João Arrais, benjamim do novo cinema português

A produção é portuguesa, de Paulo Branco, os realizadores são dois jovens franceses, Marguerite de Hillerin e Félix Dutilloy-Liégeois. <em>A Criança</em> chegou às salas na última semana e o DN falou com o protagonista, João Arrais.
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No ano do seu suicídio, 1811, o alemão Heinrich von Kleist deixou escritos vários contos. Um deles é Der Findling, por cá publicado na revista Ficções (nº12) com o título O Órfão, numa tradução de José Maria Vieira Mendes. Um texto pouco óbvio que serviu de ponto de partida para A Criança, o filme da "vertigem" existencial de um órfão adotado por um casal franco-português no século XVI.

Em cenário bucólico, esta estreia na realização de Marguerite de Hillerin e Félix Dutilloy-Liégeois mantém o programa trágico do conto de Kleist. Um desígnio que passa pelo rosto dos atores, em particular o de João Arrais: ele chama-se Bela e é o benjamim da história.

Quem é Bela?

O Bela é um jovem que está à procura do seu espaço, da sua identidade, do que é que faz neste mundo... Está a passar aquela fase de jovem adulto em que tenta perceber o que é que a sociedade espera dele.

Conhecia o conto que inspira o filme?

Não. Procurei a tradução portuguesa mas só encontrei em alemão e francês, línguas que não domino.

Em O Órfão, a personagem correspondente a Bela - que se chama Nicolo - não tem muitas semelhanças com ele. Como é que encontrou o referido tom de "indefinição" juvenil?

Em relação ao conto, sabia apenas que a personagem é um pouco "maléfica", ou seja, não é tão gentil como o Bela. Mas quanto a encontrar o tom, foi um trabalho de equipa. Começou comigo e com os realizadores, muito antes, em leituras de guião, essencialmente. Enquanto ator, tenho o privilégio de "fazer o que me mandam" - há uma pessoa que tem uma visão, neste caso, duas pessoas, e eu sou uma personagem guiada por essa visão.

Como é que decorreu esta rodagem, tendo em conta que é a estreia de dois realizadores?

Não houve dificuldades. Eles sabiam exatamente o que queriam, e nesse sentido pareciam quase veteranos naquilo que estavam a fazer. Da minha parte, eu é que senti uma pressão enorme, porque não lhes queria falhar... Obviamente, todos os projetos são importantes, mas o primeiro é sempre especial. E não queria ser eu a estragar tudo! (risos) De resto, como a maior parte da equipa era portuguesa, houve ali um método de produção, uma energia, digamos assim, muito portuguesa. O único pequeno obstáculo foi a barreira linguística, mas falávamos quase todos em inglês. E também por sermos jovens, foi uma rodagem muito divertida e leve. Na verdade, foi uma das melhores rodagens em que já estive.

Citaçãocitacao"Da minha parte, eu é que senti uma pressão enorme, porque não lhes queria falhar... Obviamente, todos os projetos são importantes, mas o primeiro é sempre especial."

Os filmes de época têm sido uma constante no seu percurso, desde que apareceu, ainda adolescente, em Mistérios de Lisboa [2010]. É um tipo de produção onde se sente confortável?

Sim, tenho tido essa sorte. Enfim, cada época é uma época, cada época tem os seus comportamentos, os seus valores, as suas características. Mas sinto-me de facto à vontade, e gosto disto de ter de me vestir de outra maneira, de adotar outros modos de estar... A propósito, tem piada que, houve um dia, na rodagem de uma das cenas de A Criança, que me saiu um "meu" a meio de uma frase! (risos)

A sua colaboração mais longa é com o realizador Carlos Conceição [Coelho Mau, Serpentário]. É para continuar?

O Carlos é dos meus melhores amigos, portanto, ele sabe que, quando precisar de mim, eu estou aqui para ele. Terminámos agora umas coisas, mas penso que ainda não se pode falar disso... Seja como for, sim, acho que é para continuar.

Numa altura em que se fala muito da internacionalização dos atores portugueses, é algo que entra nas suas contas de futuro?

O meu objetivo como ator é entrar em bons projetos - os melhores que estiverem à mão. Se isso significa ir lá para fora, que seja, mas se puder fazer só bons projetos em Portugal, não me chateia nada. Prefiro um excelente projeto aqui a um "mais ou menos" com selo internacional, só por ser internacional.

dnot@dn.pt

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