Já foram encontrados 136 corpos em Petrópolis. Buscas continuam

Defesa Civil voltou a acionar as sirenes em Petrópolis no final do dia de sexta-feira devido ao risco de chuvas fortes.
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A busca por desaparecidos após os deslizamentos mortais continuou esta sexta-feira na cidade de Petrópolis, que continuava em alerta para chuvas cinco dias depois do temporal histórico que deixou pelo menos 136 mortos.

As autoridades da cidade brasileira do Esatdo do Rio de Janeiro, onde a sirenes voltaram a soar à tarde devido ao risco de chuvas fortes, continuavam a trabalhar a toque de caixa para localizar vítimas entre os escombros e desobstruir ruas asfaltadas que ficaram completamente cobertas pela lama.

"É difícil depois de tanto tempo conseguir" encontrar alguém com vida, admitiu o prefeito de Petrópolis, Rubens Bomtempo, durante uma conferência de imprensa na noite de sexta-feira, mais de 72 horas depois da tragédia provocada por chuvas torrenciais concentradas numa região montanhosa com construções precárias.

Durante a manhã, no regresso da sua viagem à Rússia e à Hungria, o presidente Jair Bolsonaro sobrevoou a cidade e visitou brevemente a área devastada.

"Vimos uma intensa destruição, uma imagem quase de guerra", disse Bolsonaro, que se defendeu das críticas provocadas pelos deslizamentos.

"Nós não temos como nos precaver de tudo o que possa acontecer nesses 8,5 milhões de quilómetros quadrados [extensão territorial do Brasil]. A população logicamente tem razão em criticar, mas esta é uma região bastante acidentada. Infelizmente tivemos aqui outras tragédias. Vamos fazer a nossa parte", acrescentou.

Juntamente com a Prefeitura, grupos de voluntários articulavam campanhas de donativos para os sobreviventes da tragédia, mas que perderam tudo.

Depois de ajudar quem tinha ficado preso sob os escombros, "vimos que precisavam de um outro tipo de apoio", contou à AFP Daniel Vasconcellos, um jovem advogado que, no meio de uma avalanche de donativos, empenha-se em fazer chegar aos moradores os artigos de que realmente precisam, como roupas íntimas, água potável e biberões.

"Às vezes levamos um donativo para um determinado lugar (onde não precisam) e a pessoa acaba por deitá-lo fora. Batemos à porta e perguntamos, 'O que é que precisa?'. Se não temos, vamos ao supermercado comprar", explica.

No Morro da Oficina, no bairro Alto da Serra, cerca de 80 casas foram soterradas pela força das enxurradas de lama que arrastaram carros, autocarros com passageiros e tudo mais pelo caminho.

"Podem estar mais de 50 pessoas aqui em baixo, desde terça-feira já foram retirados 98" corpos, contou à AFP Roberto Amaral, coordenador do grupo especializado em desastres naturais do Corpo de Bombeiros Civis, enquanto efetivos e voluntários retiravam escombros e cavavam a lama com pás e enxadas em busca de algum sinal de vida.

À medida que as horas passam, vão diminuindo as esperanças de encontrar sobreviventes e a tragédia produz números a cada dia mais dramáticos.

Por enquanto há 136 mortos confirmados, 24 resgatados com vida e 967 deslocados, enquanto o número de desaparecidos é confuso por causa dos poucos corpos identificados, que a Agência Brasil contabilizou em 57 nesta sexta-feira.

A Polícia Civil registava 218 desaparecidos, mas não deixou claro se esta lista poderia incluir nomes de mortos ainda por identificar ou de pessoas que já foram localizadas pelos seus familiares.

"Toda a gente está com muito medo. Qualquer barulho assusta. Toda a cidade está assim. É apavorante", disse à AFP Antenor Alves de Alcântara, um reformado de 67 anos, que se mudou com seus familiares para a colina mais próxima. "É bom o presidente visitar-nos, mas não vai mudar nada", acrescentou.

O Papa Francisco expressou "suas condolências" e compartilhou "a dor de todos os enlutados, ou despojados de seus haveres", num telegrama em português enviado ao bispo de Petrópolis, Gregório Paixão Neto.

O governo federal anunciou o desbloqueio de uma ajuda de 2,3 milhões de reais (cerca de 395 mil euros), enquanto o Ministério do Desenvolvimento Regional informou que vai disponibilizar novas verbas nos próximos dias.

Especialistas afirmam que esta tragédia é consequência de uma combinação de fatores, entre eles uma chuva de seis horas maior que a média histórica de todo mês de fevereiro, a topografia da região e a existência de grandes bairros com casas precárias, muitas delas construídas de forma ilegal, em áreas de risco íngremes.

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