"Antes de haver esta ideia já tinha ido ver as reservas, porque sempre fui um bocado coca-bichinhos e sempre gostei de ver coisas que não estão à vista do público. Muitas vezes, nas reservas estão peças extremamente curiosas que vale a pena mostrar", afirma José de Guimarães, a propósito da escolha de peças da coleção Kwon On do Museu do Oriente que dialogam com as suas próprias obras e aquelas que fazem parte da sua coleção pessoal de objetos asiáticos. A ideia de que fala é a exposição Um Museu do Outro Mundo que inaugura na quinta-feira e abre ao público esta sexta-feira..O interesse do artista pela arte asiática começou quando visitou o Japão pela primeira vez em 1990, conta, durante a visita guiada à imprensa. É preciso recuar aos anos 60, e à sua passagem por Luanda, para conhecer o colecionador José de Guimarães, detentor de um acervo de cerca de 4 mil artefactos africanas. "Quando este interesse desperta, José de Guimarães diz que foi muito importante ter conhecido os três etnólogos mais importantes da altura a trabalhar em Luanda. José Redinha, Mesquitela Lima e Carlos Estermann", conta Nuno Faria, curador desta exposição e diretor do Centro Internacional de Artes José de Guimarães (CIAJG), em Guimarães, cidade de origem do artista..No Museu do Oriente, a celebrar 30 anos de vida, o convite foi criar uma diálogo a três vozes: as 150 peças de artes performativas asiáticas da coleção Kwon On, os objetos arqueológicas do acervo do artista e 60 das suas obras..Há peças antigas de José de Guimarães, peças com uma década, e peças feitas de propósito para a exposição, como as oito pinturas de grande formato que abraçam as esculturas de José de Guimarães e peças asiáticas, incluindo o búfalo de Bali que servia para carregar os corpos em dia de funeral e o dragão dourado chinês. Nova também é a peça usando uma velha slot machine símbolo da ganância, vencida pelos dois guardiões de túmulos chineses que a encimam..Para a exposição, José de Guimarães trouxe, também, as suas caixas-relicários, um objeto que trabalha "desde os anos 60", precisa Nuno Faria. A primeira foi concebida para guardar peças de jade e um contentor de moedas em bronze . "Estão juntas no mesmo contexto como não estariam num museu convencional, considera sobre o encontro entre as peças.."Toda essa ligação entre passado e presente num contexto deste tipo faz com que as artes de várias épocas dialoguem naturalmente. Até parece que foram feitas umas para as outras", diz o artista.."É absolutamente inédita", diz o artista sobre este casamento entre arte contemporânea e peças de natureza arqueológica ou etnográfica. "Como nós fizemos acho que nunca foi feito", afirma. "É inédito um museu abrir as portas desta maneira. Dar carta branca a um artista", concorda Nuno Faria, que já trabalha estes encontros no CIAJG..O percurso pela exposição começa negro, por caminhos estreitos, torna-se cor de ouro e termina branco e espalhado, uma "explosão , como define o arquiteto Pedro Campos Costa, curador da exposição e autor do projeto expositivo. Quiseram provocar duas sensações, conta. "Uma era mais terrena, mais labiríntica, terrena, carnal, mais urbana - e a arquitetura tentou mostrar isso", o ambiente é mais claustrofóbico, as paredes negras. Na última sala, a maior, branca, "há uma explosão celestial, desfragmentação do espaço". E espelhos por todo o lado..A saber: Um museu do outro mundo Museu do Oriente (Av. Brasília, Doca de Alcântara (entrada pela fachada virada para a Av. 24 de julho) De 16 de março a 3 de junho, de terça a domingo, das 10-00 às 18.00. Aberto até às 22.00 à sexta-feira (entrada gratuita) Bilhetes: 6, adultos; gratuito até aos 5 anos; 2 dos 6-12 anos; 2,5 para estudantes; 3.5 para maiores de 65 anos; 14 para famílias.