João Gonçalves Pereira: "Não querer sufragar a liderança fez perder valor ao partido, o CDS"
Tem 44 anos, é licenciado em Ciência Política e especialista em Gestão de Comunicação de Crises.
Pegando na sua experiência profissional, Gestão de Comunicação de Crises, o CDS precisaria da sua ajuda neste momento?
Se há ambiente que está sempre em crise é a política, tenho casos práticos quase todos os dias. Infelizmente, temos hoje uma situação muito crítica, preocupante no CDS, com enorme responsabilidade da direção e do seu presidente, com o facto de não se querer legitimar, não querer ir a um congresso, não querer sufragar um programa interno que é a moção e a sua liderança, e isso fez perder valor ao próprio partido. Corremos o risco de o eleitorado penalizar nas urnas aquilo que foi uma péssima decisão, a meu ver, de Francisco Rodrigues dos Santos, desta direção e do Presidente da Jurisdição do partido, do Tribunal do partido, Alberto Coelho, ou do Presidente do Conselho Nacional, Filipe Anacoreta Correia, hoje Vice-Presidente da Câmara de Lisboa, e que devia ter outro sentido de responsabilidade.
Nunca tinha visto no partido, e já lá estou há 25 anos, um Presidente de um Conselho Nacional retirar a palavra, de uma forma absolutamente autoritária, aos membros que estavam a fazer uso dela. É algo penalizador para o partido e, mais penalizador ainda é a saída de vários elementos do CDS e que, em muitos casos, são perseguidos por ter opinião.
Isto é uma coisa nunca vista. O CDS é um partido onde há pluralismo, onde há debate interno, divergências de ideias, onde as pessoas são integradas, depois, nas próprias listas nos momentos próprios. Paulo Portas fez isso, por exemplo, com aqueles que lhe eram críticos e não foi por causa disso que deixou de os incluir, até nas listas de deputados, de vereadores, de candidatos.
Muitos rostos foram saindo do CDS, como Pires de Lima, Adolfo Mesquita Nunes. Outros, como Cecília Meireles e João Almeida, deixaram de ser deputados, tal como o senhor deixou de ser deputado, mas não saíram do partido. Deve a próxima liderança reconquistar estas figuras? Ou seja, como dizia Nuno Melo, ir bater-lhes à porta?
Com certeza que sim. Repare, são ativos do CDS, rostos do CDS e são quem as pessoas reconhecem qualidade, um percurso de serviço ao partido, mas, acima de tudo, de serviço ao país. Portanto, é uma desvalorização do ativo partido quando se vê estes elementos afastarem-se, ou serem afastados, pela direção, como se percebeu nas declarações que Francisco Rodrigues dos Santos tem feito nos últimos meses.
Deixar o CDS parece ser o caminho fácil. Isso não revela, no seu entender, uma falta de democracia interna? Ao mesmo tempo , ao saírem estão a prejudicar o partido?
Respeito isso. Além da amizade e consideração pessoal que tenho, quer pelo Adolfo Mesquita Nunes, quer pelo António Pires de Lima e outros, o que fizeram foi uma espécie de grito de revolta. Ou seja, quando foram confrontados com uma situação em que há, claramente, uma subversão daquilo que são as regras democráticas do partido. O rumo que o partido está a levar e esta lógica de perseguição a quem tem uma opinião diferente contribuiu para que saíssem. Respeito a decisão que tomaram.
No meu caso, estarei no CDS, vou votar no CDS, farei campanha pelo CDS, independentemente de ter uma enorme divergência com esta direção e com esta liderança.
Independentemente do presidente?
O que eu sei é que, olhando para factos concretos, havia um congresso que estava marcado e, de repente, houve um ziguezague e foi desmarcado. Houve aqui um conjunto de circunstâncias, com o tribunal do partido sem funcionar, que é suspenso. Portanto, cada vez que é para ir a votos, suspende-se.
Num partido fundador da democracia isto não é bonito.
