Irão vai ultrapassar stocks autorizados de urânio enriquecido
Um porta-voz da agência atómica iraniana confirmou, nesta segunda-feira, que o país irá ultrapassar, "dentro de dez dias", o limite de 300 quilos de reservas de urânio pouco enriquecido (LEU) que o país está obrigado a cumprir no âmbito do acordo nuclear. Behrouz Kamalvandi, que falava numa conferência de imprensa, citada pela Reuters, no reator de água pesada de Arak.
O responsável governamental acrescentou que o país irá também acelerar o nível de enriquecimento de urânio para os 3,7% - uma percentagem que ainda não permite o fabrico de armas nucleares mas que já excede o limite de 3,67% igualmente estabelecido nos acordos internacionais.
Kamalvandi responsabilizou o Ocidente, em particular os Estados Unidos, pela decisão, lembrando que Donald Trump retirou a América do acordo nuclear em maio do ano passado, recuperando também parte das sanções que entretanto tinham sido levantadas.
"Se o Irão sentir que as sanções foram reestabelecidas ou não levantadas tem o direito de, em parte ou na totalidade, suspender os seus compromissos", defendeu. Ainda assim, acrescentou, os países da União Europeia poderão ainda salvar o acordo, desde que "honrem os seus compromissos".
De acordo com a CNN, mesmo que o Irão não pretendesse exceder as quotas de urânio acordadas, o facto de os Estados Unidos se terem retirado do acordo nuclear dificulta o seu cumprimento, já que Teerão estava autorizado a exportar o excesso de urânio e água pesada (que contém átomos mais pesados de hidrogénio, conhecidos por deutérios), o que torna bastante mais difícil esta exportação.
A alternativa seria parar por completo a produção, o que terá acontecido algumas vezes no passado.
As relações entre Washington e Teerão atravessam um momento particularmente tenso, que conheceu um novo capítulo na quinta-feira passada quando dois petroleiros foram atacados no Golfo de Omã, com os Estados Unidos e a Arábia Saudita a culparem o Irão, que negou todas as acusações.
O incidente aconteceu durante uma visita ao país do primeiro-ministro japonês, Shinzo Abe, que tem tentado mediar o conflito entre os Estados Unidos e o Irão, e foi descrito por Teerão como um ato de sabotagem destinado a minar as conversações, já que os petroleiros em causa teriam ligações ao Japão.