As joias de Lia Gonçalves e Sílvia Araújo são feitas em laboratório. Não na totalidade, mas a componente que as distingue das demais: a celulose bacteriana. Esta dupla conseguiu inovar e introduzir pela primeira vez este material na joalharia. Trata-se de uma espécie de película que se desenvolve numa cultura de microorganismos vivos e que é depois aplicada nas peças de prata reciclada..Já usada ao nível da medicina, a celulose bacteriana está a ser encarada, ao nível da moda, como uma alternativa ao couro. Há mais de uma década que a designer de moda Suzanne Lee explora este universo, mas, garante Lia Gonçalves, a colega Sílvia Araújo, que está a finalizar um doutoramento em torno da aplicabilidade da celulose bacteriana ao design de moda, conseguiu ir mais longe e chegar a uma película mais resistente à humidade e à água e, portanto, mais duradoura. É essa solução que está a ser aplicada nas peças de joalharia atualmente em exposição e venda exclusiva no MAAT (Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia), em Lisboa, fruto do desafio lançado a vários joalheiros nacionais para criar uma coleção inspirada no conceito de upcycling..Assim nasceu Ensaio, com colares, brincos, anéis e pregadeiras feitas com prata reciclada e esta película de celulose bacteriana. Uma parceria em que a designer Lia Gonçalves recebe a matéria-prima criada, alimentada e colorida em laboratório pela designer e investigadora de moda Sílvia Araújo - num processo que demora cerca de uma semana - e a aplica e trabalha no metal reutilizado..O resultado é sempre uma peça efémera, que se degrada com o tempo e que, fruto dessa degradação natural, resultante quer do uso quer do PH da pele do utilizador, acaba por ser moldável, ou seja, por adotar formas diferentes. "São peças interativas, que se adaptam ao utilizador", diz Lia Gonçalves. E a peça, mesmo que a celulose bacteriana se degrade completamente, mantém a sua função e estética, acrescenta a criadora..Sustentáveis, estas peças de joalharia mantêm-se a preços bastante acessíveis, já que os custos de produção da celulose bacteriana são baixos. Os brincos, por exemplo, custam pouco mais de 50 euros, os colares ultrapassam os 130..Até quase ao final do ano, estas peças têm venda exclusiva no MAAT, mas Lia Gonçalves tem outras, no âmbito do seu trabalho anterior, à venda um pouco por todo o país. E também nessas a sustentabilidade é uma das imagens de marca.