Ao saírem do partido, por causa de uma direção, não considera que esses companheiros de partido estão a prejudicar mais o partido do que a atual direção?
Não, não considero nada disso. Houve uma espécie de grito de revolta e de indignação com o que se estava a passar. Esse grito de revolta e de indignação pode ter vários níveis. Eu próprio também tive esse grito de indignação, esse grito de revolta. Agora, houve uns que saíram, outros que se mantêm. Eu ficarei no CDS até ao fim, nem que seja o último a fechar a porta.
O CDS tem longa tradição de abandono, os três líderes deixaram o partido, Lucas Pires para o PSD, Manuel Monteiro para fundar outro partido, Freitas do Amaral para governos socialistas. O CDS, sendo pequeno, é ingovernável?
Não, vamos lá ver, há pessoas que tomaram posições e eu respeito todas, cada um é livre, isso é a democracia. Agora, esta direção - e isso é que levou ao tal grito de revolta de muitos e de saída - suspendeu a democracia interna no partido.
Desde Freitas do Amaral, Adelino Amaro da Costa, Adriano Moreira, Manuel Monteiro, Francisco Lucas Pires, Paulo Portas, José Ribeiro e Castro, Assunção Cristas, podemos concordar ou discordar deles, mas reconhecemos capacidade e qualidade política e, quando comparamos com Francisco Rodrigues dos Santos, estamos a falar de polos completamente antagónicos.
Voltando à pergunta, é um partido pequeno, mas ingovernável?
Longe disso. Vamos ser sérios, quando Francisco Rodrigues dos Santos entra, o resultado que tivemos nas legislativas não foi um resultado brilhante.
Agora, o partido sempre renasceu daquilo que eram maus resultados. Sempre soube renascer, alguém pegar no partido e fazê-lo crescer e com todos, não segregando, não afastando vozes críticas. Ainda há pouco lhe dei o exemplo, Paulo Portas foi um bom exemplo disso.
Seria preciso que Portas regressa-se ao partido para o fazer renascer?
Não, há outras pessoas. Houve disponibilidade de Nuno Melo, que acho que se vai manter mesmo no pós-eleições, que se disponibilizou a ser candidato à liderança do partido. Com Assunção Cristas tivemos 4,2% nas últimas legislativas. A melhor sondagem que Francisco Rodrigues dos Santos tem anda perto dos 2%, portanto, é metade. Isso é preocupante. É preocupante que o partido não tenha proposta política, é preocupante que ao longo destes dois anos o CDS não se tenha conseguido afirmar. E isso tem a ver com razões, não de natureza de idade, mas de natureza de capacidade. Portanto, isto é constatar factos.
Uma das coisas que diz Francisco Rodrigues dos Santos é que destes dois anos que leva de liderança, um ano e meio praticamente não pôde fazer política porque estávamos em pandemia, em confinamento...
E os outros puderam?
Isso todos tiveram. Claro que o contexto da próxima campanha eleitoral, será um contexto que não é de normalidade. Aliás, o senhor primeiro-ministro fez com que nos primeiros 10 dias de janeiro haja pouca ou nenhuma campanha eleitoral.
O contexto é diferente, mas isso não significa que não haja a tal proposta política que explique bem aos portugueses o que é que o CDS tem para apresentar, o que é que traz de valor. E não me venham com aquela conversa que, neste momento, há mais dois partidos. É verdade, há mais concorrência, mas a concorrência estimula o mercado para quem acredita na economia de mercado. Há um espaço para o CDS e que o CDS podia ocupar.
Rui Rio coloca-se ao centro e a olhar muito para a esquerda. Temos um Chega que está encostado à direita e acho que a política não é feita aos berros, é feita de compromissos. E depois, temos uma Iniciativa Liberal que na agenda económica até é muito semelhante com o CDS, mas nos valores está mais próxima do Bloco de Esquerda do que do CDS. Portanto, o CDS tinha ali um espaço de afirmação, com preocupações, designadamente, pelo esmagamento da classe média, em questões de natureza fiscal e de sustentabilidade na segurança social, etc... Portanto, há todo um espaço político que o partido podia ocupar e que, infelizmente, não o tem conseguido fazer e espero que até às eleições o faça.
