Juana da Aizpuru: "ARCOLisboa pode ser o modelo do futuro"
Trinta e seis anos depois de pôr a funcionar a feira de arte contemporânea ARCOmadrid, que hoje começa, a sua fundadora, Juana de Aizpuru, continua a desfrutar como o primeiro dia deste evento do mundo do colecionismo. Em conversa com DN a galerista espanhola lembra como tudo começou e fala da ARCOlisboa (decorre de 18 a 21 de maio na Cordoaria Nacio-nal), um modelo de feira que pode ser o futuro para o mundo da arte.
Como vive Juana de Aizpuru cada nova edição da ARCO?
Com a mesma ilusão do início e feliz por confirmar que cada ano é melhor que o anterior. A ARCO conseguiu ter um alto nível e é indubitável que ganhou um lugar de destaque no colecionismo internacional. Os colecionistas já têm na sua agenda esta feira.
O que foi mais difícil no arranque?
Quando comecei, a arte espanhola era desconhecida e o mais difícil foi trazer as galerias até Madrid. Pelo contrário, Espanha era um país atrativo, muito querido fora, e isso ajudou. Mas eu não podia enganar as galerias e era evidente que as vendas no primeiro ano não seriam muitas.
Cumpriram-se os objetivos da ARCO?
Sim, porque conseguimos criar um colecionismo que não existia. E agora os colecionistas espanhóis compram mais arte internacional do que nacional. Tivemos uns anos muito bons para a arte e depois chegou a crise. Mas os colecionistas sabem o que acontece fora e antes isso não acontecia.
Como seria a arte contemporânea em Espanha sem Juana de Aizpuru?
Não sei....[risos]. Tentei desenvolver a arte dentro do nosso país e que a ARCO fosse um trampolim para os artistas se incorporarem nas novas tendências. Uma feira é uma boa ideia para contactos e uma plataforma interessante.
[artigo:5667637]
Foi uma aposta arriscada dedicar-se à arte?
Pelo contrário, foi uma forma de me entreter e um projeto vital para me transformar a mim própria.
Era mais fácil ser galerista antes que agora?
É um trabalho muito complexo que requer uma investigação constante para descobrir bons valores. Também somos empresários, com lucros baixos e impostos caros. E o papel do mecenato é muito importante. Os artistas recorrem a nós em muitos momentos para poderem desenvolver o seu trabalho. Precisamos de muitos meios económicos e vivemos do nosso trabalho.
ARCOlisboa: foi uma boa ideia?
Sim, uma estupenda ideia. Se com esta feira conseguirmos potenciar a arte portuguesa é muito bom.
O que pode melhorar?
O ano passado houve poucas galerias internacionais e o lugar [Cordoaria Nacional] não foi o melhor. Deveriam dar espaço para pelo menos mais cinco galerias. Falta poder fazer uma melhor oferta, limpar mais e melhor o espaço. Agora está com um aspeto bastante medíocre. O espaço da exposição deve ser melhorado e chegar às 52 galerias. Também falta um bom hall para a entrada.
É uma feira com futuro?
Penso que a ARCOlisboa pode ser a feira do futuro com um formato mais pequeno e seleto. É um modelo diferente mas interessante. Em Lisboa há muitos museus e instituições que podem comprar quadros e ajudar aos galeristas.
E como se comportou o público?
Bem, esteve animado. Mas claro que pode ir mais gente ainda.
Como e quando descobriu a arte contemporânea portuguesa?
Em Sevilha, nos anos 1970. Em Espanha era muito difícil exportar arte e eu quis enviar para uma exposição portuguesa de desenhos os trabalhos dos meus artistas. Mas um problema na fronteira impediu-me de participar no concurso. Como não sabia dos desenhos, fui ao Ministério da Cultura, em Lisboa. Percorri o prédio até encontrar o meu pacote e, curiosamente, trabalhava lá o Julião Sarmento. Anos depois, antes de começar a ARCO, quis ir até à feira de Basileia para ver o que os expositores precisavam. E ali encontrei de novo o Sarmento e comecei a trabalhar com ele.
Segue muitos artistas portugueses?
Trabalho com Pedro Cabrita Reis e Rui Chafes e, esporadicamente, com José Pedro Croft. Ambos expõem muito no estrangeiro e levo obras de Pedro Cabrita Reis para todas as feiras. Vende-se bem.
Como escolhe os artistas que estão na sua galeria?
É difícil de explicar. É algo de sentimento, uma paixão pelas obras.
Vai ser condecorada pelo governo português com a Medalha de Mérito Cultural no próximo dia 24. O que sente com este galardão?
Estou muito feliz. Para mim tem um significado especial porque em Portugal tenho bons amigos e sou muito bem tratada. E ainda por cima vai ser dentro de ARCO e vai ter mais visibilidade. No início fiquei surpreendida mas depois percebi que estavam a reconhecer o grande carinho que manifesto pela arte portuguesa. Desde os anos 1980 tive sempre obras de algum artista português.
Em Madrid