Israel teme "onda de terrorismo" após três ataques numa semana
O primeiro-ministro israelita, Naftali Bennett, disse ontem que o país está a enfrentar "uma nova onda de terrorismo", depois de 11 pessoas terem sido mortas em três ataques no espaço de uma semana em Israel. Os dois primeiros foram reivindicados pelo Estado Islâmico. O terceiro foi da autoria de um palestiniano. Segundo a imprensa israelita, é o maior número de vítimas mortais numa semana desde a Segunda Intifada (2000-2005) e o primeiro grande desafio de segurança desde que Bennett chegou ao poder, em junho de 2021.
"Depois de um período de calma, há uma erupção violenta por aqueles que nos querem destruir, aqueles que nos querem magoar a qualquer preço, cujo ódio aos judeus, ao Estado de Israel, os leva a cometer loucuras", disse ontem o primeiro-ministro num vídeo divulgado antes do funeral das vítimas do último ataque, na terça-feira à noite. O dedo é apontado a extremistas, incitados pelos islamitas do Hamas. Bennett, atualmente em isolamento por ter covid-19, está à frente de uma coligação de governo que inclui desde partidos nacionalistas até árabes.
Israel elevou entretanto o nível de alerta no país, preparando-se para uma série de cenários após os ataques. É o nível mais alto desde o confronto com o Hamas, na Faixa de Gaza, em maio de 2021. O confronto de 11 dias resultou na morte de 256 pessoas do lado palestiniano (incluindo 66 crianças) e de 13 do lado israelita (entre elas duas crianças). A violência começou nos protestos após uma decisão do Supremo Tribunal de Israel de despejar seis famílias palestinianas de um bairro de Jerusalém Oriental. Seguiram-se bombardeamentos israelitas e ataques com rockets do Hamas. O Egito acabaria por mediar um cessar-fogo, que entrou em vigor a 21 de maio.
"Uma paz permanente, compreensível e justa é o caminho mais rápido para garantir segurança e estabilidade para os povos palestiniano e israelita e para os povos da região", disse o presidente da Autoridade Palestiniana, Mahmud Abbas, condenando o último ataque. "O assassinato de civis palestinianos e israelitas só agrava a situação, quando nos esforçamos para conseguir a estabilidade, especialmente quando nos aproximamos do mês sagrado do Ramadão e dos feriados cristãos e judaicos", acrescentou, alertando para o risco de os ataques serem usados como justificação para mais violência contra os palestinianos.
Abbas não tem sido visto como um parceiro aceitável para negociações de paz, controlando apenas a Cisjordânia, enquanto a Faixa de Gaza está nas mãos do Hamas - que congratulou-se com os ataques dos últimos dias. Israel tem procurado, com o apoio da administração norte-americana, retirar importância ao conflito israelo-palestiniano, apostando por melhorar a economia palestiniana e reduzir os focos de tensão. O foco tem sido no grande inimigo - o Irão - e no estabelecimento de relações com os países árabes.
Um dos ataques coincidiu com a realização da Cimeira do Negev com os chefes da diplomacia de quatro países árabes que têm relações com Israel: o Egito (já desde a década de 1980), os Emirados Árabes Unidos, o Bahrein e Marrocos, ao abrigo dos Acordos de Abraão negociados com o apoio dos EUA em 2020. Houve quem relacionasse os ataques à cimeira.
"Esse foi o pretexto usado pelos terroristas. Contudo, a Cimeira do Negev é a melhor resposta ao terrorismo. Esta última semana mostrou-nos, uma vez mais, que o Médio Oriente está dividido entre aqueles que buscam a paz e prosperam e aqueles que querem continuar com a violência e a destruição. Israel irá escolher sempre o caminho da paz, mas fá-lo-emos enquanto lutamos, com todas as nossas forças, contra aqueles que promovem o terrorismo e a instabilidade na nossa região", disse ao DN o embaixador israelita em Portugal, Dor Shapira, que ajudou a negociar os Acordos de Abraão.
Questionado sobre se os acordos estão a dar frutos, disse que sim, citando desde a balança comercial entre Israel e esses países aos números do turismo, lembrando os mais de 50 acordos que foram assinados no último ano nas áreas da ciência, tecnologia, defesa, cultura e muito mais. "E quem sonharia há dois anos que ministros dos Negócios Estrangeiros de quatro países árabes se sentariam a uma mesa em Israel para discutirmos todos unidos futuras cooperações?", questionou, convidando mais países a juntarem-se aos acordos. Sobre os ataques dos últimos dias, disse que estão a ser investigados, deixando claro que "Israel irá sempre combater qualquer tipo de terrorismo e extremismo".
Beersheba, 22 de março
Um homem, identificado mais tarde como um beduíno que no passado tinha sido condenado por tentar juntar-se ao Estado Islâmico, atacou à facada várias pessoas e atropelou uma outra na cidade de Beersheba, no sul de Israel. Quatro pessoas morreram: um homem de 67 anos, duas mulheres, uma de 43 e outra de 49 anos, ambas com três filhos, e um rabino. O atacante, Mohammed Abu al-Kiyan, um professor na casa dos 30 anos, foi morto a tiro por locais. Em 2015, Israel prendeu seis beduínos, entre eles quatro professores, por alegado apoio ao Estado Islâmico. Os beduínos fazem parte dos 20% da minoria árabe no país.
Hadera, 27 de março
Dois polícias de 19 anos foram mortos a tiro e outras cinco pessoas ficaram feridas numa rua de Hadera, no norte de Israel, num ataque no domingo, reivindicado pelo Estado Islâmico. Os dois atacantes, árabes israelitas identificados como operadores locais do grupo terrorista, foram mortos por agentes de contraterrorismo que estavam num restaurante nas imediações. Este foi o primeiro ataque reivindicado pelo grupo em Israel desde 2017 e decorreu numa altura em que os chefes da diplomacia de quatro países árabes se reuniam com o homólogo israelita e o norte-americano numa cimeira no deserto do Negev. Cinco pessoas foram detidas depois da investigação.
Telavive, 29 de março
Um palestiniano de 27 anos da Cisjordânia, que foi identificado como Diaa Hamarshah e terá estado quatro anos na prisão, matou a tiro cinco pessoas em Bnei Brak, um subúrbio ultraortodoxo de Telavive. Entre as vítimas mortais há um agente da polícia cristão árabe, um dos primeiros que confrontou o atacante, e dois trabalhadores da construção civil ucranianos, de 32 e 23 anos, que estavam sentados no exterior de um café. Ambos viviam há vários anos em Israel e não fazem parte dos mais de 20 mil refugiados que entraram depois da invasão russa. As outras duas vítimas eram ultraortodoxos. O atacante, que estava armado com uma M-16, foi morto pelas autoridades. Pelo menos cinco pessoas foram entretanto presas.