Jornalista filipina crítica do presidente Duterte detida por difamação

Maria Ressa, uma das personalidades do ano 2018 para a revista Time, foi presa esta quarta-feira em Manila, na sede da Rappler, site que fundou em 2012
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Maria Ressa passou duas décadas como correspondente da CNN no Sudeste Asiático e há muito que a jornalista entrou na mira do presidente filipino Rodrigo Duterte pela cobertura crítica que tem feito da chamada "guerra às drogas" que o chefe do Estado implementou no país.

Em dezembro passado, no mesmo dia em que era nomeada como uma das personalidades do ano para a revista Time, teve de depositar uma fiança de 60 mil pesos (970 euros) para evitar ser presa, acusada de fraude fiscal pelo governo, que já tentou sem sucesso anular a licença de funcionamento do site de informação que Maria fundou, o Rappler.

Esta quarta-feira, foi na sede da empresa, em Manila, que Maria Ressa foi detida por elementos da Agência Nacional de Investigação (NBI). A jornalista está agora acusada de um crime de difamação online, num processo ordenado pelo departamento de Justiça.

Em causa está uma investigação de Maria Ressa e de um outro ex-jornalista do Rappler, Reynaldo Santos Jr,, publicada em maio de 2012, quatro meses antes de entrar em vigor a lei que agora foi invocada para proceder à sua detenção. A investigação jornalística apontava um empresário, Wilfred D. Keng, como dono de um carro então utilizado pelo titular da pasta da Justiça e relacionava Keng com redes de tráfico de droga e de seres humanos.

Criado em 2012, o Rappler, como outros meios de comunicação, entrou na mira do presidente Rodrigo Duterte pela cobertura crítica da guerra às drogas - que, segundo entidades de direitos humanos, já fez mais de 12 mil mortos desde 2016.

O site e Maria viraram alvo preferencial do governo filipino, após uma série de reportagens sobre como Duterte e os seus aliados usaram contas falsas em redes sociais e pagaram a "trolls" para disparar mensagens em massa e manipular a opinião pública.

Em entrevista à Folha de São Paulo, e publicada em Portugal pelo Diário de Notícias, em dezembro passado, Maria Ressa dizia que "não se calar e reforçar os valores jornalísticos" é a única forma de resistir ao que ela chama de três cês: corrupção, coerção e cooptação. "É preciso aumentar a luz. Se você fizer acordos nebulosos e não chamar a atenção para as tentativas de intimidação, você é parte do problema".

A fundadora do Rappler é também uma ativista na linha da frente contra o fenómeno das fake news, apontando o dedo às empresas de tecnologia, especialmente o Facebook. "O grande problema é deixar que as mentiras circulem livremente nas redes sociais. É preciso mapear as redes que estão espalhando fake news, rastrear as fontes. É possível e é necessário fazer isso".

Pode relembrar a entrevista aqui:

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