A partir de um de julho um grupo de 15 inspetores do Serviço de Estrangeiros e Fronteiras (SEF) vai estar preparado para transitar para a Polícia Judiciária (PJ), constituindo a vanguarda do total de 600 que integrará os quadros da Judiciária a partir de 29 de outubro próximo..É o que decorre de um despacho assinado pelo diretor nacional do SEF, a que o DN teve acesso, segundo o qual "tendo em vista a implementação do protocolo de cooperação entre o SEF e a PJ, procedeu-se ao convite para reforço da Direção Central de Investigação (DCINV) com até 15 inspetores por 60 dias", escreve Fernando Silva, apresentando a lista nominal dos inspetores selecionados..Na prática, explicaram ao DN fontes da PJ e do SEF, este reforço da DCINV significa que nos próximos dias este primeiro grupo vai assumir funções na Unidade Nacional de Contraterrorismo (UNCT) da PJ, que é quem tem competências para a investigação de crimes relacionados com auxílio à imigração ilegal e tráfico de seres humanos..Em entrevista ao DN, em abril passado, a diretora da UNCT, Manuela Santos, tinha revelado que a PJ tinha a trabalhar nesta área da imigração cerca de 30 inspetores, na UNCT e nas secções regionais..Nesta altura, a dirigente dizia ter "120 investigações a nível nacional sobre tráfico de seres humanos, com centenas de vítimas" e admitia que já se sentia "um aumento" dos processos, decorrente do facto do Ministério Público ter começado a delegar este tipo de inquéritos à PJ.."Nota-se um aumento das situações - entraram 37 inquéritos em 2022 [uma média de mais 15 que em anos anteriores]", afirmou Manuela Santos. Sublinhou ainda que, com a extinção do SEF, a PJ não pode deixar de caminhar no sentido de criar uma "unidade específica para estas matérias relacionadas com a imigração"..Mas um mês mais tarde, o Expresso noticiava que a UNCT iria receber, pelo menos 500 dos 800 inquéritos criminais que estavam em processo de investigação no SEF..Contava este jornal, citando uma fonte judicial, que "mesmo antes de chegarem" estes inquéritos "são já considerados internamente "um fardo demasiado pesado" face à escassez de meios humanos para lhes dar avanço, porque se vão juntar aos "muitos outros inquéritos sobre imigração" que o departamento foi recebendo desde que o Governo anunciou o desmantelamento do SEF, salienta uma fonte judicial..Em causa estão, principalmente investigações que envolvem falsificação e contrafação de documentos, casamentos de conveniência, auxílio à imigração ilegal e tráfico de seres humanos..Nesta sexta-feira, o maior sindicato do SEF (Sindicato da Carreira de Fiscalização Investigação - SCIF-SEF) organizou aquela que é a sua última conferência, pelo menos enquanto estrutura representativa dessa polícia, subordinado ao tema "A nova arquitetura do Sistema de Segurança Interna, pós reafetação das competências do SEF"..Acácio Pereira, o presidente, anunciou a sua despedida e, sublinhando que o seu sindicato tudo fez "para demonstrar que o interesse nacional ficaria melhor defendido com SEF, do que sem SEF", o facto é que "o importante é garantir que a imigração se faz em segurança, que as vítimas são protegidas, que os criminosos são perseguidos e combatidos. Parafraseando o saudoso Presidente Jorge Sampaio, há mais vida para além da extinção do SEF!"..Na abertura da conferência, o ministro José Luís Carneiro, exibiu o seu otimismo com a extinção do SEF, considerando que o SSI vai ficar "ainda mais seguro" e as condições para acolher imigrantes vão ser mais "adequadas"..Em representação da ministra da Justiça, o diretor nacional da PJ, Luís Neves, assinalou que a sua polícia vai ficar "mais forte e robustecida" com a integração dos cerca de 600 inspetores do SEF, revelando que a PJ "nunca tinha apostado definitivamente na investigação" dos crimes de tráfico de seres humanos e imigração ilegal porque "não tinha acesso às bases de dados" do SEF..Segundo confirmou depois o secretário-geral do SSI, Paulo Vizeu Pinheiro, presente também na iniciativa do SCIF-SEF, a PJ vai ter agora acesso a todas bases de dados policiais, que ficam no SSI, coordenadas pela nova Unidade de Coordenação de Fronteiras e Estrangeiros (UCFE), uma espécie de "mini-SEF", conforme o DN já tinha noticiado, sob sua tutela..Muito mais céticos no otimismo foram os representantes dos partidos da oposição que fecharam a conferência, que deixaram isolados os deputados Susana Amador, do PS, e Pedro Filipe Soares, do BE. Da esquerda, desde António Filipe, do PCP, à direita, com Nuno Magalhães, do CDS, passando por André Coelho Lima, do PSD, as críticas à reestruturação do SEF subiram se tom.."Do nosso ponto de vista a reestruturação não implicaria a extinção. A extinção do SEF só teve a ver com uma desgraça (morte de Ihor Homeniuk), com o facto de o então ministro (Eduardo Cabrita) ter reagido mal e tardiamente e de ter feito uma fuga para a frente para salvar a pele", sintetizou o comunista..O centrista, que já tutelou o SEF, enquanto secretário de Estado da Administração Interna, também discorda com a "causa" que levou à extinção, com a "forma errada, tendo sido tratada em gabinetes, de cima para baixo, sem conquistar as pessoas", com o "contexto, numa altura em que se vive uma das maiores crises militares na Europa e os fluxos migratórios estão a crescer"..Por sua vez, o social-democrata, frisou o paradoxo que decorre dos elogios do governo ao SEF. "Não podemos dizer que o SEF é extraordinário e depois destrui-lo". Deixou, ainda assim, um elogio à decisão que, ainda que tendo sido tomada "já no fim do processo, na 25ª hora", permite dar "alguma coerência" e evitar a total "atomização irresponsável" do SEF, que é a criação da UCFE no SSI..Quando o painel parecia ter terminado, o diretor da PJ, Luís Neves, que acompanhava na primeira fila, levantou-se e anunciou que ia "furar o protocolo"..Neves, que já tinha andado pela audiência a falar pessoalmente com vários inspetores, pegou no microfone e agradeceu "a carta de confiança" que recebeu "de todos". "Há uma decisão e vamos todos juntos defender os interesses superiores do país. Olho para as vossas caras e digo que ninguém gosta de perder a sua camisola mas vão vestir a camisola da justiça, da investigação criminal. Precisamos de todos vós. Somos todos polícias. Estou ansioso para que possam passar este período longo de incerteza e que todos juntos fortalecemos o interesse público"..Depois da conferência encerrada, Luís Neves ainda ficou longos momentos à conversa com vários inspetores, que o foram rodeando. Falou do futuro, das garantias, da vontade em que se sintam "em casa"..Nuno Magalhães já tinha dito, na sua intervenção: "É uma sorte ter o Dr. Luís Neves na PJ".