Esse espaço do CDS já foi de alguma forma tomado, uma parte dele, já nas últimas eleições quer pelo Chega, quer pela Iniciativa Liberal?
Foi tomado. As sondagens apontam nesse sentido, o CDS tinha um espaço e que, a avaliar pelas sondagens, tem vindo a minguar. Mas nas urnas é que vamos ver se esse espaço foi ocupado ou não. Ao nível do que do debate político, o do CDS foi feito exclusivamente no Parlamento. Não fosse o brilhantismo - e deixe-me retirar-me, porque eu só tive apenas uma parte do mandato, não me incluo nisso -, daquilo que foi a intervenção parlamentar, pergunto onde é que estaria o CDS?
O que diferencia o CDS do Chega e da IL, para recuperar votos?
O recuperar só é possível quando temos propostas e ideias para o país. Aliás, o espaço da direita e o CDS devia estar a pensar naquilo que deve ser o modelo de desenvolvimento do país. Conhecemos bem o modelo de desenvolvimento para o país à esquerda, com a geringonça, em que estamos a falar de um modelo de desenvolvimento muito assente na lógica do Estado, daquilo que é a carga fiscal, a lógica dos subsídios e, no plano fiscal, aquilo que é uma autêntica ditadura fiscal que acaba por confiscar às famílias e às empresas a liberdade do seu rendimento.
A direita devia estar a pensar, em contraposição, qual é o modelo de desenvolvimento para o país que quer apresentar. Isso não está a ser feito e devia estar a ser feito, o CDS devia estar com propostas concretas, com uma ideia clara para o país, uma ideia distintiva daquilo que defende Rui Rio, o PSD, a IL ou o Chega. Mas a estratégia desta direção foi tentar colar-se ao PSD numa lógica de ziguezague.
Falando já das próximas eleições, se o resultado for abaixo do que obteve Assunção Cristas, que consequências deve o CDS tirar daí?
A seguir às legislativas, espero que não haja mais nenhuma desculpa para que não seja realizado um congresso, que haja uma clarificação de liderança e que seja reposta a democracia interna.
Pela minha parte, tudo farei para ajudar o meu partido. O meu voto será um voto no CDS. Enquanto presidente da distrital de Lisboa, irei fazer uma proposta à minha própria distrital para que - tendo em conta o caráter excecional e, uma vez que o senhor presidente do partido diz que tem tantos nomes nesta nova estratégia -, que essa quota possa ser alargada, para dez, para doze, para que tenha todas as condições para fazer provar a sua estratégia. Que eu não acredito, sou sincero, não acredito naquilo que tem sido a ação política desta liderança. Nas últimas eleições autárquicas houve saneamentos e purgas, e vamos evitar isso.
Estarei disponível até para ser candidato, posso ser o último lugar da lista. Não quero é que no dia a seguir às eleições, depois de um resultado que não seja positivo, se tente arranjar argumentos de que foi este ou aquele. O espírito é construtivo. Não posso, como é evidente, meter uma mordaça e ignorar tudo aquilo que se passou ao longo destes dois anos e, designadamente, nos últimos dois meses.
Mas pode ser lido como desresponsabilização? Ou seja, o presidente da distrital de Lisboa diz ao líder do partido para escolher os dez dele, porque se depois o resultado for mau foi ele que os escolheu?
Não, não. Se ele não escolher, nós vamos indicar na mesma. Vamos ajudar. Seguramente e darei o exemplo. Mesmo em Lisboa, com base na tal purga das listas (desrespeitando duas decisões: uma da concelhia de Lisboa, tomada por unanimidade, e outra também por parte da Distrital de Lisboa), não foi por causa disso que não ajudei Carlos Moedas. Fiquei muito contente que Moedas pudesse ter ganho e Lisboa está em boas mãos.
