Joana Vasconcelos mostra 14 novas obras em Bilbau

A artista será a primeira portuguesa a expor a solo no Museu Guggenheim, para o qual trabalha 14 novas obras, em preparação no seu ateliê. A exposição, I"m Your Mirror, que também dá nome a um dos novos trabalhos, inaugura-se a 28 de junho. Depois passará por Serralves e Roterdão
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Num ateliê onde habitualmente trabalham 47 pessoas, contas de Joana Vasconcelos, estão agora cerca de 60. A azáfama tem um nome: I"m Your Mirror, a exposição que a artista inaugura no dia 28 de junho no Museu Guggenheim, em Bilbau, onde vai mostrar 35 obras, 14 delas novas.

É a primeira artista portuguesa a expor no museu basco e quis mostrar o que está a ser preparado, ontem, num encontro com jornalistas no armazém feito ateliê que ocupa na Rua da Cintura do Porto de Lisboa. Explica: "Não é uma retrospetiva, não é uma antológica, mostra uma série de obra minha dentro do espaço do Guggenheim", disse, ao lado dos comissários, Petra Joos, conservadora-chefe do museu espanhol, e Enrique Juncosa, curador.

"Nunca tinha havido uma exposição assim tão grande da Joana, uma artista ainda jovem, mas já com uma carreira de 20 anos", considera Enrique Juncosa. A peça mais antiga é de 1997, justamente o ano em que o Museu Guggenheim, abriu ao público, salienta Petra Joos.

"Escolhemos peças muito significativas da trajetória de Joana Vasconcelos e um leque de obras que documenta as várias formas de trabalho", descreve o comissário, recuando a 2005, quando todos lhe falavam daquela obras feita de milhares de tampões, A Noiva, apresenta- da na Bienal de Veneza, a primeira com curadoria de duas mulheres, María de Corral e Rosa Martinez, espanholas, por coincidência.

Juncosa compara Joana Vasconcelos a Marcel Duchamp e Jeff Koons. O francês criou o ready-made, Koons escolhe objetos pela sua conotação. "Como Joana Vasconcelos. A Joana aproxima-se pela conotação, tem humor, mas não a ironia. E os artistas da geração da Joana estão interessados na participação do espectador. No século XX, os artistas só estavam interessados na forma, mas a Joana está interessada no significado, interessada em identidade - sexual, nacional, de género...", precisa Enrique Juncosa.

Joana Vasconcelos, que diz não pensar na sua obra assim, concorda e explica a importância de uma exposição como a que vai fazer no Guggenheim, um museu que recebe 1,2 milhões de visitantes por ano. "Eu faço 22 exposições por ano, já trabalho há 20 anos, portanto já fiz muitas peças, coisas grandes, coisas que nem tanto, coletivas, individuais, sítios estranhos, casas abandonadas... A partir de certa altura, isto torna-se o teu modo de vida e de estar. E é. Mas há sempre aquela vontade de um novo desafio", explicou ontem a artista. "O que é que ainda há para aprender mais, para evoluir? Conhecer novos comissários, pessoas que olham de outra maneira para a tua obra é uma maneira. A outra maneira é ter novos desafios em termos de espaço. Quando nos é dado um espaço incrível e pessoas que pensam a obra de outra maneira e obrigam a sair da rotina, do espaço de conforto e enfrentar a obra, é o que me está a acontecer no Guggenheim."

Prossegue o curador, a propósito da exposição: "Também queríamos trabalhar a arquitetura do lugar e incorporar esculturas públicas, que também é uma parte importante do seu trabalho". É justamente no exterior do museu de Frank Gehry que Joana Vasconcelos, 46 anos, vai mostrar O Solitário, um anel feito de jantes de carros, 112, e um "diamante" de 324 copos de cristal que pesa três toneladas. Pop Galo, que esteve na Ribeira das Naus, em Lisboa, também segue para o jardim. Os azulejos, produção Viúva Lamego, encontram-se em processo de restauro na oficina do museu.

Entre empilhadores, ferramentas, máquinas, sobressai metade da estrutura de uma das peças que Joana Vasconcelos vai apresentar pela primeira vez na cidade espanhola - uma máscara de ferro, de 2,5 toneladas, forrada de espelhos em bronze, 462 deles. "A máscara embeleza e esconde, mas também nos faz olhar para nós. Qual é a personalidade que estou a refletir?", lança a artista. Chama-se I"m Your Mirror, conjugação no presente da canção I"ll be Your Mirror, escrita por Lou Reed para os Velvet Underground e cantada por Nico, e mote para o título da exposição.

Artista e comissários decidiram mostrar as obras em diálogo, sem barreiras arquitetónicas no museu. Para o átrio central, está a ser preparada uma nova versão de Valquíria, estes corpos de lã que se infiltram no espaço que Joana Vasconcelos já mostrou no Palácio de Versalhes, no Palácio da Ajuda, na Dinamarca, em Macau, construídas de propósito para cada um dos locais onde vai ser mostrada.

"É uma peça que parece muito orgânica, mas que é muito técnica", explica, deambulando pelos vários departamentos do ateliê. Uma peça como Valquíria exige os cálculos dos engenheiros, o desenhos dos arquitetos e que a equipa de produção encontre todos os materiais, antes de chegar às mãos dos artesãos, numa sala repleta de caixinhas de pedras e lantejoulas, passamanaria, tecidos... Ao centro, no chão, "a nossa mesa de trabalho", espalham-se partes da Valquíria. Há dois meses que trabalham a peça. É também a que demora mais tempo a montar. "Demoramos o mesmo tempo com esta peça do que com o resto da exposição toda". Dez, doze dias antecipa a chefe de produção.

Depois de Bilbau, a exposição entra em itinerância. Guggenheim e Serralves negoceiam a a vinda da exposição ao Porto em 2019. Segue-se Roterdão.

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