Juncker despede-se criticando países que não o deixaram ajudar a Grécia
No discurso de despedida, Jean-Claude Juncker elegeu a crise financeira na Grécia e o fim do resgate como um dos momentos mais marcantes do seu mandato como presidente da Comissão Europeia. A falar perante os deputados no Parlamento Europeu, em Estrasburgo, o luxemburguês que está prestes a completar cinco anos na Comissão, apontou uma das mais duras criticas a "certos Estados membros", por não o terem apoiado quando tentou ajudar a Grécia.
Sem nunca nomear nenhum país em particular, Juncker apontou o dedo a "muitos governos" que durante a crise da Grécia o impediram de "fazer o que lhe competia".
"Foram muitos os governos que não queriam que a Comissão se encarregasse da Grécia. Lembrar-me-ei para sempre das chamadas telefónicas de muitos primeiros-ministros que me disseram: ocupa-te dos teus assuntos. É função dos Estados encarregarem-se do problema grego", afirmou, sem nunca atribuir a crítica, considerando que, enquanto presidente da Comissão, fez o que havia a fazer.
"Devolvemos a dignidade que era preciso dar à Grécia. A dignidade do povo grego foi espezinhada demasiadas vezes e durante muito tempo. E eu quis restabelecer a ordem das coisas devolvendo a esse povo toda a nobreza que ele merece", disse, lembrando que independentemente da cor política, afirmou que o objetivo sempre foi resolver a crise grega.
"Lembro-me das longas noites com o governo de [Antonis] Samaras, de [Alexis] Tsipras, e agora de [Kyriakos] Mitsotakis, que ainda não estava em funções, para tentarmos resolver o problema grego", recordou o presidente cessante da Comissão Europeia.
Neste contexto, Juncker considerou que assumiu funções durante "a pior crise económica e social desde a Segunda Guerra Mundial" e que agora, pelo 25º trimestre consecutivo, a União Europeia regista crescimento.
De acordo com os dados da Comissão Europeia, o Plano Juncker já aumentou o PIB da UE em 0,9% e criou 1,1 milhões de empregos à economia europeia. Até 2022, espera-se que o Plano Juncker tenha aumentado o PIB da UE em 1,8% e proporcionado 1,7 milhões de empregos. Mais de um milhão de PMEs já recorreram aos empréstimos do chamado plano Juncker.
Juncker comentou ainda os dados que o colocam acima do seu próprio objetivo de conseguir que, até ao final do seu mandato, 40 % dos cargos de direção intermédia e superior na Comissão fossem mulheres.
"De acordo com os dados mais recentes, a percentagem de mulheres em cargos de direção, a todos os níveis, é atualmente de 41 %, quando era apenas de 30 % no início do mandato, o que representa um aumento de 37 %", refere a Comissão Europeia, numa nota divulgada em Bruxelas.
"Empenhei-me, desde o primeiro dia da Comissão Juncker, a integrar este princípio no seio desta instituição, nomeadamente com a promessa de aumentar a representação das mulheres nos cargos de direção intermédia e superior, com um objetivo de 40 % até 1 de novembro de 2019", afirmou o presidente, considerando que "a igualdade, em todas as suas formas, é um valor fundamental da União Europeia".
Durante a manhã, Juncker lamentou ter dedicado "demasiado" tempo ao Brexit ao longo do seu mandato. "Na verdade, foi doloroso", considerou.
Falando na última sessão plenária de Estrasburgo em que participa como presidente da Comissão Europeia, Juncker afirmou que pensou quanto a União Europeia "pode fazer melhor" pelos europeus, mas o Brexit foi uma perda de tempo.
"Na verdade, foi doloroso ter dedicado demasiado deste mandato a lidar com o Brexit, quando eu pensei no que esta União pode fazer de melhor pelos seus cidadãos. Foi uma perda de tempo e de energia", afirmou.
O presidente voltou a emocionar-se quando se referiu ao seu colégio de comissários, para agradecer à sua equipa, da qual faz parte Carlos Moedas, a quem o presidente agradeceu em português, diante de todo o hemiciclo, com um "Obrigado".
Por sua vez, o comissário da Ciência, Investigação e Inovação identificou o um "ponto" de viragem, com a conclusão do mandato de Jean-Claude Juncker. "Sinto que chegámos ao ponto em que a geração dele vai-se reformar e vem uma nova geração", afirmou o português, para quem foi "um privilégio enorme por ter trabalhado durante estes cinco anos com um homem com o humanismo que ele tem, a pessoa que ele é. Foi realmente muito importante na minha vida"
"Nunca vi ninguém gerir uma reunião como ele o faz e a grande qualidade de Jean-Claude Juncker é realmente a experiência de ter começado na vida política aos 27 anos", afirmou, notando que este, "quando está numa reunião sabe exatamente como começa, para onde vai e o resultado que quer atingir".
Moedas referia-se a "esse dia das potenciais e injustificadas sanções a Portugal e Espanha, ele sabia exatamente qual era a coreografia que queria fazer para chegar ao resultado de não haver sanções".
A encerrar aquele que será o seu último discurso no Parlamento Europeu, Juncker deixou um aviso à nova geração que agora assumirá os destinos da União Europeia: "cuidem da Europa e combatam com todas as vossas forças os nacionalismos estúpidos e imbecis. Viva a Europa".
Na sexta-feira, quando encerrou a sua última reunião de Conselho Europeu, despediu-se com elogios a Portugal, considerando que se trata do melhor exemplo de cooperação numa Europa, que não vive os melhores dias.
"Nem tudo está ok", admitiu o presidente cessante da Comissão Europeia, vincando que relativamente a Portugal, Juncker guarda uma experiência na liderança do executivo de Bruxelas, das "melhores da vida".
"Com Portugal desenvolvemos um tipo de cooperação que foi uma das melhores que tive na minha vida", afirmou o presidente da Comissão Europeia, à margem da cimeira, em declarações às três rádios portuguesas, em Bruxelas, no dia em que completou a "ultima" da 148 cimeiras europeias.