Mas também permita-me dizer-lhe que o CDS devia ter reivindicado ter o primeiro lugar da lista à Câmara de Lisboa, e hoje o CDS podia ter o Presidente da Câmara de Lisboa ou a Presidente da Câmara de Lisboa, e não o fez, a meu ver erradamente, porque podia ter hoje essa mesma presidência. Não foi assim. Carlos Moedas é presidente de Câmara, é um bom presidente.
E nas legislativas, se o CDS diminuir ainda mais o número de deputados, o que é que sobra para o partido? Apenas a mudança do líder, a própria sobrevivência?
Não quero estar a ser profeta da desgraça, a preocupação é muita e não é só dos dirigentes do CDS, o cidadão comum tem uma preocupação quando vê um partido fundador da democracia a estar em risco de, pura e simplesmente, desaparecer.
Isso é um risco real, na sua opinião?
Eu acho que efetivamente é, mas eu ando a dizer isto há muito tempo. Eu penso que pode ser um risco real, eu quero acreditar que não e que estou enganado.
Repare, logo a seguir ao congresso, passado um mês ou um mês e meio onde disse e reconheci qualidades a Francisco Rodrigues dos Santos, alertei para a questão da maturidade. E não era a questão da idade, mas de maturidade e um problema de, e hoje em dia posso dizê-lo, também de capacidade e que pensei que, na altura, não existisse. Mas fiz esse alerta. Infelizmente, o tempo veio confirmar as minhas reservas.
A gestão de Francisco Rodrigues dos Santos enquanto Presidente do CDS foi errónea, um ziguezague permanente. É eleito num congresso em que dizia que o CDS não podia ser muleta do PSD, em inícios de 2020. Em fevereiro de 2020, dá uma orientação ao grupo parlamentar para votar ao lado do governo, recordemos, em sede de Orçamento de Estado por causa do IVA da eletricidade, e votámos ao lado do Governo, com este a ameaçar que podíamos ir para eleições e foi o CDS que deu a mão. A seguir, Francisco Rodrigues dos Santos vai encostar-se ao PSD para as eleições regionais nos Açores. Depois disso, nas autárquicas, fica à espera, numa espécie de ato de caridade (como algumas pessoas do PSD vieram dizer) que o PSD desse a mão ao CDS para ter uns lugares.
E Rui Rio a dizer que o PSD estava disponível a seguir às eleições legislativas para um eventual entendimento até com o Partido Socialista e Francisco Rodrigues dos Santos nem uma palavra. No dia em que o PSD vem dizer "não há coligação, não vos dou a mão", Rodrigues dos Santos faz um post a dizer que o voto do CDS não pode ser um voto para o bloco central.
Que interpretação faz do facto do Conselho Nacional do PSD ter arredado o CDS de uma eventual coligação para as legislativas?
Repare, a reflexão que eu faço é que duas pessoas tão contrastantes, como sejam Rui Rio e Paulo Rangel, nenhuma quis Francisco Rodrigues dos Santos e o CDS.
E o que isso significa para o CDS?
O presidente do partido, em grande medida, foi a morte da sua própria estratégia. Apostou, primeiro, numa coligação com o PSD, depois recusou-se a ir a um congresso. A situação revela, lá está, que o problema é da maturidade política.
A decisão do Conselho Nacional do PSD mostra que o PSD está a fazer um esforço para se focar ao centro e não à direita ou mostra a fraqueza do próprio CDS?
Fico com dúvidas se a vontade de Rio era mesmo uma coligação com o CDS ou se era piscar o olho ao eleitorado do CDS.
Mas para o CDS o que seria melhor?
Repare, eu tenho dito que o CDS tem de fazer prova de vida. Um partido, em condições normais, tem que ter as suas propostas, tem que ter os seus candidatos e tem que se apresentar a votos. Isso é o normal.
