Jovens médicos. Existem duas vagas para 167 candidatos
Existem duas vagas para 167 candidatos e a diferença não é maior porque 206 desistiram. Hoje é o último dia para os médicos que estão a terminar o ano comum, o primeiro de prática nos hospitais e centros de saúde, escolherem a especialidade que querem fazer durante os próximos seis anos. Mas, após 11 dias, as opções são poucas. Em dezembro os que não conseguiram uma vaga para especialidade terminam o ano comum e com isso o contrato que têm com o Serviço Nacional de Saúde. Passam a ter autonomia para exercer como indiferenciados e as opções podem ser as empresas de tarefeiros ou emigrar.
Apesar do número de inscritos ser maior, realizaram a prova nacional de seriação, aquela que dita a ordem pela qual os jovens médicos podem escolher a especialidade e o local onde querem fazer a formação, 2253 candidatos. Mas na realidade só 2046 foram considerados aptos, já que 207 rescindiram entretanto o contrato (não terão acesso à especialidade, mas também não obterão autonomia no final do ano), como explica a Associação Nacional de Estudantes de Medicina (ANEM).
As escolhas começaram a 1 de junho com 1675 vagas disponíveis. Hoje é o último dia e não será preciso muito tempo para esgotarem, já que existem apenas duas vagas para 167 candidatos. E ainda há porque 206 desistiram durante o processo de escolha. O primeiro jovem médico a optar está na posição 1880 da lista de seriação. São valores de 40% para baixo. As vagas disponíveis, ambas de patologia clínica, são uma no Centro Hospitalar de Leiria e a outra na Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo.
"Neste ano parece ter havido mais desistências. No passado estavam todos convencidos de que teriam vaga para a especialidade. Neste ano muitos já não esperavam ter vaga e, perante não terem a opção que queriam, desistiram. As alternativas são repetir o exame ou emigrar. Seja qual for, nenhuma delas é positiva: agrava-se o problema para o ano seguinte e desperdiça-se formação", diz ao DN André Fernandes, presidente da ANEM.
Para os que suspenderam o ano comum - ou seja, que não terminaram a formação -, a questão não se coloca. Mas para os perto de 400 jovens médicos que em dezembro terminam o ano comum esta vai ser uma realidade: acaba o contrato que têm com o SNS e ficam com autonomia para exercer medicina. "Não têm especialidade mas podem fazer urgências como tarefeiros através de empresas e trabalhar em privados que os queiram contratar", refere.
Madalena Neves, 25 anos, queria dermatologia, pediatria ou ginecologia/obstetrícia. Devia ter escolhido no dia 15, mas desistiu porque já não havia vagas em nenhuma das suas preferências. "É um passo atrás. Vou repetir o exame em novembro, mas posso daqui a um ano estar na mesma situação ou pior. O exame de seriação incide sobre cinco áreas da medicina e baseia-se em decorar frases. É muito frustrante. Temos de ter uma base de conhecimento, mas o que se espera é que exista raciocínio clínico. O exame é inadequado e precisa de ser repensado para avaliar todas as competências", defende.
Emigrar para tirar a especialidade que quer esteve em cima da mesa, mas para já arriscou ficar mais um ano em Portugal, repetindo o ano comum. "Ir para fora... É um dilema com que nos confrontamos. Se não correr bem no próximo ano irei emigrar. Estados Unidos, Londres e Suíça são os países que estão em cima da mesa para a maior parte de nós. "No fim do ano comum ficamos com autonomia. Podemos trabalhar como tarefeiros nas urgências. Tenho colegas a optarem para ganhar algum dinheiro. Acho que não estou preparada. Não temos experiência suficiente", diz.
No ano passado 114 médicos ficaram sem especialidade. Ainda aguardam por uma solução. "Devia haver vagas de formação com qualidade para todos os que querem fazer especialidade. Está na altura de perceber como aumentar as capacidades formativas, quais os serviços que não têm idoneidade e perceber o que é possível fazer para terem", diz André Fernandes.