Ele que está na Iniciativa Liberal desde o princípio, apelava logo de manhã à importância de ser este um movimento "de pessoas com noção, que fazem o combate ao socialismo e ao surrealismo".
Antes já outros tinham dado esse sinal, com os pés no terreno. Foi o caso de Miguel Ferreira da Silva, que apelava ao partido para que se concentre já nas eleições autárquicas. "É uma oportunidade para se estender a nível local e regional", uma pecha notada durante a convenção.
A manhã foi sobretudo dedicada à análise da situação política nacional, mas os intervenientes aproveitaram também para fazer o balanço da vida do partido, nascido a 26 de fevereiro de 2017. "Éramos meia dúzia, hoje somos mais de 700", notava Pedro Antunes, que despertou uma gargalhada coletiva na sala quando se dirigiu à plateia com um "bom dia, camaradas".
Depois dele, houve quem optasse por um tratamento mais à maneira do PSD: companheiros. O certo é que neste intervalo o partido cresce.
Um "olá" e "adeus" de Carlos Guimarães Pinto
"Conseguimos marcar um golo mais cedo que o esperado, mas nada disso deve mudar a nossa forma de ir a jogo. Continua 0-0. Continuamos a ser um partido de ataque", disse esta manhã o presidente (demissionário) da Iniciativa Liberal, Carlos Guimarães Pinto, numa mensagem em vídeo, gravada a partir do Vietname, onde se encontra.
Carlos Guimarães Pinto falava aos cerca de 230 congressistas através da linguagem futebolística a lembrar "os tempos em que era árbitro" para abrir o primeiro ponto da ordem de trabalhos - análise à situação política do país.
"A única diferença é que agora somos mais, temos mais meios. Mas ainda há muito trabalho a fazer", sublinhou Carlos Guimarães Pinto, para quem a IL tem ainda "muito trabalho a fazer. Precisamos de ser um movimento moderado e não populista", disse. Antes de se despedir dos membros inscritos, voltou a usar o desporto como metáfora: "o primeiro km desta maratona já está. Estamos no pelotão da frente. Agora o objetivo é ganhar", concluiu.