Aliás, se olharmos para o histórico da nossa democracia, de entendimentos e de coligações pré-eleitorais, só aconteceram duas vezes. E se me perguntar se isso para mim faz sentido, estamos a assistir a um contexto novo e a geringonça foi um contexto completamente novo, portanto, admito que pudesse ser essa a estratégia. Agora, ficar completamente refém e de mão estendida ao PSD, invocando que não se organiza um congresso e que se vai suspender a democracia interna do CDS porque tem de se fazer oposição ao PS e, portanto, todos os nossos esforços têm de ir para aí, não. Onde é que nós vimos e ouvimos Francisco Rodrigues dos Santos tomar alguma posição contra o PS ou contra António Costa?
A primeira declaração que ele faz é contra Rui Rio, não é contra António Costa. Portanto, isto é um ziguezague permanente, e isto no eleitorado, como é evidente, isto confunde as pessoas e na política tem que haver clareza. E, por isso, é que um congresso é tão importante, porque um congresso define a estratégia de um partido, independentemente de legitimar uma liderança, define a estratégia de um partido durante dois anos e essa discussão não houve, infelizmente.
O CDS devia ter-se batido pela coligação com o PSD ou ir sozinho a eleições?
Na minha perspetiva, devia sempre ir sozinho às eleições, aliás, eu fui claro e já o disse internamente há muito tempo. Agora, como é evidente, o CDS de uma forma inteligente não pode dispensar ativos, não deve dar sinais, como deu, que aquilo que se passou em Lisboa, nas últimas autárquicas, vai repetir-se na constituição das listas para as próximas eleições legislativas.
Portanto, eu estou à espera para ver qual é o sinal de integração que Francisco Rodrigues dos Santos vai dar. Disse que ia chamar os ex-presidentes e que ia falar com eles, que ia falar com os alegados críticos - que é um nome que eu odeio, porque o ter uma opinião diferente não significa que tenha de ser crítico -, tudo isso nunca aconteceu. Ainda me lembro de falar num grupo de trabalho, com Lobo Xavier, Pires de Lima, Luís Nobre Guedes, e outros, e depois vieram a público as pessoas dizer que tinham sido convidadas, mas que o grupo de trabalho nunca reuniu. Portanto, a prioridade política, aliás o antagonismo da direção e do seu presidente relativamente ao grupo parlamentar, é absolutamente estranho. É estranho porque parece que não se gosta da política.
Houve, em sentido inverso, algum antagonismo em relação ao presidente do partido?
Nenhum, nenhum. Houve uma total disponibilidade. Se não fosse o grupo parlamentar ter feito a oposição que fez, ter tido as iniciativas políticas que teve e não havia no espaço político CDS.
Repare, muitas vezes falo na Assunção porque, efetivamente, acho que houve aqui uma enorme injustiça, se houve pessoa que fez oposição a António Costa e ao Partido Socialista foi Assunção Cristas. Apresentou três moções de censura. Hoje, repito, o grupo parlamentar que ainda está em funções foi a moeda boa, não tenha a mais pequena dúvida. Se o grupo parlamentar pura e simplesmente tivesse cruzado os braços e ficado à espera, o tal espaço que me falava há pouco que é ocupado por outros já estava completamente ocupado.
Nuno Melo será o líder de que o partido precisa?
Nuno Melo manifestou uma disponibilidade ao partido para ser candidato, eu manifestei o meu apoio e mantenho esse mesmo apoio. É preciso alguém para renascer o partido.
Como é que o CDS vai conseguir neste mês e meio, sendo que pelo meio é Natal e depois há um mini confinamento, fazer passar a mensagem aos eleitores de que vale a pena votar no CDS?
Vamos aguardar. O presidente do partido reservou-se a um confinamento, não profilático, mas calculo que programático. Estou à espera para, e com enorme expectativa, ver as propostas e as ideias que quer apresentar ao país.
