Joias e boxers. A discussão que espera o português Eduardo Freitas na estreia como diretor de corrida

Hamilton e Vettel com posições de força. As multas vão desde os 50 mil euros na primeira vez até aos 250 mil euros pela reincidência. Multar ou considerar os pilotos "não aptos" para correr é uma decisão que caberá ao português no GP de Espanha e no GP Mónaco.
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A Fórmula 1 anda há mais de duas semanas a discutir o uso de joias e a roupa interior dos pilotos. O tema tem transformado as boxes num verdadeiro circo de intenções. Lewis Hamilton apareceu na sala de Imprensa do GP de Miami com vários colares, três relógios e pulseiras e os dedos cheios de anéis, enquanto Sabastian Vettel usou os boxers à mostra. Os pilotos pedem liberdade de escolha e a direção da corrida escuda-se numa regra que existe desde 2005 para "segurança" dos pilotos.

O ambiente não é por isso o melhor para apadrinhar a estreia do português Eduardo Freitas, como diretor de corrida, no Grande Prémio de Espanha, no domingo. Até aqui tem sido Niels Wittich a liderar. Eduardo Freitas assume o lugar ao fim de cinco corridas, em Barcelona e repete-o no Mónaco, depois irá fiscalizar as 24 Horas de Le Mans e passa de novo a pasta a Wittich, que tem mantido uma relação tensa com os pilotos dado ser inflexível nas decisões.

Usar um Safety Car Virtual e só usar Safety Car quando quando é mesmo um caso de Safety Car - como em Miami, após a colisão entre Lando Norris e Pierre Gasly -, é algo que os pilotos e as equipas não têm achado muita piada. Mas é a controvérsia em torno do uso de joias dentro dos carros e da roupa interior dos pilotos, que têm de ser homologada e anti-fogo, que está na ordem do dia e tem irritado alguns pilotos.

As regras entraram em vigor em Miami, depois de serem anunciadas numa acalorada reunião em Melbourne, onde Niels Wittich lembrou a proibição do uso de joias, bem como de roupa interior, luvas, meias e balaclavas não homologadas pela federação por razões de segurança.

Hamilton foi um dos que reclamou da regra. Apesar de ter dito que removeria os dois piercing (um deles num lugar do corpo não mostrável) e um brinco através de intervenção médica para cumprir o regulamento, o heptacampeão mundial voltou atrás e empolgou o assunto, aparecendo perante os jornalistas carregado de joias e a dizer que as iria manter, mesmo correndo o risco de ser declarado inapto para correr. "Se me impedirem, então que seja. Temos um corredor substituto", disse o britânico da Mercedes, disponibilizando-se para "assinar uma renúncia para tirar responsabilidades à F1" em caso de acidente ou sequelas.

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Hamilton correu em Miami com uma declaração médica que lhe permitiu manter o adorno no nariz, por ser "difícil de retirar". A direção da corrida deu-lhe até ao GP do Mónaco para "a remoção das peças, que não sejam retiráveis manualmente". As multas vão desde os 50 mil euros na primeira vez até aos 250 mil euros pela reincidência. Multar ou considerar os pilotos "não aptos" para correr é uma decisão que caberá ao português Eduardo Freitas.

"Cabe a ele [Hamilton] decidir", segundo o presidente da Federação Internacional de Automobilismo (FIA), Mohammen ben Sulayem, que apoia a medida e defende que é uma questão de bom senso, segurança e justiça. Sulayem diz que a regra que existe há mais de uma década - desde 2005 - só não andava a ser aplicada. "Quero que Lewis seja um modelo, um embaixador, que envie a mensagem correta a todos os jovens pilotos para evitar uma tragédia. Deveríamos usá-lo para o bem. Gosto de joias, adoro, mas no carro não pode haver escolha. As pessoas questionam por que o regulamento não foi aplicado antes. Não pergunte a mim. Pergunte para as gestões anteriores", disse o sobre isso", justificou o presidente da FIA.

Também Sebastian Vettel marcou a sua posição ao aparecer nas boxes da pista de Miami com os boxers por cima do fato. Perante os jornalistas, o alemão direcionou a decisão da FIA para o britânico: "Acho que parece algo direcionado ao Lewis... E que nos retira um pouco da liberdade pessoal. Já somos velhos o suficiente para fazer as nossas próprias escolhas tanto fora, como dentro do carro."

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O chefe da McLaren, juntou-se esta terça-feira às vozes que criticam a postura do britânico. "É uma regra que existe há não sei quantos anos e se já trabalhaste noutras categorias, nem se discute. [Se Hamilton] não quer colocar a cueca à prova de fogo, que não corra, bem simples e direto", afirmou Andreas Seidl à revista Motorsport-Total, dando ainda a entender que o heptacampeão mundial tem sido beneficiados em questões disciplinares.

Também Alex Wurz , ex-piloto e atual presidente da associação de pilotos de grandes prémios (GPDA) contou uma história que, segundo ele, serve de exemplo, para se mostrar a favor da regra. Numa palestra do antigo piloto dinamarquês, Kris Nissen, que alvo de um acidente seguido de incêndio, em Fuji, em 1988, ele mostrou-lhe as marcas das queimaduras, enquanto lhe explicava que a coisa mais dolorosa depois do incêndio foi a borracha das calças, que lhe queimou a pele: "Foram anos de agonia e dor. Isso consciencializou-me. Neste momento, digo a mim mesmo que não quero sofrer as consequências por não tirar as calças e colocar umas à prova de fogo. A mesma coisa acontece com as joias."

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