Vi uma conferência de imprensa em que disse que tinha 15 ideias, vamos aguardar por essas propostas, um programa em que os eleitores se possam rever. Mas não é só o programa. Tem que haver protagonistas, rostos do CDS. Estamos cá para ajudar a compor as listas, para estar na campanha eleitoral, e é preciso que ele possa apresentar também esses rostos. Estou disponível para dar ideias e para ajudar a construir o programa. E tenho a certeza que Nuno Melo, Cecília Meireles e outros estarão disponíveis para dar ideias porque está aqui em causa o interesse do CDS. Agora é muito importante que os diferentes protagonistas - não eu, que não quero ser deputado, tive muito gosto em sê-lo, mas por razões pessoais não serei novamente -, acreditem que possa vir aí um tempo novo, que possa renascer o partido. E aí, Nuno Melo é aquele que manifestou essa disponibilidade, e é um dos ativos do CDS.
Disse aqui que para as eleições o CDS deve ir sozinho. Mas, num eventual Governo de bloco central, o CDS deve ficar dentro ou fora?
Que posição tomou o CDS e o PSD nos últimos seis anos? Foi de crítica a uma geringonça. Então agora o CDS e o PSD iam substituir o PCP e o BE? Isto faz algum sentido? Não faz sentido absolutamente nenhum.
Devíamos era ter evitado esta crise política. Fui dos primeiros a apoiar o professor Marcelo Rebelo de Sousa para Presidente, e acho que tem tido um papel muito importante para a estabilidade. Mas penso que podia ter feito um esforço adicional. Tendo em conta o contexto pandémico, o Presidente da República devia ter pedido um segundo orçamento ao PS. Porque irmos a eleições no atual contexto não dá as melhores condições para termos uma campanha eleitoral normal.
Fica aqui claro da sua resposta que se houver um bloco central o CDS não deve esquecer uma espécie de humilhação feita pelo PSD e entrar nesse bloco?
Eu estou a dar-lhe a minha opinião. Se, na altura, a liderança for de Francisco Rodrigues dos Santos, eu não sei porque a questão foi colocada por Rui Rio durante várias semanas, manifestando essa disponibilidade, e houve um silêncio.
Só quando o PSD disse que não há coligação é que Francisco Rodrigues dos Santos veio clarificar a sua posição. Mas como há uma política de ziguezague permanente, confesso que não sei. Agora, a minha posição é de que, efetivamente, o problema é não haver alternativa a António Costa. Lembro-me de Rio criticar Assunção Cristas por criticar tanto o primeiro-ministro...
Disse que anda muito na rua e ouve muito as pessoas. Sei que não quer ser catastrofista, mas o que nós todos ouvimos, precisamente, na rua e na opinião pública, e publicada, é que o CDS está à beira de desaparecer com os tais 2% que as sondagens dizem. De que forma é que dirigentes do CDS, como o João e outros, têm também uma quota parte de responsabilidade extra da direção nacional?
No final do dia, como é evidente, no seu conjunto, todos seremos responsáveis. Agora, há responsabilidades diferentes. Há aqueles que alertaram, há aqueles que não suspenderam a democracia, há aqueles que têm alguma qualidade política, estamos a falar de registos diferentes e de responsabilidades diferentes. Farei tudo o que está ao meu alcance para ajudar o CDS. Tenho tentado travar as desfiliações. Quando falo com as pessoas tento dar um sinal de esperança para que não saiam do partido e para que não vão votar noutros partidos. Mas é difícil. É preciso que ajudem.
Então na sua opinião só há um caminho: mudar o líder?
Efetivamente esta direção, e o que tem feito, não tem ajudado. Vamos ver as eleições e o resultado. Mas não vejo, neste momento, outro caminho que não seja o ziguezague constante. E isto não é a minha opinião de hoje. Basta ver também as razões que levaram o Filipe Lobo de Ávila a sair. Começamos a ouvir os diferentes dirigentes, e alguns deles apoiantes de Francisco Rodrigues dos Santos, e o que têm dito ultimamente. Todos defenderam que devia ter existido um congresso. Haverá responsabilidades e cada um terá a sua quota parte.